sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Literários.

No nosso livro, a nossa história, é faz de conta ou é faz acontecer?

Queria escrever mas já não sei quanto tempo faz. Tanto faz, tanto fez, fizemos disso uma história, que tem um final que parece triste, mas não é. Embora seja um ponto final e esteja mais para crônica do que para história, você escreveu umas linhas bonitas no meio de uma frase rabiscada. Eu quase não entendi o que significava, o motivo dessa sua pressa, mas tinha que ser assim. De que adianta páginas e páginas e páginas se no final fosse uma história vazia? Mais vale meia página de uns versos tortos que me faça lembrar de cada vírgula.

Só que o que acontece é que toda literatura é uma mentira. Escrevo porque é um jeito lindo de mentir, e de te ter aqui comigo. Digo que foi uma história linda porque assim fica mais gostoso de ler, conto para todos que cada palavra que me escreveu em uma página rasgada é de um sentimento surreal, mas é ficção. De todas as formas de mentira, literatura é a minha preferida, alguém disse. Tenho duas: literatura e você.

Te invento, a cada vez que quero lembrar-me de você. Te invento, por vezes como alguém especial que fez parte do meu mundo, por vezes como uma brisa leve que passou. A única verdade disso é que você veio e passou, e a vida sempre continua, e eu continuo te inventando de mil formas para disfarçar aquilo que você é, uma ilusão. Ah, como sei te escrever muito bem, como te encontro em certas músicas que você me apresentou, como te busco em certos corpos que surgem tão rapidamente como se vão. São eles uma espécie de literatura também, alguns tão suaves como poesia, outros tão pesados como um conto do Bukowski (de quando ele estava bêbado e desacreditado na vida), alguns ainda cheio de entrelinhas, como uma crônica perdida no meio de um livro da Clarice.

Minto, porque escrevo. Não sei em quantas linhas até agora falei a verdade. Mas tudo bem, todos mentem o tempo todo, todos estão sempre felizes, exibindo as pernas no domingo de sol ou tomando uma cerveja na sexta-feira fim de tarde, todos escrevem de um jeito – meio esquisito – a própria ficção. Que eu possa ao menos falar de um jeito bonito a mentira que você foi.


É tudo verdade. Fui lá ler o bilhete e você existiu mesmo. Quanto tempo já faz? Tanto faz, tanto fez, fizemos desse o nosso caminho, o que você faz eu não sei, eu escrevo para tentar traduzir em adjetivos bonitos a falta que você faz. Sobra linhas, sobra falta, inspiração é uma fartura para escrever a minha ficção sobre a mentira que é você.  Você acharia bonito, sempre achou lindo tudo que eu escrevia, vinha da alma, você disse. Não vinha não. Se você é o conto que escrevo agora, acho que sou sua literatura. Traduzida em música, que é tudo que me aproxima de ti. Só o que acontece é que literatura é tudo uma mentira. Linda e suave, mas ainda assim uma mentira. E eu sou a tua tanto quanto você é a minha. E ponto final.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tango.

Ao som de Gotan Project


O dia era domingo, a música tango. Respiração pausada, nariz com nariz, não falou nada. Eu ia, girei, me puxou de volta, apertou meu braço. Te quiero, sussurrou. Colado em seus lábios, respondi, permítanme. Abaixamos  a cabeça, mãos entrelaçadas, sua boca em minha nuca, o ritmo era devagar. Nossas pernas davam nós, a sós, na sala. Descabelada, você me bagunçava, apertava, era em preto e branco. Batom vermelho, já não tinha mais, não tem mais, mas a música continuava alto, tal qual nosso silêncio. Mesma sintonia, não errávamos um passo, ao passo que estávamos errados no caminho que se cruzavam tanto quanto nossos braços.

Tam tam tam tam, não parava, já não sabia se era a música alta ou a batida do seu coração misturado com o meu. Nos encaramos, a música deu uma pausa. Podia te ver em seus olhos, mas nada via, nada havia, me apertou num tranco. Girei girei girei, o salto já apertava meus pés, você a minha cintura, vestido colado ao corpo, vestígios espalhados no vazio, vazio que transformávamos em um tango dramático. Se não fosse triste, seria poesia. Talvez, exatamente por isso, fosse poético.

Exaustos, suados, estupefatos. Calados, como havia de ser, colados, como sempre era no final. Esgotados, já transbordávamos de nós mesmos, a música arranhava a vitrola, a alma, o coração. Não queria mais dançar, tango é tão drama e tão pele, mas esgota tanto. Não vê? Não pode ver, você só ouve, e me pede pra dançar no seu ritmo. Mas a essa altura eu já errava o passo, queria ser um bolero, mas como num refrão de um bolero, seus lábios eram meus labirintos, seu braços, minha prisão, e eu ansiava por ser livre.


