sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Não é amor.

Imagem: we heart it

Meio tonta de sono, no meio da noite, tateio em sua procura – você está lá. Meio tonta de sono, sorrio boba, chego mais perto, pertinho.
Meio tonto de sono, você me abraça, me beija, adormece. Está comigo, fica comigo, pra sempre assim.
De manhã, cheiro de café, cheiro de amor invade tudo. Amor? Parece tão pouco chamar de amor. Eu te amo, você me ama, e o que vai além? Impossível explicar, entender, nomear.
Não pode ser chamado só de amor o que sinto quanto te vejo chegando, sinto o cheiro de cigarro que tanto detesto misturando com o cheiro do perfume que tanto amo, não é só amor quando você sorri pra mim, me abraça, me beija. É mais que amor.
Vai além, muito além. Você me faz falta durante a semana, baby. Fim de semana parece tão curto quando vejo você. Não me olha assim, não me beija assim, que eu acredito em tudo. Acredito em conto-de-fadas contemporâneo, acredito no pra sempre que você me diz, seja quanto tempo dure esse pra sempre.
Não é amor.
Não tem explicação.
É só...
é.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

(...)

Imagem: http://weheartit.com




Ela era dos domingos chuvosos. Tão cinza quanto.
Adorava palavras complicadas. Amava filmes de Almodóvar e Godard, mesmo sem ter visto nenhum.
Fuma um cigarro ás vezes, só pra fazer drama. Vestia seus sapatos vermelhos, ou então aquele preto com o salto fino de prazer, e tão logo se sentia mais sexy do mundo, ainda que de camisola.
Amava, se entregava, chorava, amava de novo para-sempre-por-um-dia.
Ela era dos domingos chuvosos. Batom vermelho. Blues. Abraçados na cama.
Mas logo vinha segunda-feira.
E uniforme. Bom dia senhor, como vai? Sorriso de plástico.
Mas lá escondidinha, tinha um sorriso sexy. Pois domingo nunca tarda.




Escrito em um momento de saudades suas. Ao som de BB King.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sofá velho.

Foto: Cristina de Souza. http://flickr.com/photos/criispi


E chegou a hora de jogar fora o sofá velho. Ficou sentada nele, durante horas sem saber o que falar – era confortável ainda, pelo menos para ela- mas estava já meio rasgado, meio furado, mas ainda era o sofá dela.
Deixaria abandonado na porta de sua casa, ao relento, para que outro quem sabe soubesse fazer do sofá velho algo novo? Não, sentiu ciúmes. Quem sabe talvez largasse em alguma loja de sofás, alguma loja de bugigangas, até quem sabe restaurasse o tal sofá? Não, não serviria mais. Não se restaura um sofá velho, porque mesmo com aparência de novo todas as histórias velhas, todos as pipocas que acompanhavam os filmes, todas as moedas perdidas, todas as dores-nas-costas ou lágrimas escorridas estariam escondidas dentro do estofamento do sofá velho.
Se ao menos tivesse um porão ou um sótão ou um espaço poderia esconder o sofá velho ali, e quando sentisse saudades do seu cheiro único, das suas estampas desbotadas e das risadas que já tinha deixado por ali, era só matar as saudades. Mas, se assim fosse, temia nunca se acostumar com o sofá novo. Sofá novo. Era tão estranho! Sentiria falta.
Decidiu pedir para alguém pegar seu sofá velho. Alguém por aí, não queria saber o destino, o que iria ser feito, queria apenas que ele não tivesse mais ali no meio de sua sala, mostrando que já fora adequado aquela vida, mas que já estava démodé demais.
Deitou no sofá novo. Este estava meio tímido ainda, colorido demais, certinho demais. Saudades repentina, céus.
O sofá velho. O sofá novo. Era estranho, mas tudo ficaria no lugar, agora.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Até quem sabe.

imagem: http://weheartit.com

“... Até um dia, até talvez, até quem sabe. Até você, sem fantasia, sem mais saudade.”

E agora dizemos adeus. Por Deus, como é difícil, é como uma bossa nova triste.
Nos olhamos, olho pra ti, sempre foi tão profundamente, quem pode entender o que o amor nos faz?

“Agora a gente, tão de repente, nem mais se entende, nem mais pretende”

Quanto tempo faz? Semanas talvez. Quanto tempo fará? É duro viver uma meia vida sem você. Mas tudo que fomos, passou, a gente agora não somos mais. Tomo um café, fico calada. É triste, ouço bossa nova, canto bossa velha.

“Seguir fingindo, seguir seguindo, agora vou pra onde for, sem mais você”

Não que não sinta sua falta. Será que sentes a minha? A pior dor já passou. Coloco um sorriso fingido no rosto quando me falam de você. Ensaio mil maneira de dizer ‘é mesmo? Que bom’ sem parecer que desesperadamente sinto a sua falta. Mas estou bem, estou indo.

“Sem me querer, sem mesmo ser, sem me entender, vou me esquecer”

Pra te esquecer, não posso mais lembrar de mim. Lembranças estão em todos os lugares, mas olho pra elas com um olhar de desprezo, que elas me devolvem. Quase te liguei, mas jurei pra mim que tinha esquecido teu número. Escuto Nara Leão nesse momento.

“Vou me perder pela cidade, até um dia, até talvez,até quem sabe”

Entendo o recado. Até, amor, quem sabe.

Trechos da música Até quem sabe, de Nara Leão.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

I really want u,

imagem: http://weheartit.com

...minha insensatez. Minha falta de razão ou a razão demais me fazem te querer todo dia todo dia o dia todo, com todos os clichês como sussurro ao pé do ouvido, eu te amo no meio da noite, olhares e silêncio. Eu realmente, realmente quero você, com todos os defeitos e chatices e manias, quero todas manhãs, quero em todas as canções.
Quero mãos dadas no escuro do cinema e aquele frio que percorre toda espinha, porque sabemos que somos um do outro ali no escuro do cinema de mãos dadas, porque eu te amo não se diz só com palavras, sabemos que.
De bermudas e sem camisa, fazendo o almoço as três horas da tarde em um domingo, dando qualquer desculpas por ter queimado o arroz colocando a culpa em mim por estar linda e distraí-lo, ainda que eu estivesse descabela e com a roupa mais velha – sua roupa. I really want you.
Por inteiro, sem meios. Te quero imperfeito, com medos, com dúvidas, com a cara de sono e com o arroz queimado. Aos domingos, nas sextas, nas segundas cheias de tédio.
I really want you. 


ao som de James Blunt.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Careta.

