quarta-feira, 28 de abril de 2010

Do belo.

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Falar sobre beleza é quase tão difícil que falar sobre amor. Nenhum, nenhum dos dois deveria ser definido. Eles não cabem em um contexto- são grandes demais.
De forma piegas, amor poderia ser mãos dadas, passeios, flores, te amo. Mas eu ainda prefiro silêncio, risadas, olhares, saudades.
E o belo? O meu bonito-padrão seria olho azul, cabelos enrolados, alto, risada perfeita, bermudas-chinelos-do-tipo-sou-casual. Mas eu ainda prefiro conteúdo, mil vezes conteúdo.
Não, nunca me prendi a definições. Gosto disso para no segundo seguinte não gostar mais. É que me prendo nas coisas que me fazem feliz.
Não deveria ser assim sempre?
Mas tem gente que prefere o piegas, o clichê, o que é definido, aceito como padrão. E na busca da perfeição, do mais belo, do mais certo, do mais bem visto, esquecem do grande detalhe: buscar o que as deixa mais feliz. 
Vai entender.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Ice Cream.


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Enquanto ela lavava o carro, porque era domingo – e algumas atividades só cabem ao domingo - ela sabia que tinha acabado. Porque a gente sempre sabe quando acaba, mesmo que a gente não queria que seja o fim.
Alguns amores são bons, mas tem data de validade. E enquanto ela não encontra O Verdadeiro Amor – será que encontro um dia? - ela ia saboreando os diversos tipos de amores que passavam por sua vida.
Mas esse era especial. Foi especial. Esse foi um daqueles que ela achava que iria passar o resto da vida. Eram poucos que ela se sentia assim.
É que veio com o pacote completo sabe? Tinha todo aquele frio na barriga que não passava, toda aquela saudade, ainda que ele tivesse acabado de ir embora para voltar no dia seguinte.
E não, não foi coisa de um mês. Já tinha 3 anos, e nada mudava, o sabor era o mesmo, até uns meses atrás.
Ah, esse amor era como seu sabor de sorvete preferido, em que ia comendo aos poucos, para não acabar logo. E a cada pedaço que retirava, era tão bom que parecia mesmo impossível de haver um fim. Mas ás vezes nessa ânsia de querer que o sorvete – ou o amor- dure para sempre, acabamos deixando ele no freezer por tempo demais. E então ele endurece, perde o sabor, faz mal - e insistimos em tentar ainda saborear. Mas chega uma hora que temos que nos desfazer dele, por mais que doa. E nunca mais queremos sorvete – ou amor.
Até que um dia alguém vem e lhe aparece com um sabor novo, que pode ou não durar para sempre (pode mesmo? Ainda não sei.).
E então tentamos.
E depois quando ela sentou no sofá da sala vestindo roupas velhas – porque ainda era domingo – ela se sentiu um pouco triste. Mas abriu um novo pote de sorvete, suspirou e saboreou sem se preocupar.

sábado, 17 de abril de 2010

Coca.


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E estava com sede de coca-cola, mas bebi paixão. É, dessa vez foi paixão, pra valer, sem pudor. Coisa que não tínhamos, se lembra?
Bebi paixão de outra fonte, que não a sua.
Porque aquele dia eu estava com sede de paixão – da sua paixão - e tudo que você me ofereceu foi uma coca-cola gelada servida em um bar triste qualquer. E eu remexia os canudos distraidamente enquanto você discursava que não tinha mais paixão, amor ou faísca sequer. Eu quis chorar sabia? Quis jogar aquela coca-cola todinha em você e dizer que a minha paixão estava ali, só que você é que não sentia mais sede de mim.
Mas continuei ali naquele bar triste, com você que não era mais meu sentado a minha frente.
Fui embora com sede ainda, mas deixei a coca-cola abandonada. E daí? Éramos duas abandonadas.
Nos primeiros dias senti sede de whisky, vodka, tequila até. E a sua sede não passava.
Depois tudo virou café, cigarros e cazuza.
Até que eu estava com sede de coca. E me ofereceram paixão.
Sem pudor, pra valer.
E matei minha sede.
E agora vejo você só, sentado nesse bar triste.
Sinto muito mas, não posso mais matar a sua sede. Te pago uma coca abandonada sem paixão.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