O dia era terça-feira (ou quarta?). A música, um blues. Com voz rouca. A sala estava esfumaçada e vazia. Não se dança blues a dois. Mas era a música que me cabia afinal, e no final, soava tão dramático quanto. Well now it's three o'clock in the morning, and i can't even close my eyes. B.B. King sabia do meu tango. E agora compartilhava do meu blues, nessa imensa sala de solidão. Sem coreografias, dessa vez.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Love is a verb.

Love ain't a crutch, It ain't an excuse


Amor é um verbo. Difícil de conjugar. Perfeito, pretérito-mais-que-perfeito, composto, futuro-do-pretérito, presente, imperfeito. Por vezes, soa como uma onomatopeia – disfarçamos ele com palavras toscas para deixar mais suave aquilo que já era para ser dito por si só. Ele parece uma ironia também. Tem gente que o trata como um substantivo qualquer, outros querem que ele seja o sujeito da ação, mas ele é a própria ação, não o deixe estagnado, não coloque três pontos, não seja ridículo de termina-lo com um etecetera. Eu não sou boa em conjugação verbal – parece que ele é o futuro de um passado perfeito que está preso num futuro imperfeito, sem interjeição.

Busco sinônimos, encontro anônimos. Disfarço com metáforas, recebo como resposta a antítese daquilo que digo sentir. Faço dele uma hipérbole, exagero, drama, mas ele volta sempre como uma sinestesia: no cheiro que me lembra uma música que me lembra um gosto que me lembra uma pele que me lembra um som que me lembra você. Assim, sem vírgula, ou exclamação – por hora, questionamentos, agora, ponto final.  Um paradoxo que tenta aproximar nossas ideias contrárias, redundante porque digo sempre o mesmo. Que não quero. Que sou analfabeta. Que cansei. Que não conjugo, que ficou no pretérito, que não pretendo futuro, que foda-se o presente. Usei um palavrão, que destoa com o tom das metonímias que uso para complicar aquilo simples de dizer. Porque o amor é verbo, é palavrão, é sujo, eloquente, quente, quente, quente.

Estou me contradizendo: amor não tem tempo. É um verbo puro. Amor apenas é. Do verbo ser mesmo. Assim, simples: amor é. Amar é. A gente é. Não era pra ser, é. Porque (tudo junto, conforme mandam os bons professores de português) não tem erro. Não existe era amor, foi amor ou será amor, já era amor antes mesmo de ser.


Não sei. Estou prolixa. Mas espero que entenda minhas entrelinhas.

domingo, 13 de outubro de 2013

Filosofia vira-lata.

A liberdade é um cachorro vira-lata - Millôr Fernandes


Os de raça são todos iguais. Cara de um, focinho de outro. Eles precisam de artigos de petshop de grife para manter a compostura. Só comem comida com pedigree. Andam em bandos, sempre com uma trupe da mesma raça, falando as mesmas coisas banais. Sempre o mesmo tom de latido, não mijam nem pensam fora da caixa. Engomadinhos, são criados  em apartamentos caros na beira do mar. Pra manter seus músculos fortes e o padrão da raça, correm no final de tarde, bebem água mineral e fogem da boêmia. Só farejam cadelinhas com pedigree legítimo igual ao seu – mas como todo bom cachorro, cruzam muito por aí. Voltam ao seu apartamento, se olham no espelho orgulhosos do que veem, não se importam que são iguais ao da mesa raça. Postam foto no instagram e vão dormir satisfeito por fazerem parte daquele quadrado único.

Nascem de uma mistura, o que os fazem únicos. Alguns são pequenos, outros grandes, pretos, brancos, pretos com brancos, pelo liso, enrolado, sem pelo. Andam em grupo também, mas nenhum é igual ao outro. Ás vezes comem algo com pedigree, outras se viram catando algo delicioso na esquina. As esquinas, aliás, são sempre uma aventura: estão em todo canto da cidade, alguns não tem casa, outros moram numa caixinha de papelão, muito pequena para o tamanho das suas ideias. Boêmios, são da rua, dos bares, dos botecos sem raça. Quase nunca ficam doentes, não tem medo da chuva, do sol forte,  são filhos do gueto. São malandros, tem samba no pé, gingado no corpo, mandriões. Ás vezes olham a trupe dos cães de raça passando por ali, e tiram sarro através de um uivado esganiçado.

