sábado, 28 de junho de 2008

Café.




Andava na rua, no frio, alheia a tudo. A garoa teimosa caia, e o dia estava
pateticamente cinza.
Em passos apressados, ia a lugar nenhum. Viu uma doceria que parecia aconchegante, tudo que precisava era tomar um bom café pra colocar as idéias no lugar. Não hesitou em entrar. Mesmo com seu jeito enfático, ninguém pareceu notar sua presença. Ninguém se moveu. Era tudo meio cinza lá dentro também, mas era quente. O cheiro de café fresco e os doces na vitrine, convidativos. Sentou-se em uma das mesas com a toalha xadrez desbotada, e escolheu um capuccino tipo italiano com chantilly.
Enquanto esperava observava as pessoas afundadas em seus jornais lendo as rotineiras notícias de violência com um mesmo ar inexpressível de quem lê horóscopo. Era assim que acontecia, todos os dias a mesma coisa, e todos nós conformados, pensou. Mas assim que chegou seu capuccino, numa visão deslumbrante de chantilly derretendo, esqueceu de tudo.
Quando o paladar pode sentir o gosto perfeito do café com chocolate, ela sentiu como se não houvesse mais nada a se preocupar. Esqueceu dos próprios problemas que a faziam andar na rua num dia de garoa, problemas que julgava serem os maiores do mundo. Enquanto bebericava lentamente o capuccino, ia pensando que não havia graça em viver. Não tinha as roupas que desejava, brigara com os pais porque os mesmos não a deixavam voltar de madrugada as festas, e tinha um namorado por conveniência, que parecia nem ligar para sua existência. Mas algo a tirou de seu mundinho imperfeito: mãos pequenas e unhas sujas, que ofertavam jujubas.
Ao ver as mãos, observou tudo, os pés com chinelos, as roupas surradas e úmidas, os olhos. Os olhos brilhantes, mas um brilho de súplica. Encarou esses pequenos olhos, bem no fundo, e foi como se algo a tivesse despertado para o mundo. O mundo real, onde os problemas vão muito além de brigas com namorados ou preço de sapatos.
Ali na sua frente a realidade crua, nua, vendendo nada mais que jujubas, com um sentimento de culpa por estar tentando sobreviver.
Encarou o olhos.
Não comprou jujubas. Não pode.
Num ápice, abraçou o menino sujo. Assustado, hesitou por um momento, mas cedeu.
Ali, em uma cena que soava a compaixão, duas pessoas ganharam o mundo. A menina, por perceber que existe algo além de seus próprios caprichos, e o menino por saber que apesar de tudo, não se pode deixar perder o amor a vida.
Quando largou o menino, o brilho nos olhos dele já não era de súplica: mas sim de esperança.
Apressadamente, ela pagou o café, pagou um café para o menino, e foi-se.
E, apesar da garoa teimosa, nada parecia mais cinza.

(E o menino, quase sem entender, sorriu. Não vendeu Jujubas, vendeu realidade).

terça-feira, 17 de junho de 2008

Cabeça de Vento



Coitada, ela era um ser confuso.
Amava, amava loucamente, amava com o amor de quem se ama.
Amava em silêncio, pra ninguém perceber. Uma loucura.
Saia e sentia aquele vento frio antes da chuva. Forte, forte, bagunçava seus cabelos.
Mexia com sua cabeça, partilhava seu segredo.
Colocava em dúvida seu amor. Não podia.
Depois que passava o vento, vinha a chuva. Tudo voltava a ser cinza e normal.
Depois que passava o vento, voltava seu amor.
Não tinha mais dúvida naquele momento.
Por isso preferia amar baixinho.
E não preferia sentir o vento. Quando fechava os olhos e sentia o arrepio do vento, se sentia culpada.
Se sentia traidora.
Amava outro que não o vento. Assim pensava, assim pensava que sentia.Mas o que sentia? só Deus sabia.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Feliz dia dos (sem) Namorados



Só quero compartilhar, que depois de 17 dia dos namorados comendo chocolates e brigadeiros sozinha enquanto me acabava de chorar vendo algum filme com bonitões tipo Brad Pitt e terminando o dia 2 kg mais gorda, eu vou quebrar essa rotina!
E mesmo com todas as minhas neuroses sobre meu namoro, minhas dúvidas e etc, eu estou feliz ;)

Ps. Mas ainda acho que o dia dos namorados é um dia cruel criado pelos capitalistas para nos induzir a gastar muito. Pensa só, todas as categorias gastam nesse dia: Casais apaixonados compram presente um para os outros (dã), Solteironas tristes compram um monte de chocolate e mandam flores para si mesma, Solteironas legais compram roupa para si, por fingir que não estão nem aí com esse dia, mas no final do dia acabam com o pote de sorvete vendo Ghost (que por sinal eu acabei com um brigadeiro vendo esse filme na sessão da tarde ano passado).
Deveríamos boicotar datas assim. Pelo bem da humanidade e felicidade geral da nação, quer dizer, menos felicidade dos donos de locadoras e vendedores de chocolate, mas vamos lá, eles vendem isso o ano inteiro :)