Imagem: http://weheartit.com

É que sou careta. Digo que sou moderna, in, faço cara de I don’t care e fumo um cigarro, tomo um café forte.
Mas no fundo sou careta. Digo que quero ter uma carreira de sucesso, morar em um apartamento – ou flat, que soa mais bonito- ter um cachorro e alguns casos por aí.
Mas lá no fundo, no fundinho, sou careta. Acredito no amor, em andar de mãos dadas no shopping, em ter uma casinha com cerca branca, penso nos nomes dos nossos filhos, é filhos – um casal – coloco seu sobrenome ao lado do meu para ver se combina.
Sinto frio na barriga, quero palavras doces sussurradas no pé do ouvido, quero que você me olhe e diga baixinho, quase sem fala, que me ama.
Quem não é careta?
Porque ficar deitado um do lado do outro, somente se olhando, contigo passando a mão no meu cabelo e eu segurando a sua mão como se fosse me perder se soltasse é bom.
Porque ficar horas no telefone e depois não querer desligar – quer coisa mais careta? – e sentir aquela saudades logo depois de te ver é bom.
Já fingi não ser careta. Já ri desdenhosamente quando alguém falava de amor, já espalhei a quatro ventos que paixão não existe.
Mas, como diria Cazuza: ‘ O amor é o ridículo da vida’.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Juventude Transviada

Imagem: Google


Bom seria se estivesse falando de James Dean. James quem?
Pois é. Pergunte a essa juventude transviada de hoje sobre James Dean. Elvis, Cazuza, Elis Regina, até mesmo Chico Buarque ou Los Hermanos. Los Hermanos? Ah, essa é fácil. Aquele do Ana Júlia. NÃÃÃÃO!
Pegue sua calça colorida, coloque um tênis com a maior quantidade de cores que conseguir juntar nele e se junte a família da primeira banda de pessoas bonitinhas que você encontrar. Xingue muito no twitter, ache tudo uma ‘puta falta de sacanagem’.
Ah, que saudades do tempo (do tempo que não vivi) em que as pessoas saiam para tomar um Milk shake, ouvir uma boa música, se divertir com os amigos. Da época que se tirava foto para recordar algo bom, e não para se promover no Orkut, facebook, myspace, [insira a rede social da moda aqui].
Saudades da época que as pessoas gostavam das bandas pelo som que ela produziam, não pelas calças que vestiam.
Tudo bem, já fui adolescente também. Fui fã, muito fã de backstreet boys – é. Mas, em contra-partida ouvia muito Beatles também. Ouvia Bee gees, jovem guarda até. Por culpa do meu pai – agradeço por isso – sempre ouvi músicas antigas, e boas.
Sempre li muito, e quando eu falo ler não me refiro somente a leituras do tipo vampiros que brilham – muito embora tenha lido também. Falo de Clarice, Caio, Drummond, Shakespeare. Também Meg Cabot, JK. Rowlling, por que não?
Como, e como gostaria que os jovens de hoje em dia tivessem mais essência, personalidade. Óbvio, estou generalizando aqui a minha revolta. Sei que muitos se salvam, e fico feliz toda vez que eu visito um blog e leio textos incríveis, fico muito contente quando olho as fotos das pessoas no flickr ou quando vou em uma livraria e vejo lá adolescentes lendo, discutindo, buscando conhecimento.
E também tenho meus momentos de futilidade, gosto de calças coloridas e ouço algumas dessas bandas bonitinhas-desafinadas também. Mas isso, é minha exceção, meu acaso, não minha regra.

Precisava desabafar, após ouvir as futilidades de um grupo de adolescentes hoje. Espero que ninguém se ofenda. Obrigada :)

Obs. Estive sumida por um tempo, estava mergulhada no meu novo vício, o flickr. Adoraria visitas.
Obs 2. Logo respondo os comentários.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Do fim.


 imagem: http://weheartit.com

É que eu não superei tudo ainda. Está na música que ouço, no incenso queimando devagar, no frio que arrepia minha pele – o frio, ao invés de você- está na sua xícara em cima do meu criado mudo, está no cheiro da sua camiseta abandonada, nos cigarros que eu nem fumo, mas que estão guardados em cima da minha estante.
E eu sei, sei que vai passar, alguém vai surgir mais pra frente, nem que esse alguém seja solidão, solidão boa e amiga, porque nem sempre solidão é ruim.
Mas ainda está aqui. Ainda distraidamente procuro a tua mão no banco do carona do carro. Procuro teu corpo quente no meio da noite, espero meu café no meio da manhã.
Não quero voltar – pra que estragar algo que foi tão bonito um dia? Bom seria se pudéssemos rebobinar a fita e quem sabe achar o começo do fim de tudo.
Ou, quem sabe, seja esse fim o começo de tudo. Um novo começo pra mim, um novo começo pra ti, ainda que não haja nós no meio disso tudo.
O que me resta, no entanto é sentir saudades do que fomos.
É que eu não superei tudo ainda. Mas vai passar. E um dia lembrarei de tudo apenas com uma saudades gostosa, não mais com amor.
Mas por enquanto, deixa eu te viver no que restou dentro de mim.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aos 32 30.


 imagem:http://gettyimages.com.br

Linda, bem sucedida, um bom carro, sempre na moda. Confiante, falando no celular, palavras difíceis, alguma expressão e, inglês, anyway.
Algum namorado, nada de filhos – por ora. Sapatos e bolsas intermináveis no armário, cremes e mais cremes no banheiro.
Era moderna, sabia. Poderia ilustrar um outdoor com seu sorriso mais brilhante servindo de exemplo de mulher de sucesso.
Tinha 30. Ok, 32. Já tinha que usar ‘renew’, mas quem se importava? Ela passava por 27, fácil fácil com um pouco de pó-blush-base-batom.
Quando passava na rua, arrancava alguns olhares, dos homens de admiração, das mulheres de um pouco de inveja – como ela era magra, e aquele sapato!
Mas chegava em casa e descia do salto.
Ninguém sabia, mas ela tinha um pote de sorvete, e ás vezes - com mais freqüência que gostaria, na verdade- usava ele. Usava também chocolate, via filmes românticos-bregas e chorava, seu pijama preferido não era a camisola sexy que usava em ocasiões especiais, mas sim uma camiseta velha. E uma calcinha grande.
Ela cantava Tetê Espíndola bem alto e desafinado, e depois caia na risada. Abraçava o cachorro – o de quatro patas nessa hora – se imaginava no altar de véu e grinalda, se imaginava menos casual, se imaginava mais de mãos dadas – com suspiros e passeios no shopping – queria dormir de conchinha, tão logo abraçava seu ursinho de pelúcia que ganhara daquele cafejeste que mais amou quando tinha 16 anos. Porque quando temos 16 anos é tudo tão mais intenso e pra sempre e dolorido. Quando foi que deixou de ter 16 anos mesmo?
Ah em casa ela podia ter os cabelos bagunçados, não se preocupar com maquiagem, chorar, rir, chorar de novo, admitir que erra e errar novamente, pois isso nos torna mais humanos. Ah, em casa.
Depois na segunda-feira-de-todo-dia colocava a máscara inteira novamente. Mas ria-se toda por debaixo dela, e iria um dia conseguir alguém para rir-se todo com ela- ela real – também.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

No caminho.

 imagem: http://weheartit.com

Pegou a minha mão e me levou pra onde nunca tinha ido. E eu te disse: ‘por que?’ Você sorriu e me disse ‘por que não?’
E então mergulhei no desconhecido, e o medo – porque eu não deixara ninguém me conduzir pra lugar nenhum – o medo que era tanto no começo foi passando, passando.
E de mãos dadas passamos por caminhos, uns bonitos, uns não tão bonitos assim. Mas mesmo quando eu quis soltar a tua mão sair correndo, você não deixou. Não vá se perder, não vamos perder algo tão bonito, era o que me dizia.
E eu não acreditava poder chegar tão longe. Eu acreditava que chegaríamos a lugar nenhum, e que no final seriamos apenas passos distantes um dos outros, como havia de ser.
Mas estava enganada, até porque desconheço o final ainda.
Por enquanto estamos em passos lentos, pé-ante-pé, escolhendo nosso caminho.
Ainda que de longe – culpa do destino- a sua mão está junto a minha. E como é bom poder acordar e saber que não estou sozinha no caminho, e mesmo que a saudades – e todo o resto, que prefiro chamar de pedras no caminho- queiram ser obstáculos, você me pega no colo, a gente os pulas e caímos na risada.
Porque caminho é amor. E eu quero seguir este caminho, com você.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sim e não.