Tem os que nascem cheio de raça e caem na graça dos vira-latas. Existem os que nascem sem eira nem beira e fazem tudo para caber dentro da caixinha seleta. Uns são adestrados por natureza, outros fazem questão de se adestrar e repetir tudo que mandam: faça assim, vista isso, seja aquilo, ouça essa, não saia com aquela, prefira as poodles, aquela é só uma cadela. A cidade é uma matilha, sábados a noite são uivantes, terminam com latidos estridentes, alguns choram quietinhos no canto com o rabinho enfiado entre as pernas, outros ladram, mas não mordem. Na segunda, alguns vão para seu canil, passam oito horas por dia imaginando como é ser livre e correr na estrada quando bem entender. Outros, tem a oportunidade de não precisar se desgastar num canil, mas passam o dia presos em seus apartamentos se sentindo felizes porque são “livres”.


Os de raça, são sem graça. Sabemos sempre o que vem por aí. Os sem raça definida se definem na sua variedade: a gente nunca espera o que acontece depois. Não gostam de coleiras, mas podem andar sempre ao seu lado, sem a necessidade de serem mandados. Uns, exibem orgulhosos seu pedigree, enquanto outros, como eu, só querem seguir a minha filosofia vira-lata.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Sem nome.

Ao som de 'Pra você dar o nome ' - 5 a seco.

Queria poder dar um nome pra isso. Uns chamam de amor, eu chamo de loucura, outros dizem que da no mesmo. Os céticos, de ilusão, os românticos, de doçura, e eu ainda não sei não. É pele, me disseram, é dose, respondo eu. Osso duro de roer, essa coisa que não sei dar o nome, mas que ao mesmo tempo sei que é você. Deve ser isso: o que sinto é você, me preencho de você, tem você me perturbando antes de dormir, tem o teu cheiro que só eu sinto nos ambientes que você nem frequenta mais. Não tem nome porque não quero categorizar aquilo que não cabe em rótulos, amor, pele, desejo, paixão, porque não? Porque não. Não quero. Mas ainda assim te quero tanto que não sei do que chamo, mas sei que te chamo, mas sei que tem chama.

Chama acesa que eu tento apagar com tantos outros nomes que cruzam meu caminho. Chama que escondo por trás de uma cara blasé quando alguém fala seu nome e eu finjo que não sei de quem estão falando. Não quero dar nomes. Mas quero o meu nome junto ao teu. Queria ser anônima, queria não saber de quem eu falo, mas por mais que  eu me cale tudo parece gritar. Quero ir aí, te chamar, falar bem alto teu nome  e o nomear que sinto, mas sinto muito, nunca fui boa em colocar título nas coisas.


Nossa história não tem título. Nossa história sequer é uma história, afinal. Sem final, sem roteiro, mas poderia ser chamada de mentira, me disse o pé no chão. E eu, cabeça nas nuvens, respondi que poderia ser verdade, mas que eu prefiro  achar que é nada, embora o nada ainda seja uma palavra que espera tradução (obrigada, Gessinger). Na falta de uma palavra melhor, decidi chamar de amor, uns me dizem que é loucura, mas da tudo no mesmo afinal. 

Tudo é você.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Crônica Placebo

Para vocês dois, que são os melhores placebos que eu poderia ter.


Um estudo feito em não-sei-onde que eu li em algum lugar comprovou que o placebo funciona de forma positiva na vida das pessoas. Lembro-me que foi assim: pegaram um grupo que tinha um determinado sintoma e deram remédio que prometia curá-los daquela doença. Só que o remédio era feito de farinha, sem o conhecimento dessas pessoas – e, adivinha? Elas ficaram curadas. O simples ato de tomarem uma coisa que achavam que as fariam melhorar curaram seus sintomas.   

Isso me fez perceber que na verdade tudo que a gente precisa às vezes é de um placebo. Seja para curar dor de cabeça, dor de barriga, dor de cotovelo, falta de apetite, falta de vontade ou falta de vergonha na cara. E esse placebo não precisa ser de farinha – pode ser um dia placebo, um amigo placebo, um livro placebo, uma crônica placebo, tanto faz. Mas você precisa desse apoio para querer se curar, seja lá qual for o seu sintoma.

E não pense que sua alternativa placebo é falsa, aliás, ela é muito verdadeira. Porque esse comprimido feito de algo aparentemente falso é o que desperta as suas coisas mais verdadeiras. Precisamos da dor, sentimos ela, mas veja só: precisamos que nos ofereçam algo para que possamos atravessá-la. Precisamos de uma muleta para vencer uma barreira, mesmo que seja uma muleta inventada.

