terça-feira, 27 de agosto de 2013

Conto cor de Carmim, ao som de Jobim.

Leo Fressato, veranizar.

Dizem que já superaram um ao outro. Seguem suas vidas, paralelas, sem se encontrar em becos, nem ruelas. Ele, Jobim, ela rock. Ele, carmim, ela rosa-choque. Os dois, paralelos, ela com a luz do abajur acesa fuma sem parar, ele trepa (assim, vulgar) com uma Maria sem nome. Ela, independente, ele, um tanto carente,  seguem suas vidas de um jeito, distante,  ausentes. Dizem que já superaram, mas suspiram e esperam por notícias um do outro, ainda que de um jeito discreto. Secretos, se encontram em pensamentos. Ele sempre atento, ela um tanto distante, ele, um acalento, pra ela, tudo apavorante.

Ele Sampa, ela Rio. Mas ele tem um corpo quente agora, e ela um quarto vazio. Ela pensa, repensa, vira de um lado pro outro. Ele afaga, suspira, esmaga, goza, se cansa e depois se sente um cara morto. É só desejo, ele pensa, passa a mão em seus cabelos morenos.  É só insônia, ela pensa, e fuma mais um cigarro no sereno.  Porque já superaram um ao outro, e eram estranhos agora. Mas lá fora, ainda que tudo seja solidão, ela sente uma presença. Lá dentro, embora tenha companhia, ele sente-se esmagado pela ausência.

No prédio dela, luzes se apagam e se acedem sem parar, e ela pensa no que ele estaria fazendo. Em sua casinha, longe de tudo, ele vai até a janela e se trai pensando nela. Seu suor ainda está escorrendo. Ela gostaria de sair correndo, gritar, arrancar isso pra fora. Ele, lá fora, gostaria de não ter corrido, e sente que precisava dela nesse instante, tipo assim, agora.

Ela chora. Ele da uma risada nervosa. Ela apaga o cigarro,  a luz, e volta para o seu mundo. Ele acende um cigarro,  a luz, e fica mudo. De repente, ela, no Jobim. Ele coloca baixo um rock. Ela passa um pouco de batom carmim, ele observa as calcinhas jogadas em seu chão, veja só! São rosa-choque. Quase pegam o telefone. Quase ligam para não dizer nada um para o outro. Ele Sampa, ela Rio. Ele quente, ela frio. Ele volta, ela dorme. Afinal, já eles já se superaram.


(Mas, pensam os dois sem querer, será mesmo que acabaram? Se esgotaram, por fim. Nem mais rock, nem carmim.)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Gente que deixa a vida mais leve.

Tem coisa melhor?

Acontece que eu não confio em quem não come carboidratos. Nem em quem nunca passou o domingo todo de pijamas. Pessoas que dirigem sem ouvir música não podem ser confiáveis. O que falar então de quem nunca raspou a panela de brigadeiro? Vixe, complicado. Impossível acreditar em quem nunca deu risada até a barriga doer. Ou, nunca assistiu rei leão. Quem não andou descalço na grama, quem não ficou dias sem arrumar a cama, quem nunca beijou um cara sem saber o nome ou então mentiu o número de telefone. 
Como acreditar, aliás, em quem nunca mentiu? Como posso entregar meu coração pra quem nunca roubou miolo do pão? 

 Ah, confessa vai. Eu sei que tu também já chorou assistindo um filme besta. Nunca ouviu pagode quando estava na fossa? Nunca comprou coisas no impulso – pra se arrepender logo em seguida? Ah, duvido que no seu guarda-roupa não tenha uma peça que tu não joga fora porque vai entrar nela algum dia. Tu nunca começou uma dieta na segunda-feira ou então prometeu que correria 10 km por dia na esteira? Nunca dançou na chuva, ficou sem pentear o cabelo, quis conhecer a Xuxa ou sofreu por dor de cotovelo? 

A  vida é séria demais para a gente ser certinho o tempo todo. Não consigo confiar em gente que não erra, que não leva a vida mais leve. Gente que quer o tempo todo comer 700 calorias e acaba perdendo a alegria de um bom miojo na preguiça de domingo. Gente que vive a procura da felicidade, mas que esquece o quanto é bom dar risada sem motivos. Gente que quer viver rodeada de pessoas bonitas e populares e não da valor aos verdadeiros amigos. Gente que diz eu te amo sem amar, gente que não sente paz ao olhar o mar. 

Acontece que eu não confio nessa gente. Mas elas estão a todo canto por aí, tentando se encontrar e cada vez mais perdidas. Amigo, larga um pouco a academia. Amiga, deixa a maquiagem de lado. Vamos comer muitas calorias e deixar a vida mais colorida com coisas mais leves. Vamos viver com menos status, menos likes, e mais alegrias.