 imagem:http://weheartit.com

E se dá um suspiro, um suspiro longo. Era amor, paixão, loucura ou qualquer um desses sinônimos, antônimos ou seja-lá-o-que-for. Mas sabia que era.
E não tinha passarinhos verdes nem sorrisos bobos, as pessoas não passavam sorrindo cantando e dizendo bom-dia-que-lindo-dia-como-voce-está-bonita-hoje, ela mesmo não andava cantando e cheirando flores no caminho – muito embora cantarolasse aquela música que não saia da cabeça – mas ela sabia que era.
Porque a gente sempre sabe que é, embora muitas vezes não queremos admitir, queremos fugir, nos enganar etc etc etc porque amar ás vezes é tão bom que dói. Dói porque a gente pensa: não quero que acabe, porque a gente já amou e acabou ou porque a gente nunca amou e tem medo de não saber amar.
Amor (loucura, paixão, o que mais?) era o que ela tinha naquele momento. Pronto, falei, confessei, não fugirei mais. Ás vezes é tão mais fácil seguir o caminho, não? Sofrer sofreremos hora ou outra, sofreremos por estar sozinha quando todo mundo tem alguém, sofreremos porque não temos mais certo alguém que tínhamos a um minuto atrás.
Se jogou, foi o que disse ela. Mas não tinha ninguém garantir uma queda suave. Mas tinha alguém para se jogar junto, e não é isso que vale?
Pois tudo é sinônimo e antônimo mesmo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Bolinhos de Chuva.

imagem:http://gettyimages.com

É que a gente se pega em um sábado a tarde rindo sozinha quando sente aquele cheiro. E aquele determinado cheiro – bolinhos de banana da vovó, juro!- me transporta para um outro tempo, um filme vai passando pela minha cabeça – em preto e branco, com a voz de Norah Jones cantando Seven Years – e me vejo sentada, minúscula e de pantufas, em uma mesa de mármore grande, balançando os pezinhos enquanto uma avó corpulenta mexe vigorosamente a colher de pau numa panela. Tudo ali – a cozinha, a avó, as pantufas, a mesa – parece tão aconchegante e feliz, e eu continuo me balançando como se a maior preocupação fosse raspar a panela ou esperar os bolinhos esfriarem.
E assim as tardes iam, as tardes jamais vazias, preenchidas com sessão-da-tarde, sonecas, Nescau e brincadeiras, brigas com os irmãos, pés encardidos, joelhos ralados e doces da boboniere.
Os domingos, ah os domingos, pareciam ser todos ensolarados, mesmo os chuvosos. E ia aquele almoço – macarrão, carne de panela, maionese de batatas e alguma sobremesa para o café – sempre cheio de gente, tias tagarelas, primos se acotovelando sobre a mesa, a avó corpulenta e sorridente e o vô meio quieto, cara de bravo, mas que tinha o melhor abraço do mundo.
E agora nos sábados sozinha almoçando qualquer coisa com qualquer pessoa, me pego rindo ao sentir aquele cheiro, aquele cheiro que era bem mais que bolinhos de chuva com banana. Aquele cheiro era algo como família.
E deu vontade louca de chorar e rir ao mesmo tempo, pois amanhã era domingo-pé-de-cachimbo mas a gente é adulto e não pode se balançar na mesa de mármore ou ralar os joelhos e passar mercúrio, porque na minha época methiolate doía. A gente é adulto, não se lembra desde quando, mas é isso agora – sem sonecas e sessão da tarde. Só vez-em-quando, pra não ser injusta.
E tudo é um filme preto-e-branco que passa na cabeça. Ao som de Norah Jones.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mãe.

 imagem:  Eu e mamis.

E quando segurou a minha mão – uma mão tão pequena e frágil – sentiu o maior amor do mundo. Sabia que não faria de tudo, tudo para me proteger. E eu, ainda que não soubesse de nada do mundo a minha volta, podia sentir todo esse amor. É inexplicável.
E o tempo foi passando, o tempo continua passando. Aprendi a falar, andar, escrever, me vestir, dirigir, saí de casa, e tudo foi passando tão depressa... Mas como precisei segurar na sua mão diversas vezes. Sentir esse amor, sentir-me protegida. Ás vezes achava que era grande o suficiente, que não precisava mais de ti, que não precisava mais ser cuidada, que estava certa – e como estava enganada. Não importa a idade que eu tenha, sempre precisarei de ti, do teu carinho, do teu conhecimento, do teu amor. É tão bom poder deitar no teu colo, tão bom te abraçar depois de uma longa saudades.
Desculpa, se ás vezes te magoei, te fiz sofrer, não foi por mal, entenda. Faz parte do pacote. Do meu crescimento.
Obrigada, por estar comigo, sempre. E não importa se um dia serei mãe, se num futuro eu que vou segurar uma mãozinha minúscula e sentir todo o amor do mundo, porque eu nunca vou deixar de ser filha, de me sentir protegida ao seu lado e de aprender contigo.

Te amo, mãe.



Obs. Desculpe-me a ausência. Tá difícil arranjar tempo, mas prometo que logo, logo eu consigo :)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cartas.

 imagem:http://weheartit.com

Aqui estou eu, escrevendo de novo pra ti. Não sei se você vai ler – nem sei se ao menos eu vou mandar- mas é que hoje estou pensando em ti. Não, não que eu não tenha pensado mais, mas hoje a tua lembrança veio com uma certa urgência, e eu quase te senti aqui do meu lado. Pode ser porque hoje é domingo e pra piorar faz frio, e eu ouvi aquela música, não sei, mas é como se eu acordasse e você estivesse na cozinha fazendo café.
Quanto tempo faz? Já nem sei. Mas algumas lembranças parecem tão vivas ás vezes.
Me disseram esses dias que você tinha alguém. Há muito eu já esperava por isso, mas mesmo assim doeu um pouco sabe? É que fico me perguntado se você faz as mesmas coisas que fazia pra mim. Tomara que não, aquele éramos nós, e dentro do que vivemos não cabe mais ninguém.
Não pense que eu não tive ninguém. Nada muito sério, é verdade, mas alguns já fizeram parte da vida que você deixou para trás.
Nesse tempo tanta coisa aconteceu né? Cortei o cabelo sabia? Sério! Não tão curto, é verdade, não consigo ter coragem.
Emagreci, engordei, emagreci de novo. Culpa tua, em parte.
Parei de fumar. Muito embora esteja fumando nesse exato momento, mas entenda, é como te amar: um vício que não tem como ser esquecido de uma vez. Mas juro que aos poucos eu consigo acabar com o vício. Com os dois: o cigarro e você.
Acho que é isso, está anoitecendo, e a urgência está passando.
Não me esquece, que eu não te esqueci.
Me escreva também um dia – somos tão antiquados não é?
Mas me escreva.
Ou ao menos pense em mim com carinho, quando ouvir aquela música e se lembrar do que deixamos para trás.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Do belo.

imagem:http://weheartit.com

Falar sobre beleza é quase tão difícil que falar sobre amor. Nenhum, nenhum dos dois deveria ser definido. Eles não cabem em um contexto- são grandes demais.
De forma piegas, amor poderia ser mãos dadas, passeios, flores, te amo. Mas eu ainda prefiro silêncio, risadas, olhares, saudades.
E o belo? O meu bonito-padrão seria olho azul, cabelos enrolados, alto, risada perfeita, bermudas-chinelos-do-tipo-sou-casual. Mas eu ainda prefiro conteúdo, mil vezes conteúdo.
Não, nunca me prendi a definições. Gosto disso para no segundo seguinte não gostar mais. É que me prendo nas coisas que me fazem feliz.
Não deveria ser assim sempre?
Mas tem gente que prefere o piegas, o clichê, o que é definido, aceito como padrão. E na busca da perfeição, do mais belo, do mais certo, do mais bem visto, esquecem do grande detalhe: buscar o que as deixa mais feliz. 
Vai entender.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Ice Cream.


