quarta-feira, 24 de março de 2010

Bar.


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‘O que estou fazendo aqui?’ pensava ela enquanto se dirigia com suas amigas agitadas para o bar. Ela só queria ir pra casa, para repetir o seu ritual de ficar de pijamas, ver um filme triste e chorar no final, lembrando-se que estava sozinha, que ele se fora, e sentir o cheiro – que já nem havia mais na verdade- dele na camisa abandonada ao lado da cama. Mas não, naquela sexta feira chuvosa fora arrastada para o bar, depois de uma aula chata, com uma professora chata.
Ela foi entrando um tanto tímida em meio as risadas escandalosas das amigas, seu pensamento longe. Talvez, só de raiva, se embebedaria essa noite e fumasse com muito charme um cigarro – muito embora não fizesse nenhuma dessas coisas – só para se convencer que não pensava mais nele, e sairia exatamente com ele na cabeça.
Porém algo a tirou do meio dos seus devaneios desvairados na porta do bar. Era uma voz suave que cantava qualquer coisa em inglês, e tocava o violão com a paixão de quem tocava em uma amante. Assim, suave, mas um pouco feroz. Exatamente como ela gostaria de ser tocada, pensou.
Ele a notou também, seus olhos se cruzaram. Ela sorriu debilmente, ele sorriu suavemente por entre as palavras que cantava.
E de repente ela amou aquele lugar. Amou suas amigas. Amou ter resolvido sair com sua calça favorita e passado maquiagem.
Pediu tequila.
E ficou sentada na mesa fingindo que não desejaria estar em outro lugar, apesar de ser verdade naquele momento. Olhava secretamente pra ele, sentia sua voz embalando as canções que eram justamente sua trilha sonora.
Depois de um tempo (uma eternidade?) ele parou de tocar. Foi até a mesa dela, e sem cerimônia sentou ao seu lado. Conversaram coisas bobas. Se beijaram.
Ele a levou pra casa.
E a vida dela, de repente, tinha uma outra melodia.
Viva o acaso.



Obs. Eu amo músicos.
Obs.² Desculpem a ausência. Semana de campeonato, sabe como é.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Das coisas da vida.


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- Foi porque a vida quis assim.
Era essa a resposta que ela sempre dava as pessoas que perguntavam porque eles não estavam juntos. E as pessoas entendiam, entendiam que o que separara eles foi isso, apenas isso: a vida. A vida acontecendo, a vida que une, a vida que separa.
E quando a olhavam com pena para lamentar que não deu certo, ela ria. Ria, e explicava que dera certo. Dera muito certo enquanto durou, todos aqueles anos.
Só que acabou, só isso.
Nem todo amor dura para sempre. Alguns, a gente acha que vai durar. 2, 3, 5, 10 anos, para descobrir que não era pra sempre, mas que deu certo por todo aquele tempo. Que era para ser assim.
E depois voltamos a ser livres, para amar por 2, 3, 5, 10 anos novamente. Ou para o resto da vida quem sabe?
Todos ficavam perplexos com a naturalidade que ela levava as coisas.
E perguntavam pra ela, qual a fórmula de ser assim. De não guardar mágoa, não sofrer.
Mas aí ela ria mais alto: claro que ela sofrera, guardara mágoa, achou que iria morrer e comeu uma caixa de bombom sozinha. Faz parte do pacote, sabe? Mas a diferença é o tempo que ela se permitia sofrer. Porque sabe, tem gente que quer sofrer sempre, quer ser vista como vítima. Gente que usa a tristeza de ter sido abandonada, por ter abandonado ou qualquer coisa do gênero como um escudo, para não se envolver mais.
Ela, ah ela não. Sofria o necessário, chorava o necessário, comia a quantidade de chocolate necessária – bem, talvez um pouco mais que a necessária- mas não deixava que a tristeza tomasse conta de tudo. Não por mais de um dia, pelo menos.
Se alguém fechasse a porta do seu coração,
Ela pulava a janela, e se permitia ser feliz outra vez.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Máscara.


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Ela chegara atrasada – mais uma vez – e entrou correndo desajeitada pela sala. Ele já estava lá, com seu ar misterioso que tanto e tanto mexia com sua curiosidade. Como de costume, ele nem se mexeu, e ela tinha tanta raiva! Como podia ele ser tão lindo assim de bermudas e chinelos, sem nenhum esforço? Como podia ela ter passado maquiagem, feito chapinha, colocado a sua melhor calça e ele nem se quer levantar o olho daquele (maldito) livro?
Ah, como ela queria ser aquele livro. Ter uma história interessante aos olhos dele. Prender a atenção dele de alguma forma.
Desastrada como sempre, sentou ao lado dele. Esbarrou nele –sem querer, sério!- e pediu desculpas, ele apenas sorriu, mas um sorriso educado, não irônico.
Droga. Ela odiava ele.
Queria puxar papo, queria esmurrar ele por nem perceber sua presença, queria beijá-lo porque ele era lindo e diferente.
Mas, como sempre não fez nada disso. Ficou ali, só a observar, imaginar.
Chegou em casa cansada. Se olhou no espelho e se viu linda, com a maquiagem ainda intacta, o cabelo liso, a blusa decotada (não do jeito vulgar, mas do jeito sensual bonito), mas viu que sua beleza era triste. Era uma máscara. Descobriu, infeliz que aquela não era ela, e assim alguma coisa que ela tentou criar para impressionar os outros.
Tomou o banho mais demorado que se lembrava.