Eu tive um domingo placebo dia desses. Domingo, por si só, já é uma depressão em forma de dia. Mas nesse, em especial, resolvi dividir com pessoas que me faziam bem. Rimos sem motivos, dançamos na varanda, comemos gordices e sentimos que a vida era maravilhosa. Uma dose de domingo placebo e de repente o mundo que pesava em minhas costas parecia ter virado asas, e eu sentia uma vontade imensa de voar. E por mais que tivesse sido só um simples domingo, simples igual farinha, casou um efeito tão devastador quanto uma overdose de remédios quimicamente testados em laboratórios que fazem testes não-sei-onde, que li em algum lugar.


Descubra sua dor. Aí, tome seu placebo. Então, curta suas asas, porque a vida é na verdade muito leve. O que pesa é justamente toda essa droga que tentam nos empurrar goela abaixo.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Maya

O nosso amor a gente inventa.


Os escritores, os poetas, as músicas já nos avisam: é tudo ilusão. Bukowski fala que o amor é uma espécie de preconceito, afinal a gente só ama o que precisa, o que faz sentir bem, o que é conveniente. Caio diz que não há nada a ser esperado ou desesperado, que é tudo maya, ilusão ou samsara, círculo vicioso. Cazuza segue cantando que o nosso amor a gente inventa pra se distrair, e que quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu. Poderia citar mais ilustres frases que de uma maneira sincera, suja, bonita ou simples acabam por dizer exatamente a mesma coisa: que tudo termina – e que quando acontece, fica aquele sentimento de ‘será que era mesmo’?

Quantos sentimentos a gente não inventa? Aquele beijo teria sido realmente tão bom ou era só conveniente no momento? O carinho foi mesmo de arrepiar a alma, ou só arrepiou a pele? Pele. Essa coisa que vivemos confundindo com amor – mas que não deixa de ser também, de uma maneira diferente. Afinal tudo mesmo é amor e tudo mesmo é ilusão, cabe a nós pensarmos como o velho Bukowski e ver o que era conveniente na ocasião.


Não, não pense que eu não acredito no amor, nem que nunca fui amada. Já amei por anos e por instantes, tudo com a mesma intensidade – porque amor, paixão, pele, desejo, ilusão vem tudo do mesmo lugar, e não tem que ser taxados com tempo. Parem de categorizar tudo, sintam e só. Por anos ou por minutos. Se não sabe o que fazer, seja Caio: não faça nada, fazendo tudo. E se ainda assim não der, faça como eu – e Cazuza – conte apenas uma história romântica.

domingo, 22 de setembro de 2013

Tic. Tac.

'O tempo não para' - Cazuza


A gente nunca percebe que a vida passa tão depressa. Tudo é tão efêmero, cada dia a mais é um dia a menos meu bem, e nessa de não perceber a vida voando ao nosso redor, ás vezes fazemos tudo errado sem nos dar conta. Esse momento, cada segundo, cada minuto, já passou, já não cabe mais. Presente não existe, porque em um instante ele já é passado, e o que passou não volta. Bem na verdade o passado, presente e futuro não existem – tudo se une numa coisa só. E quanta coisa a gente perde por besteiras, por se apegar ao que não devemos, por medo? Abraça sua loucura antes que seja tarde demais, disse o poeta, e quantas dessas a gente deixa de abraçar por burrices?

É Clarice, tu tens razão:  vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre. Mas a gente não percebe e vai brincando com diversas coisas – levam o sentimento, o amor, a paz, as virtudes, tudo na brincadeira. Vão levando assim, vivendo vagamente, superficialmente, sem perceber que um dia –puf- acabou. Ainda ontem eu comia bolinho de chuvas na casa da minha avó, agora, sou eu quem faço os meus próprios. Ainda ontem eu reclamava da vida dura de estudante do ensino médio, agora sei bem o que é uma vida dura.

Quantas palavras deixamos de dizer, quantas insanidades não cometemos, por medo do amanhã? Mas o amanhã, meus caros, já passou. Passa depressa. É engraçada, aliás, essa teoria do tempo: ele se arrasta tanto quando esperamos por algo – ou alguém – e passa tão depressa quando finalmente estamos realizando aquilo que queremos. Chega a ser uma ironia. Por isso, temos mesmo que viver, intensamente, sem medos, sem mágoas, sem se apegar aos rótulos dos outros. Se tu ama, ame mesmo, ame profundamente, porque logo mais o amor pode acabar, quem garante? Se tu quer, vá atrás. Se não quer, diga, não aprisione, não engane – a vida é muito curta para fazer os outros perderem o tempo precioso que não tem.