http://weheartit.com

Enquanto ela lavava o carro, porque era domingo – e algumas atividades só cabem ao domingo - ela sabia que tinha acabado. Porque a gente sempre sabe quando acaba, mesmo que a gente não queria que seja o fim.
Alguns amores são bons, mas tem data de validade. E enquanto ela não encontra O Verdadeiro Amor – será que encontro um dia? - ela ia saboreando os diversos tipos de amores que passavam por sua vida.
Mas esse era especial. Foi especial. Esse foi um daqueles que ela achava que iria passar o resto da vida. Eram poucos que ela se sentia assim.
É que veio com o pacote completo sabe? Tinha todo aquele frio na barriga que não passava, toda aquela saudade, ainda que ele tivesse acabado de ir embora para voltar no dia seguinte.
E não, não foi coisa de um mês. Já tinha 3 anos, e nada mudava, o sabor era o mesmo, até uns meses atrás.
Ah, esse amor era como seu sabor de sorvete preferido, em que ia comendo aos poucos, para não acabar logo. E a cada pedaço que retirava, era tão bom que parecia mesmo impossível de haver um fim. Mas ás vezes nessa ânsia de querer que o sorvete – ou o amor- dure para sempre, acabamos deixando ele no freezer por tempo demais. E então ele endurece, perde o sabor, faz mal - e insistimos em tentar ainda saborear. Mas chega uma hora que temos que nos desfazer dele, por mais que doa. E nunca mais queremos sorvete – ou amor.
Até que um dia alguém vem e lhe aparece com um sabor novo, que pode ou não durar para sempre (pode mesmo? Ainda não sei.).
E então tentamos.
E depois quando ela sentou no sofá da sala vestindo roupas velhas – porque ainda era domingo – ela se sentiu um pouco triste. Mas abriu um novo pote de sorvete, suspirou e saboreou sem se preocupar.

sábado, 17 de abril de 2010

Coca.


imagem: http://weheartit.com

E estava com sede de coca-cola, mas bebi paixão. É, dessa vez foi paixão, pra valer, sem pudor. Coisa que não tínhamos, se lembra?
Bebi paixão de outra fonte, que não a sua.
Porque aquele dia eu estava com sede de paixão – da sua paixão - e tudo que você me ofereceu foi uma coca-cola gelada servida em um bar triste qualquer. E eu remexia os canudos distraidamente enquanto você discursava que não tinha mais paixão, amor ou faísca sequer. Eu quis chorar sabia? Quis jogar aquela coca-cola todinha em você e dizer que a minha paixão estava ali, só que você é que não sentia mais sede de mim.
Mas continuei ali naquele bar triste, com você que não era mais meu sentado a minha frente.
Fui embora com sede ainda, mas deixei a coca-cola abandonada. E daí? Éramos duas abandonadas.
Nos primeiros dias senti sede de whisky, vodka, tequila até. E a sua sede não passava.
Depois tudo virou café, cigarros e cazuza.
Até que eu estava com sede de coca. E me ofereceram paixão.
Sem pudor, pra valer.
E matei minha sede.
E agora vejo você só, sentado nesse bar triste.
Sinto muito mas, não posso mais matar a sua sede. Te pago uma coca abandonada sem paixão.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

(In) Certo


Imagem: http://weheartit.com


E tinha os passeios de mãos dadas nos domingos e tudo mais. Nunca tivera beijos apaixonados na chuva, mas uma vez – se não se engana- rolaram na grama. Ou teriam corrido na beira do mar?
Mas tinha, e como tinha, os frios na barriga quando se beijavam. E quando se despediam – não importa por quanto tempo, um dia, semanas - tinha aquela sensação horrível da dor que é saudade. Da dor que é a incerteza, mesmo quando tudo se parece tão e tão certo. Estaria ele sentindo a mesma coisa? Teria ele a esquecido com o tempo? Quantas semanas afastados seria suficientes para que ela fosse apenas uma lembrança muda, como os banhos de chuva que nunca tiveram?
Hm, quem se importa afinal? O mundo não parava para responder suas incertezas mesquinhas.
Vai, vai vivendo, vai vendo, vai sonhando, mesmo quando não tem mais sonho, invente um. Sonhe com ele, comigo, com os três que somos: eu, tu e a solidão.
Hoje já é domingo e não tem passeio de mãos dadas. Mas tem café e risadas ao telefone? Saudades e agonia?
Um beijo imaginado, isso tem.
Um arrepio real.
E a felicidade da certeza de que tudo é incerto: Vamos vivendo a nossa história página por página. Nem era uma vez nem ponto final, virgulas e reticências e pontos de interrogação, exclamação e o que mais vier, só não paremos de escrever, sentir, imaginar, neste momento. E enquanto pudermos, enquanto fomos. No momento nós somos, ainda que.


"Não importa quanto vai durar - é infinito agora."
- Caio F. Abreu;

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Paixão e sapatos vermelhos.


foto: Crispi.

E ela estava calma enquanto se arrumava. Sentada na cama, sabia que deveria ser hoje, hoje o dia que.
Deu um suspiro, e com um certo medo – por que estaria assim? - foi até o armário e tirou os sapatos vermelhos. Aqueles sapatos vermelhos. Fazia tempo que não os calçava. Não havia sentido nenhuma necessidade, até então.
Colocou a melhor lingerie. O vestido preto. Maquiou-se com precisão, soltou os cabelos. Mas tudo era detalhe, e só depois que colocou os sapatos vermelhos se sentiu completa, sexy,segura. Sentiu paixão, estava pronta.
É que nos outros encontros – 4 ou 5? – tinha sido tudo tão normal. Ela simples, sapatos simples, passeios de mãos dadas, cinema, um hambúrguer – não obrigada, sem sobremesa, dieta sabe? - beijos na porta de casa, beijos simples e calmos, um certo frio na barriga ao ver ele entrar no carro. Até então, tudo sem sal. Mas não sabia por que, afinal ele era tão normal, mas ela estava envolvida. E sentia que hoje seria.
Se olhou no espelho mais uma vez e sorriu: ele chegara.


Ele cantarolava qualquer coisa que passava no rádio enquanto dirigia para casa dela. Não entendia como e por que ela não saia da sua cabeça. Ele nunca se envolvia. Já tivera alguns encontros, mais intensos, mais longos, e nunca tinha se envolvido assim.
Ela era tão normal. Se vestia um pouco fora dos padrões da moda – nada muito sexy também – mas ele gostava. Ela parecia exalar sensualidade por trás daquelas roupas e sorrisos casuais.
Não, ainda não tinham tido nada de emocionante, e ele não sabia porque ainda cismava em dirigir para casa dela. Não, não teve sexo, nem algo perto disso sequer, mas ela não saia da sua cabeça. Ele não queria admitir, ele não queria nada sério, ele não queria. Mas sabia que.
Parou na frente do portão. Sentiu um frio na barriga. E quando ela saiu, de vestido preto e sapatos vermelhos, ele estremeceu todo por dentro, por fora talvez também. Sentiu que hoje seria.

