segunda-feira, 14 de abril de 2014

Pausa.

 E “eu te amo” era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça. Farpa incrustada na parte mais grossa da sola do pé.

Não falávamos, porque as palavras não eram necessárias. Palavras geralmente são vagas, saem da boca, mas não do coração. O coração fala em silêncio. Não fazíamos planos, porque não pensávamos no futuro. Para nós, era o agora. Não importavam os dias, mas sim os minutos. Os segundos.
Pausa, pausa. 
Era urgente. Dramáticos efeitos, escondendo o suspense de nossos defeitos. Perfeitos, éramos nós, justamente por saber da implícita imperfeição que escondíamos debaixo da pele, naquilo que chamamos de alma. Contigo, andava desnuda, sem pudor. 
Pausas longas. 
Simplesmente acontecia. Na maioria do tempo, em que os dias passavam um após o outro, não pensava muito m ti. Porque os dias não nos dão tempo para pensar, os dias exigem apenas que você exista e cumpra aquilo que te mandam cumprir. Os dias se dizem livres, mas é uma liberdade disfarçada. Meus dias com você não tinham disfarce, eles eram atemporais. 
Você era a minha pausa, com seus pausados passos que jamais caminhariam seguidos dos meus.Desconfiava até que você não tinha passos, mas sim asas, ao passo que eu queria voar, mas ficava fixada no chão, como se vestisse uma pesada bota que diriam que era confortável para seguir meu caminho, mas que na verdade deixava tudo mais lento. Descalça. Era assim que me sentia com você. Pés no chão machucam, eu pensava. Mas pés no chão sentem, você me mostrava. Você que eu desconfiava que nem pés possuía. 
 Não sabia nada de você. Apenas que não adiantava a espera, você me esperava em certas esquinas quando eu estava mais distraída. Mas eu estou sempre distraída. Com você não adiantava encontros, mas sim os desencontros. Eram neles que a gente era. É em ti que sou, mesmo quando não sei exatamente o que significa ser. Não seja. Não queira. Sinta, somente. Não desespere, muito menos espere: perceba. E então eu percebi porque de tantos encontros furtivos, porque era justamente no meu despreparo que você me encontrava mais preparada: porque você me queria nua. Em todos os sentidos.  
Pausa. 
Descalça. 
Nua. 
Sua. 
Não. Minha. Sendo só minha é que posso doar-me por inteiro.
 Doei. E com você, nenhuma vez doeu.