terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sofá velho.

Foto: Cristina de Souza. http://flickr.com/photos/criispi


E chegou a hora de jogar fora o sofá velho. Ficou sentada nele, durante horas sem saber o que falar – era confortável ainda, pelo menos para ela- mas estava já meio rasgado, meio furado, mas ainda era o sofá dela.
Deixaria abandonado na porta de sua casa, ao relento, para que outro quem sabe soubesse fazer do sofá velho algo novo? Não, sentiu ciúmes. Quem sabe talvez largasse em alguma loja de sofás, alguma loja de bugigangas, até quem sabe restaurasse o tal sofá? Não, não serviria mais. Não se restaura um sofá velho, porque mesmo com aparência de novo todas as histórias velhas, todos as pipocas que acompanhavam os filmes, todas as moedas perdidas, todas as dores-nas-costas ou lágrimas escorridas estariam escondidas dentro do estofamento do sofá velho.
Se ao menos tivesse um porão ou um sótão ou um espaço poderia esconder o sofá velho ali, e quando sentisse saudades do seu cheiro único, das suas estampas desbotadas e das risadas que já tinha deixado por ali, era só matar as saudades. Mas, se assim fosse, temia nunca se acostumar com o sofá novo. Sofá novo. Era tão estranho! Sentiria falta.
Decidiu pedir para alguém pegar seu sofá velho. Alguém por aí, não queria saber o destino, o que iria ser feito, queria apenas que ele não tivesse mais ali no meio de sua sala, mostrando que já fora adequado aquela vida, mas que já estava démodé demais.
Deitou no sofá novo. Este estava meio tímido ainda, colorido demais, certinho demais. Saudades repentina, céus.
O sofá velho. O sofá novo. Era estranho, mas tudo ficaria no lugar, agora.