Estavam tensos durante todo o caminho. Ela de pernas cruzadas e ele com a mão fincada no volante. Fingiam conversar algo, mas era muito mais que isso. O vermelho do sapato, do momento, de tudo enchia o ambiente. Foram direto pra casa dele. Ele abriu a porta, e não conseguia parar de olhar os sapatos vermelhos, o vestido preto. Ela entrou em silencio. Ali mesmo, no meio da sala, ao som de nada – mas se tivesse música seria algo calmo e feroz como um blues entoado por uma voz rouca que berraria paixão, paixão - se beijaram loucamente, ferozmente, suavemente.
Ele acariciou seus cabelos e disse:
- É que eu ...
Então ela sorriu e respondeu:
- Eu também.
E não vou descrever o que aconteceu depois, é algo que não cabe aqui. Mas foi vermelho. De amor, paixão, loucura, sapatos.
Foi vermelho, e eles sabiam que.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Solidão. Por ora.


imagem:http://weheartit.com


É que eu não me permito. Tenho medo talvez. Mas quando o coração começa a acelerar descompassadamente, eu o abandono ali. Sou especialista em terminar o que ainda nem começou.
Porque por medo de sofrer, eu acabo sofrendo, mas sofro em solidão. Solidão vicia, é bela e dói.
Mas a dor de um amor perdido talvez (só talvez) seja pior que a dor da solidão.
Fumaria um cigarro agora. Me sentiria mundana. Penso em ti, como penso, e lá vem o coração acelerar de novo.
Ironia, afinal pensei eu ser impossível. Eu estava imune, vestida com todas as armaduras possíveis.
Talvez seja medo, mas quando a armadura começa a cair, quando alguém começa a penetrar naquilo que eu jurava ser impenetrável, eu abandono.
Não quero – por ora- que caía essa parede que construí. E você estava escalando, destruindo, perfurando, ultrapassando, ando, ando ando, amando. Amando.
Não quero.
Por ora
Prefiro isso. S-o-l-i-d-ã-o.
Mesmo que doa.
Mesmo que sofra.
Por ora.


"Quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?"
- Caio F. Abreu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mulheres.



Porque aquele dia ela só queria chegar em casa, tirar o salto e colocar meias. Meias, uma blusa velha e confortável, calcinhas grandes, prender o cabelo de qualquer jeito. Nada de glamour.
Queria fazer um brigadeiro e comer na panela, sem se preocupar com quantas calorias (e são tantas!) que estaria ingerindo ou quanto tempo teria que correr na esteira para não deixar de vestir 36. Queria ver um filme brega com um galã bonito, e chorar até soluçar, pensando que porque ela, Meu Deus, não podia ter um amor assim? Porque os homens são tão insensíveis, só querem sexo, não ligam no dia seguinte, e são incapazes de manter a TV no mesmo canal por 5 minutos?
Queria pegar a escova de cabelo e cantar aquele música bem brega que lembra aquele momento. Cantar bem alto com os olhos fechados, desafinada, mas se sentir mais diva que a Beyonce.
Queria ficar um dia inteiro sentada no sofá sem fazer nada, sem se preocupar com a casa bagunçada, o stress na empresa, os trabalhos da faculdade. Iria dormir abraçada com seu ursinho (ok, ela já fazia isso todas as noites), iria deixar o cachorro entrar na sala, só pra poder fazer carinho e ter o carinho retribuído sem nenhuma segunda intenção (homens deveriam aprender com cachorros, pensou.).
E quer saber? Aquele dia, ela chegou cansada do trabalho e fez tudo isso.
Porque ela é mulher, e toda mulher tem direito de deixar de ser forte, diva, independente, sair da dieta e ter seus surtos de vez em quando.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Bar.


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‘O que estou fazendo aqui?’ pensava ela enquanto se dirigia com suas amigas agitadas para o bar. Ela só queria ir pra casa, para repetir o seu ritual de ficar de pijamas, ver um filme triste e chorar no final, lembrando-se que estava sozinha, que ele se fora, e sentir o cheiro – que já nem havia mais na verdade- dele na camisa abandonada ao lado da cama. Mas não, naquela sexta feira chuvosa fora arrastada para o bar, depois de uma aula chata, com uma professora chata.
Ela foi entrando um tanto tímida em meio as risadas escandalosas das amigas, seu pensamento longe. Talvez, só de raiva, se embebedaria essa noite e fumasse com muito charme um cigarro – muito embora não fizesse nenhuma dessas coisas – só para se convencer que não pensava mais nele, e sairia exatamente com ele na cabeça.
Porém algo a tirou do meio dos seus devaneios desvairados na porta do bar. Era uma voz suave que cantava qualquer coisa em inglês, e tocava o violão com a paixão de quem tocava em uma amante. Assim, suave, mas um pouco feroz. Exatamente como ela gostaria de ser tocada, pensou.
Ele a notou também, seus olhos se cruzaram. Ela sorriu debilmente, ele sorriu suavemente por entre as palavras que cantava.
E de repente ela amou aquele lugar. Amou suas amigas. Amou ter resolvido sair com sua calça favorita e passado maquiagem.
Pediu tequila.
E ficou sentada na mesa fingindo que não desejaria estar em outro lugar, apesar de ser verdade naquele momento. Olhava secretamente pra ele, sentia sua voz embalando as canções que eram justamente sua trilha sonora.
Depois de um tempo (uma eternidade?) ele parou de tocar. Foi até a mesa dela, e sem cerimônia sentou ao seu lado. Conversaram coisas bobas. Se beijaram.
Ele a levou pra casa.
E a vida dela, de repente, tinha uma outra melodia.
Viva o acaso.



Obs. Eu amo músicos.
Obs.² Desculpem a ausência. Semana de campeonato, sabe como é.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Das coisas da vida.


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- Foi porque a vida quis assim.
Era essa a resposta que ela sempre dava as pessoas que perguntavam porque eles não estavam juntos. E as pessoas entendiam, entendiam que o que separara eles foi isso, apenas isso: a vida. A vida acontecendo, a vida que une, a vida que separa.
E quando a olhavam com pena para lamentar que não deu certo, ela ria. Ria, e explicava que dera certo. Dera muito certo enquanto durou, todos aqueles anos.
Só que acabou, só isso.
Nem todo amor dura para sempre. Alguns, a gente acha que vai durar. 2, 3, 5, 10 anos, para descobrir que não era pra sempre, mas que deu certo por todo aquele tempo. Que era para ser assim.
E depois voltamos a ser livres, para amar por 2, 3, 5, 10 anos novamente. Ou para o resto da vida quem sabe?
Todos ficavam perplexos com a naturalidade que ela levava as coisas.
E perguntavam pra ela, qual a fórmula de ser assim. De não guardar mágoa, não sofrer.
Mas aí ela ria mais alto: claro que ela sofrera, guardara mágoa, achou que iria morrer e comeu uma caixa de bombom sozinha. Faz parte do pacote, sabe? Mas a diferença é o tempo que ela se permitia sofrer. Porque sabe, tem gente que quer sofrer sempre, quer ser vista como vítima. Gente que usa a tristeza de ter sido abandonada, por ter abandonado ou qualquer coisa do gênero como um escudo, para não se envolver mais.
Ela, ah ela não. Sofria o necessário, chorava o necessário, comia a quantidade de chocolate necessária – bem, talvez um pouco mais que a necessária- mas não deixava que a tristeza tomasse conta de tudo. Não por mais de um dia, pelo menos.
Se alguém fechasse a porta do seu coração,
Ela pulava a janela, e se permitia ser feliz outra vez.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Máscara.