No outro dia, chegara atrasada de novo – ela nunca ia aprender a chegar no horário- e nem sequer ousou olhar pra ele.
Sentou do lado dele, tomando o maior cuidado para não esbarrar nele dessa vez, e ficou ali lendo descontraída. Estava descontraída, porque nesse dia resolveu ir vestida dela mesmo. O cabelo enrolado estava solto naturalmente, usava uma blusa preta, uma calça leve e chinelos, sem medo de estar na moda ou não, estava apenas livre, mostrando o que ela realmente era.
E então, se surpreendeu com um oi jamais dito. Com uma conversa jamais antes iniciada – não iniciada por ela, pelo menos.
Era ele que estava falando com ela. Elogiou sua aparência, disse que jamais a havia visto tão bela.

O que eles conversaram depois? Não se sabe, ela não se lembra. Só se lembra de ter tido a feliz idéia de ser ela ao invés de ser o que os outros esperassem dela, e de como ficou feliz quando deixou as máscaras guardadas na gaveta.

domingo, 7 de março de 2010

Domingo.


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Ela andava meio introspectiva, e piorava porque era domingo e chovia.
Não tiraria o pijama, nem sairia da cama.
Sairia sim, na verdade, pra tomar aquele café forte ou a coca-cola que jazia na geladeira, levantaria para ir até a janela fumar seu cigarro enquanto cantarolava músicas que ninguém conhece.
No mais, não sairia da cama não.
É que a cama ainda guardava ele, ainda que a muito ele não estivesse passado por ali. Sair da cama pareceria uma despedida, uma despedida dura no domingo de chuva.
E por que ele saiu da sua cama, afinal?
Porque a uns tantos domingos atrás ele também não tiraria o pijama, não sairia da cama, e estariam abraçados feito tolos o dia inteiro. Ele com a barba por fazer, ela com o cabelo desgrenhado e vestígios de maquiagem da noite anterior.
E ficariam assim por horas, num ritual de dormir, acordar, ligar a teve e reclamar da programação do domingo, beber a coca-cola já quente que estava ao lado da cama e lamentando que amanhã seria segunda-feira.
Ah, que droga, pensou.
Mas não chorou, nem um pouquinho.
Fez melhor: levantou da cama, tomou um banho demorado usando todos os xampus e cremes e sabonetes que tinha direito, arrumou seu cabelo, passou kilos de maquiagem para parecer com um aspecto natural, colocou uma roupa, mas não uma roupa qualquer, colocou exatamente aquela blusa que ele achava brega – mas que ela amava- e seu shorts desbotado preferido de todos os tempos.
Antes de sair, olhou para a cama, um olhar de piedade, de despedida. Chega de viver o que passou.
E seguiu na chuva, apesar de ser domingo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bagunçado.




Triangulo-amoroso está tão na moda, que com ela não poderia ser diferente. Estava quieta, só no seu canto, e gostava de estar assim. Ser sozinha nem sempre significa solidão.
Mas nada na sua vida era normal por muito tempo, então logo ele veio e a encantou sem-querer. Mas ele morava longe, muito muito longe, era algo virtual e platônico, então para ela só restava sonhar e continuar na sua solidão-inventada.
Não demorou muito pra chegar um outro ele, um ele que estava perto. Estava perto e foi chegando, e sem querer roubou um pedaço do coração dela (só um pedaço, porque o outro pedaço já estava longe).
E agora ela está assim, no meio termo, no mais ou menos. Uma confusão só.
Ela que tinha afastado os móveis pra ficar vazia, agora estava toda bagunçada.
Porque parece obvio e fácil demais, mas é difícil escolher entre o real e o sonho ( um sonho que não é impossível, para esclarecer). Parece certo demais estar com quem está sempre ao seu lado, mas não é certo ter um coração perdido ao longe.
Por isso ela tinha afastado os móveis da sua sala.
Mas agora era uma explosão de sentimentos, e era difícil escolher uma decoração.


obs. Desculpe a demora pra responder os comentários. Vida de univeristária ON.