(In) Certo


Imagem: http://weheartit.com


E tinha os passeios de mãos dadas nos domingos e tudo mais. Nunca tivera beijos apaixonados na chuva, mas uma vez – se não se engana- rolaram na grama. Ou teriam corrido na beira do mar?
Mas tinha, e como tinha, os frios na barriga quando se beijavam. E quando se despediam – não importa por quanto tempo, um dia, semanas - tinha aquela sensação horrível da dor que é saudade. Da dor que é a incerteza, mesmo quando tudo se parece tão e tão certo. Estaria ele sentindo a mesma coisa? Teria ele a esquecido com o tempo? Quantas semanas afastados seria suficientes para que ela fosse apenas uma lembrança muda, como os banhos de chuva que nunca tiveram?
Hm, quem se importa afinal? O mundo não parava para responder suas incertezas mesquinhas.
Vai, vai vivendo, vai vendo, vai sonhando, mesmo quando não tem mais sonho, invente um. Sonhe com ele, comigo, com os três que somos: eu, tu e a solidão.
Hoje já é domingo e não tem passeio de mãos dadas. Mas tem café e risadas ao telefone? Saudades e agonia?
Um beijo imaginado, isso tem.
Um arrepio real.
E a felicidade da certeza de que tudo é incerto: Vamos vivendo a nossa história página por página. Nem era uma vez nem ponto final, virgulas e reticências e pontos de interrogação, exclamação e o que mais vier, só não paremos de escrever, sentir, imaginar, neste momento. E enquanto pudermos, enquanto fomos. No momento nós somos, ainda que.


"Não importa quanto vai durar - é infinito agora."
- Caio F. Abreu;

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Paixão e sapatos vermelhos.


foto: Crispi.

E ela estava calma enquanto se arrumava. Sentada na cama, sabia que deveria ser hoje, hoje o dia que.
Deu um suspiro, e com um certo medo – por que estaria assim? - foi até o armário e tirou os sapatos vermelhos. Aqueles sapatos vermelhos. Fazia tempo que não os calçava. Não havia sentido nenhuma necessidade, até então.
Colocou a melhor lingerie. O vestido preto. Maquiou-se com precisão, soltou os cabelos. Mas tudo era detalhe, e só depois que colocou os sapatos vermelhos se sentiu completa, sexy,segura. Sentiu paixão, estava pronta.
É que nos outros encontros – 4 ou 5? – tinha sido tudo tão normal. Ela simples, sapatos simples, passeios de mãos dadas, cinema, um hambúrguer – não obrigada, sem sobremesa, dieta sabe? - beijos na porta de casa, beijos simples e calmos, um certo frio na barriga ao ver ele entrar no carro. Até então, tudo sem sal. Mas não sabia por que, afinal ele era tão normal, mas ela estava envolvida. E sentia que hoje seria.
Se olhou no espelho mais uma vez e sorriu: ele chegara.


Ele cantarolava qualquer coisa que passava no rádio enquanto dirigia para casa dela. Não entendia como e por que ela não saia da sua cabeça. Ele nunca se envolvia. Já tivera alguns encontros, mais intensos, mais longos, e nunca tinha se envolvido assim.
Ela era tão normal. Se vestia um pouco fora dos padrões da moda – nada muito sexy também – mas ele gostava. Ela parecia exalar sensualidade por trás daquelas roupas e sorrisos casuais.
Não, ainda não tinham tido nada de emocionante, e ele não sabia porque ainda cismava em dirigir para casa dela. Não, não teve sexo, nem algo perto disso sequer, mas ela não saia da sua cabeça. Ele não queria admitir, ele não queria nada sério, ele não queria. Mas sabia que.
Parou na frente do portão. Sentiu um frio na barriga. E quando ela saiu, de vestido preto e sapatos vermelhos, ele estremeceu todo por dentro, por fora talvez também. Sentiu que hoje seria.