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Ela chegara atrasada – mais uma vez – e entrou correndo desajeitada pela sala. Ele já estava lá, com seu ar misterioso que tanto e tanto mexia com sua curiosidade. Como de costume, ele nem se mexeu, e ela tinha tanta raiva! Como podia ele ser tão lindo assim de bermudas e chinelos, sem nenhum esforço? Como podia ela ter passado maquiagem, feito chapinha, colocado a sua melhor calça e ele nem se quer levantar o olho daquele (maldito) livro?
Ah, como ela queria ser aquele livro. Ter uma história interessante aos olhos dele. Prender a atenção dele de alguma forma.
Desastrada como sempre, sentou ao lado dele. Esbarrou nele –sem querer, sério!- e pediu desculpas, ele apenas sorriu, mas um sorriso educado, não irônico.
Droga. Ela odiava ele.
Queria puxar papo, queria esmurrar ele por nem perceber sua presença, queria beijá-lo porque ele era lindo e diferente.
Mas, como sempre não fez nada disso. Ficou ali, só a observar, imaginar.
Chegou em casa cansada. Se olhou no espelho e se viu linda, com a maquiagem ainda intacta, o cabelo liso, a blusa decotada (não do jeito vulgar, mas do jeito sensual bonito), mas viu que sua beleza era triste. Era uma máscara. Descobriu, infeliz que aquela não era ela, e assim alguma coisa que ela tentou criar para impressionar os outros.
Tomou o banho mais demorado que se lembrava.

No outro dia, chegara atrasada de novo – ela nunca ia aprender a chegar no horário- e nem sequer ousou olhar pra ele.
Sentou do lado dele, tomando o maior cuidado para não esbarrar nele dessa vez, e ficou ali lendo descontraída. Estava descontraída, porque nesse dia resolveu ir vestida dela mesmo. O cabelo enrolado estava solto naturalmente, usava uma blusa preta, uma calça leve e chinelos, sem medo de estar na moda ou não, estava apenas livre, mostrando o que ela realmente era.
E então, se surpreendeu com um oi jamais dito. Com uma conversa jamais antes iniciada – não iniciada por ela, pelo menos.
Era ele que estava falando com ela. Elogiou sua aparência, disse que jamais a havia visto tão bela.

O que eles conversaram depois? Não se sabe, ela não se lembra. Só se lembra de ter tido a feliz idéia de ser ela ao invés de ser o que os outros esperassem dela, e de como ficou feliz quando deixou as máscaras guardadas na gaveta.

domingo, 7 de março de 2010

Domingo.


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Ela andava meio introspectiva, e piorava porque era domingo e chovia.
Não tiraria o pijama, nem sairia da cama.
Sairia sim, na verdade, pra tomar aquele café forte ou a coca-cola que jazia na geladeira, levantaria para ir até a janela fumar seu cigarro enquanto cantarolava músicas que ninguém conhece.
No mais, não sairia da cama não.
É que a cama ainda guardava ele, ainda que a muito ele não estivesse passado por ali. Sair da cama pareceria uma despedida, uma despedida dura no domingo de chuva.
E por que ele saiu da sua cama, afinal?
Porque a uns tantos domingos atrás ele também não tiraria o pijama, não sairia da cama, e estariam abraçados feito tolos o dia inteiro. Ele com a barba por fazer, ela com o cabelo desgrenhado e vestígios de maquiagem da noite anterior.
E ficariam assim por horas, num ritual de dormir, acordar, ligar a teve e reclamar da programação do domingo, beber a coca-cola já quente que estava ao lado da cama e lamentando que amanhã seria segunda-feira.
Ah, que droga, pensou.
Mas não chorou, nem um pouquinho.
Fez melhor: levantou da cama, tomou um banho demorado usando todos os xampus e cremes e sabonetes que tinha direito, arrumou seu cabelo, passou kilos de maquiagem para parecer com um aspecto natural, colocou uma roupa, mas não uma roupa qualquer, colocou exatamente aquela blusa que ele achava brega – mas que ela amava- e seu shorts desbotado preferido de todos os tempos.
Antes de sair, olhou para a cama, um olhar de piedade, de despedida. Chega de viver o que passou.
E seguiu na chuva, apesar de ser domingo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bagunçado.




Triangulo-amoroso está tão na moda, que com ela não poderia ser diferente. Estava quieta, só no seu canto, e gostava de estar assim. Ser sozinha nem sempre significa solidão.
Mas nada na sua vida era normal por muito tempo, então logo ele veio e a encantou sem-querer. Mas ele morava longe, muito muito longe, era algo virtual e platônico, então para ela só restava sonhar e continuar na sua solidão-inventada.
Não demorou muito pra chegar um outro ele, um ele que estava perto. Estava perto e foi chegando, e sem querer roubou um pedaço do coração dela (só um pedaço, porque o outro pedaço já estava longe).
E agora ela está assim, no meio termo, no mais ou menos. Uma confusão só.
Ela que tinha afastado os móveis pra ficar vazia, agora estava toda bagunçada.
Porque parece obvio e fácil demais, mas é difícil escolher entre o real e o sonho ( um sonho que não é impossível, para esclarecer). Parece certo demais estar com quem está sempre ao seu lado, mas não é certo ter um coração perdido ao longe.
Por isso ela tinha afastado os móveis da sua sala.
Mas agora era uma explosão de sentimentos, e era difícil escolher uma decoração.


obs. Desculpe a demora pra responder os comentários. Vida de univeristária ON.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Outrora.


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Se tem que durar, não sei. Que dure pra sempre por hoje, outrora quem sabe, outra hora talvez, não sei.
Já pensei demais no futuro, e deixei de aproveitar o hoje, e agora só o que lembro é de um passado desajeitado, por sentimentos tortos que não soubemos aproveitar.
Um dia você se foi, eu me fui. Hoje alguém apareceu, e não, não quero deixar ir devido ao medo do que pode acontecer.
Não precisa durar.
Mas que fique assim, só entre nós, num sussurro.
Que o eterno fique assim, no arrepio que eu sinto quando você fala suave, baixinho, no pé do ouvido.
Ou quando você sorri e me olha.
Ou quando você me abraça e o mundo para.
Amanhã? Quem sabe. Só sei que hoje estou sendo feliz.
Outra hora, talvez, não sei.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma metáfora de sapatos.




Quando viu aquele sapato, foi amor a primeira vista. Era tudo que ela queria e mais um pouco. Bonito demais, parecia inacessível.
Passava todos os dias em frente a vitrine, para admirar o sapato. Este, admirada por muitas, logo seria levado embora, pensava ela.
Mas um dia ela conseguiu o sapato.Não acreditou.
E ele se encaixou perfeitamente nela. Lindo, confortável. A fazia se sentir segura, protegia ela das pedras do caminho. Todas invejavam seu sapato, queriam um igual. Tentaram – e como – roubar seu sapato, mas este permanecia fiel ao encalço da garota.
Mas ele foi ficando velho, gasto. Foi apertando o pé da menina.
Fazendo calos.
Mas ainda assim, a menina não queria se desfazer dele, estavam juntos a tanto tempo, veja só. Não poderia simplesmente comprar um sapato novo (que ultraje! Ele era insubstituível).
E assim ela seguia, andando miudinho para o sapato não reclamar.
E ela fazia de tudo pra ele permanecer intacto.
Mas um dia, um dia de descuido talvez – ela tentava não se culpar - viu o sapato, o seu sapato! em outro pé. E ele estava radiante, parecia novo, e a nova dona mais feliz, mais bela. Então ela olhou para seus pés descalços, com bolhas, machucado. Quis chorar, mas mexeu seus dedos em liberdade, e pode sentir que andar descalça também era bom.
Mas ela não gostava, precisava de um sapato novo. Mas algum sapato aberto, que lhe desse liberdade. Algum sapato menos sofisticado, mais novo, descontraído.
Então, enquanto se decidia, resolver comprar chinelos. E seguia feliz, livre – mais nem tão livre- por aí.


