terça-feira, 23 de julho de 2013

Conto de uma madrugada fria.

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Faz dias que não durmo antes das duas da manhã. Não é insônia- até porque sono eu tenho a todo tempo – é uma mistura de muito trabalho, pouco tempo e uma cabeça muito pensante. Uma vez li em algum lugar que madrugadas talvez tenham sido feitas para pensar e não para dormir, e concordo plenamente.  Mesmo quando deito na minha cama quentinha e me enrosco gelada nos ursinhos  (sim, ursinhos), minha cabeça ainda fica um longo e longo tempo pensando, antes de se misturar entre devaneios e sono.

Escreveria livros inteiros pela madrugada adentro. Leio alguns – levo como meus amantes de noites sem sono o tenro Caio Fernando Abreu, o desbocado Charles Bukowski ou até a açucarada e divertida Meg Cabot. Não tenho frescuras na cama. Eles dividem comigo o que deveria ser uma noite de sono tranqüila, mas se transforma em horas de pensamentos misturados. Nessa mistura, penso em você. Inevitável.  Quase consigo te sentir ali, com a sua respiração doce e quente no quarto esfumaçado.

Outrora dividíamos nossas noites sem sono em algo mais divertido. As noites frias não eram tão geladas, as poucas horas dormidas eram totalmente justificáveis. Duas, três horas de pouco sono e não me sentia nada cansada – na verdade estava cada vez mais viva. Ainda que tivesse olheiras sobressalentes, o sorriso conseguia ofuscar tudo. Ah, como eram belas essas noites mal dormidas.

Talvez madrugadas não tenham sido feitas para dormir, mas sim para amar.

Faz cinco graus nesse momento, são quase três. Não tem café. No outro canto da cidade você se espalha em corpos vazios, eu me esparramo em copos sem vida. No outro canto da cidade você é só mais um personagem de um conto qualquer sobre alguém que não dorme.

Faz frio. Já são três. Sua lembrança já está tão gelada quanto os meus pés. Visto uma meia, dispo-me de você, me aqueço- te esqueço. Durmo, finalmente.

Você some da minha mente.

l-e-n-t-a-m-e-n-t-e.

Amanhã será uma nova madrugada.  E a cada hora que não se dorme, é uma história que tenho vontade de contar, mas nunca conto. Agora é cada um no seu canto, você no meu conto. Na minha crônica, anacrônica.