Estavam tensos durante todo o caminho. Ela de pernas cruzadas e ele com a mão fincada no volante. Fingiam conversar algo, mas era muito mais que isso. O vermelho do sapato, do momento, de tudo enchia o ambiente. Foram direto pra casa dele. Ele abriu a porta, e não conseguia parar de olhar os sapatos vermelhos, o vestido preto. Ela entrou em silencio. Ali mesmo, no meio da sala, ao som de nada – mas se tivesse música seria algo calmo e feroz como um blues entoado por uma voz rouca que berraria paixão, paixão - se beijaram loucamente, ferozmente, suavemente.
Ele acariciou seus cabelos e disse:
- É que eu ...
Então ela sorriu e respondeu:
- Eu também.
E não vou descrever o que aconteceu depois, é algo que não cabe aqui. Mas foi vermelho. De amor, paixão, loucura, sapatos.
Foi vermelho, e eles sabiam que.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Solidão. Por ora.


imagem:http://weheartit.com


É que eu não me permito. Tenho medo talvez. Mas quando o coração começa a acelerar descompassadamente, eu o abandono ali. Sou especialista em terminar o que ainda nem começou.
Porque por medo de sofrer, eu acabo sofrendo, mas sofro em solidão. Solidão vicia, é bela e dói.
Mas a dor de um amor perdido talvez (só talvez) seja pior que a dor da solidão.
Fumaria um cigarro agora. Me sentiria mundana. Penso em ti, como penso, e lá vem o coração acelerar de novo.
Ironia, afinal pensei eu ser impossível. Eu estava imune, vestida com todas as armaduras possíveis.
Talvez seja medo, mas quando a armadura começa a cair, quando alguém começa a penetrar naquilo que eu jurava ser impenetrável, eu abandono.
Não quero – por ora- que caía essa parede que construí. E você estava escalando, destruindo, perfurando, ultrapassando, ando, ando ando, amando. Amando.
Não quero.
Por ora
Prefiro isso. S-o-l-i-d-ã-o.
Mesmo que doa.
Mesmo que sofra.
Por ora.


"Quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?"
- Caio F. Abreu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mulheres.



Porque aquele dia ela só queria chegar em casa, tirar o salto e colocar meias. Meias, uma blusa velha e confortável, calcinhas grandes, prender o cabelo de qualquer jeito. Nada de glamour.
Queria fazer um brigadeiro e comer na panela, sem se preocupar com quantas calorias (e são tantas!) que estaria ingerindo ou quanto tempo teria que correr na esteira para não deixar de vestir 36. Queria ver um filme brega com um galã bonito, e chorar até soluçar, pensando que porque ela, Meu Deus, não podia ter um amor assim? Porque os homens são tão insensíveis, só querem sexo, não ligam no dia seguinte, e são incapazes de manter a TV no mesmo canal por 5 minutos?
Queria pegar a escova de cabelo e cantar aquele música bem brega que lembra aquele momento. Cantar bem alto com os olhos fechados, desafinada, mas se sentir mais diva que a Beyonce.
Queria ficar um dia inteiro sentada no sofá sem fazer nada, sem se preocupar com a casa bagunçada, o stress na empresa, os trabalhos da faculdade. Iria dormir abraçada com seu ursinho (ok, ela já fazia isso todas as noites), iria deixar o cachorro entrar na sala, só pra poder fazer carinho e ter o carinho retribuído sem nenhuma segunda intenção (homens deveriam aprender com cachorros, pensou.).
E quer saber? Aquele dia, ela chegou cansada do trabalho e fez tudo isso.
Porque ela é mulher, e toda mulher tem direito de deixar de ser forte, diva, independente, sair da dieta e ter seus surtos de vez em quando.