Obs. Visto chinelos no momento. Mas também gosto de sentir meus pés no chão.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cozinha.


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Ela estava cortando cebolas e cantarolando algo inaudível, totalmente absorta e concentrada. Usava apenas calcinha – quase um shorts na verdade - e uma blusa velha dele, os cabelos estavam desgrenhados e presos de qualquer jeito, com uma mecha que cismava em cair no olho, e puxa, como ela ficava sexy desse jeito, pensou ele.
Na noite anterior ela estava linda, impecável. Vestida de preto, um vestido simples, mas que encaixava perfeitamente nela, como se fosse parte dela, um terceiro braço ou algo assim. Ele segurava nervosamente sua mão, enquanto ela ria e enchia o ambiente de descontração só por simplesmente ser ela. E ele só pensava ‘ seu idiota, está amando. Você ama ela. Por que não assume?’.
Mas agora nessa manhã de domingo ela estava ainda mais linda. E ele tinha ainda mais certeza.
Ela olhou pra ele por instantes, ela o amava. Sorriram um para o outro.
- O arroz está pronto, ela disse.
Ele chegou perto, tocou seu rosto. Se beijaram lentamente, com medo que tudo acabasse. Fizeram amor ali mesmo, na cozinha. Amor, não sexo dessa vez.
- Eu te amo.
Foi ela quem disse.
Ele apenas beijou sua boca.
Porque ele sabia que a amava, mas era tolo o bastante pra admitir.

Ele estava na cozinha picando cebolas. Não cantarolava. Vestia qualquer coisa. Estava sozinho.
Passou-se algum tempo desde aquela tarde de domingo.
Aquela tarde em que ela entregou seus sentimentos, ele apenas se calou.
Agora, deixara tudo escapar, não tinha como voltar atrás e berrar o quanto a amava, alguém já fazia isso em seu lugar.

O arroz queimou.

E ele resolveu deixar tudo como estava. Mais uma vez.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rain;


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Ainda de olhos fechados escutou o barulho da chuva e não acreditou. Ficou com medo de levantar e ter apenas imaginado, mas quando sentiu o cheiro –seu cheiro preferido- de terra molhada sabia que era verdade. Foi correndo então fazer um café bem forte, só pra poder beber lentamente, de olhos fechados, enquanto ouvia o barulho e sentia o cheiro. Não sabia bem ao certo quanto tempo ficava assim, no seu mundo, mas amava ter esse momento.
Isso a fazia esquecer de tanta coisa.
Ela era abstrata. Diferente. Não ouvia as músicas da moda, não gostava dos artistas do momento, não gostava do sol. Preferia o frio, as tardes em silêncio ouvindo o som da chuva junto com o som de uma boa música.
Logo correndo foi buscar seu livro de romance favorito, afinal estava chovendo lá fora. Adorava romances, já que podia viver a história dos outros como se fosse a sua.
Não, não que ela não tivesse uma história para viver. Afinal, quem não tinha? Até os mais pobres de sentimentos (e isso ela não era, com toda certeza) já amaram um dia. Ou amam e sabotam o amor com outros sentimentos duros, várias pessoas fazem isso. Ah, mas ela não, a estranha. Ela amava, amava de seu jeito livre e descontraído, leve como a chuva que caia na rua. Nem sempre tinha certeza de quem amava, do que amava. Já tinha se apaixonado por sorrisos, já tinha se apaixonado por um abraço, já tinha se apaixonado virtualmente também, se apaixonado por quem mora longe. É porque ela se permitia viver o amor sem medo de rotular isso, sem medo de perder sua liberdade.
Nunca concordou com o papo de que amor dura pra sempre, o resto é paixão. Não. Amor pode durar segundos, pode durar uma chuva, secar com o sol e dar lugar novamente a um outro tipo de amor. Ninguém conhece o amor suficiente para poder ter certeza, a gente nunca tem, e por isso ele é encantador desse jeito. E pode sim, um dia durar pra sempre, mas sem desmerecer os outros amores menos intensos, ou longos.
Deu um suspiro, comeu um doce, respirou fundo, cantarolou a música do rádio, pensou no abraço (e estremeceu), ouviu mais uma vez o barulho da chuva. Ventava também, que dia perfeito.
Então, ela sorriu, sorriu e só.
Ela era estranha afinal.
E correu para o meio do quintal, soltou os cabelos e tomou banho de chuva, sem medo.
Porque ela não tinha medo de se encharcar de sentimentos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Plebéia.


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Banhos de chuva com beijos apaixonados. Correr na areia, tropeçar e se beijar na beira do mar. Rolar na grama. Observar o por do sol com a cabeça encostada nos ombros dele. Ser acordada com ele tocando violão.
Ele aliás, tão perfeito. Corpo atlético, sorriso alinhado, cabelos enrolados e bagunçados, olhos azuis (sim, eu tenho uma certa fixação por olhos azuis e cabelos enrolados), e o melhor de tudo: só tem olhos para você . Não cansa de dizer o quanto a ama, de te encher de beijos, presentes, bilhetes.
Pena que isso tudo é sonho. Quem nunca sonhou com o cara perfeito, o relacionamento perfeito? O problema é quando deixamos o sonho ofuscar a realidade. Estamos tão preocupada com a busca implacável pelo príncipe encantado em seu porche vermelho (afinal ninguém mais anda de cavalo branco), que ás vezes deixamos passar algum plebeu de fusquinha, que nos faria igualmente felizes. Sendo mais direta e menos metafórica, deixamos o sonho ofuscar a realidade.
É bom sonhar, claro que é. Mais é muito mais legal viver o verdadeiro, saber ponderar os dois.
Não, não desista do seu príncipe sarado do porche vermelho. Mas não se esqueça que ele pode ser o plebeu de fusquinha, afinal a metáfora está nos olhos de quem vê.


Obs. Eu adoro fusquinhas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um tanto quanto clichê.

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Pode ser que seja confusão, apego. Pode ser que seja amor ou medo do futuro.
O difícil é ter certeza sem viver. É que viver ás vezes da medo, viver machuca, então ficamos vivendo uma vida limitada, incompleta, fazendo as coisas com medo de desagradar alguém, com medo de ser rotulada por alguém, com medo de não conseguir, de seguir em frente.
Chega uma hora que devemos escolher pra qual lado do caminho seguir, e da vontade de simplesmente sentar e esperar que tomem a decisão pela gente. É porque é triste pensar nas coisas e pessoas que deixamos pra trás, pensar no que teríamos feito se nossa decisão fosse outra, etc. etc. etc.

Mas vou te contar um segredo: Triste, é deixar as coisas passarem por medo. Triste é não se permitir ser feliz por temer o que os outros vão pensar. Não seja cruel com você, não se limite, apenas viva – não fazendo nada imoral, claro - e se permita ser feliz, escolha seu caminho.
Morra de amores. Se apaixone sem medo diversas vezes, não se prenda ao ciúmes, afinal ninguém é obrigado a estar com ninguém, se a pessoa está com você, é porque ela quer, pense nisso.
Faça coisas sem sentido, tome banho de chuva, cante bem alto sem saber a letra, conte piadas sem-graça e de risadas até a barriga doer. Tenha momentos de fossa, coloque aquele CD do Roberto Carlos que eu sei que você tem escondido em algum lugar e ouça comendo brigadeiro. Detalhes é a minha música favorita pra esse momento. Fique o dia inteiro de pijamas e com o cabelo bagunçado, mas se permita um dia ir no salão e ter seu dia de diva.
Reclame, reclame a beça, mas não faça disso um hábito.

Passe mais tempo com quem você gosta, viva os momentos simples e clichês. Tudo que eu disse até agora, aliás, alguém já te disse, é piegas e você pensou em desistir de ler, mas chegou até aqui e sabe que lá no fundo está morrendo de vontade de fazer tudo isso.

Eu já morri de amores hoje, senti o cheiro da chuva, e tomei meu café devagarzinho só pra poder lembrar de um certo momento com um certo alguém. Olhei pro céu e pensei: sou feliz, e vim aqui escrever isso pra poder contar pra todo mundo.
Aliás, com licença. Vou até ali ver meu filme favorito e dar umas boas risadas em uma tarde quente. Espero que você faça o mesmo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Blues.


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Imaginei que estava frio, mas o céu estava limpo, e eu estava ouvindo um blues enquanto fumava meu cigarro distraidamente sentada no chão da área. Na verdade, talvez estivesse tomando café, ou coca-cola, pois odeio cigarro, apesar de achar que ele tem seu certo glamour.
O cachorro quieto e preto, tão preto quanto a noite solitária que fazia, estava sobre meus pés, compartilhando toda a sua ausência que preenchia aquele espaço.
Seu perfume ainda estava no ar, assim como as palavras soltas que você me disse ainda estavam ao pé do ouvido. Com essa lembrança estremeci, dei mais um trago, um gole ou sei lá, fiz qualquer coisa absurda pra poder esquecer o que berrava para ser lembrando, tão vivo ainda estava.
Aumentei o volume da música, senti mais frio.
O cachorro encostou a cabeça no meu colo.
E nessa hora me lembrei de você saindo da cama, com pressa.
Te amo, você disse. Mas tenho que partir.
Beijou minha mão, e foi.
E eu me recordei que tinha que voltar para a cama vazia.

Apenas imaginei. Talvez tenha sido tudo um sonho nessa tarde quente de verão, onde estou de fato ouvindo blues.
Mas será que esse seu perfume, que senti subitamente, eu também imaginei?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Secreto.


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Estava quieta em meu canto, fazendo coisas normais. Por vez ou outra ouvia uma música linda ou lia algum romance, e desejava que fossem meus, meus sentimentos, mas logo meu coração se aquietava e tudo voltava a ser comum. E não era como se eu não gostasse, porque naquele momento eu sabia que tinha que ser assim. Naquele momento eu tinha que estar em paz comigo mesma (e fora por isso que escolhi usar calcinha branca no ano-novo, apesar de não acreditar muito nessas coisas). Precisava me organizar primeiro, para depois ter tempo para aqueles sentimentos que servem exatamente para nos desorganizar.

Não, eu não queria me apaixonar, mas não pude fazer nada, já que você simplesmente existe.

E essa sua existência – ainda que distante da minha- torna tudo mais difícil.
Torna mais difícil eu fingir que não estou apaixonada por você, torna mais difícil fingir que todas as musicas e todos os filmes e livros e momentos foram feitos para mim, para nós.
Torna quase impossível essa agonia de te esperar. O mês não passa, se arrasta, e eu vou fingindo que está tudo certo, que eu estou normal, e que somos apenas amigos – quando sei que como, e como e como eu gostaria de berrar que somos mais que isso- e vou seguindo rindo das suas piadas, olhando as suas fotos e lembrando com você no telefone do curto momento que nos vimos.

E assim vou seguindo contando secretamente os dias pra te ver de novo. Vou sentindo frio na barriga cada vez que vejo um recado seu, por mais bobo que seja, e fico secretamente magoada quando vou correndo ver se recebi algum recado, e não encontro nada lá.

Nessa hora, quando penso que você me esqueceu, que você está contando as nossas piadas para outra pessoa, e que eu sou somente mais uma lembrança apagada ou um contato qualquer, você me surpreende. Me manda uma mensagem fofa ou e-mail contando as coisas banais do seu dia-a-dia, me fazendo sentir de alguma forma parte dele. Me lembrando que nossa amizade (e no meu desejo mais louco, nosso amor) é mais forte do que qualquer distância, ausência, omissão.

E então você torna a desaparecer por dias.

E no fundo eu não me importo, se for pra você voltar e dizer que pensou em mim quando viu tal coisa, ouviu tal musica, ou que simplesmente sentiu minha falta.
Agora eu estou aqui, longe, vivendo com meus desejos secretos (que quem sabe um dia eu te contarei? Mas prefiro preservar esse mistério, e essa agonia. Ok, na verdade tenho medo de ter perder de vez), e não sei o que você está vivendo.

Mas não faz mal, ainda que você não saiba, estou aqui contando os dias, em uma esperança secreta de um dia não precisar contar mais nada.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Wait For

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E esperei, esperei por tanto tempo. Vi que minha vida era te esperar, esperava e você nunca vinha. Deixei tanta coisa passar, tentei juntar tanta coisa, mas havia – e sempre houve, me dei conta depois- um abismo enorme entre nós.
Mas, o que mais me incomoda, tirando é claro os fins de tardes vazios e as minhas risadas soando como um eco triste na sala vaga, é que você parece não se dar conta. Some por vidas inteiras e depois me olha como se nada tivesse acontecido, ou no caso, deixado de acontecer. Você volta como se minha vida fosse feita de te esperar, como se eu tivesse grudada ao telefone esperando agoniada um telefonema teu.
Mas só que eu aprendi a lição quando ele nunca tocou.
Sim eu amei, amei mesmo. Chorei, sofri, ri, brinquei, e todos os sentimentos mais que vem agregados a esse tal de amor. Deu certo por algum tempo, fomos felizes por algum tempo. Mas agora eu percebo que não dá mais. Chega de ficar inventados sentimentos para substituir os verdadeiros.
Esperei, esperei por tanto tempo. Mas é só que não posso mais. Não me procure então, por favor. Espere até que a espera não seja mais necessária. Quero (re)aprender a lidar com essa tamanha liberdade.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Trajeto.

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No começo são risos. Mais risos.
Querer ficar junto o tempo todo, beijar o tempo todo. Um dia de solidão já dói no peito.
Tudo é tão legal, que achamos que vai ser pra sempre.
Amamos eternamente, planejamos o futuro – meninas sonhadoras imaginam como será o casamento e os filhos, rabiscam no caderno como seria seu novo sobrenome- esquecemos o passado.
Então, aí está o maior erro: esquecer o passado. Esquecer os amigos, esquecer os momentos da família, esquecer os momentos de solidão até.
No lugar dos esquecimentos surgem o ciúmes, a desconfiança, o egoísmo. Achamos que o mundo é só nosso.
Então surgem brigas e mais brigas. Idas e vindas, mais idas e vindas, coração machucado, brigadeiro e músicas de fossa. É o fim, o fim do mundo, do nosso mundo, vou morrer. Tudo dói, nunca vai passar.
Mas passa.
Aos poucos, passa.
Não, nunca mais amaremos de novo.
Mas acho ele interessante. Alguém novo pra variar. Vou sair mais uma vez.
Mais uma semana, mais um mês.
E no começo, são risos e mais risos.