 Quero escrever tudo isso sem vírgulas, sem aspas, sem pontos, sem revisão. Queria poder falar tudo que pulsa aqui dentro, queria poder correr e te abraçar e dizer que te quero tanto e tanto. Queria poder conhecer tudo no mundo, ler todos os livros que desejo, ouvir todas as músicas que não conheço, fazer tudo aquilo que não fiz. Mas, veja só, não tenho tempo. E a cada dia tenho menos  ainda. Acho que as pessoas não percebem isso, não conseguem mensurar o quanto passa depressa. Talvez, se realmente prestassem atenção no quanto tudo voa, não ficassem estagnadas. Estamos perdendo tempo, meu bem. A cada minuto.


Tic Tac.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma história de borboletar.

'Mas se você brisa... venha me brisar'

Ainda éramos tímidos um com o outro no primeiro dia que você fez uma das coisas que sabe fazer tão bem: me arrumou, deixando-me irreconhecível. Mas aquele dia não foi o milagre que você fez em mim que me deixou deslumbrada, mas a música que você colocou pra tocar e cantarolava baixinho. Primeiro, Tulipa. Depois, Tiê. Sambinha bom entrou em meus ouvidos também, tão bom quanto silenciosamente o prazer de se identificar com alguém, mesmo sabendo tão pouco. Aliás, esse tão pouco é que nos deixou próximos, pouco a pouco, de letra em letra de cantores que quase ninguém conhecia, de risadas sem nexo, de lembranças prolixas e madrugadas de insônia compartilhando meros devaneios tolos a nos torturar – como canta Zé em uma das músicas que temos que ouvir sempre que nos vemos.

Em uma dessas madrugadas, enquanto lamentávamos nossas dores através das canções – que são também poesia – eu te perguntei por que éramos tão sentimentais, afinal. Você me disse que queria ser mais durão e ser igual aquelas pessoas que a gente vê por aí. Bem da verdade, nós somos privilegiados. Tudo bem que sentimos mais, sofremos mais, fazemos tudo muito mais intensamente, e que parece que as pessoas não ligam muito pra isso – e algumas realmente não ligam mesmo – mas, em contrapartida, vemos beleza onde ninguém vê. Sentimos as coisas de um jeito único.

Borboletamos.

Isso foi o que eu mais aprendi contigo. Em tão pouco tempo, fez com que eu borboletasse por aí. Borboletar, sair do casulo, bater asas de um jeito leve e livre. Livre para ser, pensar e sentir exatamente como fazemos, levando a vida sempre como se a cada canto existisse uma poesia escondida. E sabemos que existe. A gente se diverte cantando na cozinha. A gente nunca tem grana – mas somos ricos, muito ricos. Temos sofá velho e música boa. Temos insônia e lembranças que nos afligem, que dói lá no fundo da alma. Temos nosso drama particular, temos a dor da saudade e a incerteza do caminho que seguimos na vida. Mas seguimos, e lutamos  - sempre com a leveza de borboletar. Alguns pensam que não sabemos nada, outros nos olham como se fossemos loucos, porque falamos de misticismo, Deuses, planetas, fumamos cigarros, não queremos fazer parte daquela mesma panela. Eles estão certos, somos mesmo loucos. Porque é preciso ser louco para sair do casulo e ter coragem de ser quem se é. É preciso uma mente insana para sentir. É preciso coragem para amar,qualquer tipo de amor.


Somos vendaval.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sem adjetivos, nem verbos.

Weheartit.com


Queria escrever sobre você. O cursor pisca insistindo por alguma palavra, mas a página segue em branco. Não que eu não tenha o que dizer – pelo contrário, você é uma fonte inesgotável de inspiração. Poderia dizer mil coisas, usar mil floreios ou palavras difíceis para enfeitar isso tão simples que sinto. Mas não consigo. Não consigo te transformar em ficção, literatura, porque você foi a coisa mais real que me aconteceu. Tão longe, tão aqui. Só sei escrever lindamente sobre mentiras, sobre coisas que observo. Coloco nas palavras sentimentos e anseios que são mentiras sinceras – obrigada Cazuza – ou realidades inventadas, mas se quero dizer exatamente o que pulsa aqui dentro, não consigo.

Você me cala. Você me faz querer justamente as coisas que mais fujo desse mundo. Você faz eu me sentir piegas, brega, me faz  escrever coisas clichês. O amor – posso chamar disso? – é clichê. É o ridículo da vida, diria Cazuza em sua voz rouca novamente. Ninguém quer ser ridículo, tolo que somos. Na tentativa de não ser piegas, disfarçamos das maneiras mais óbvias possíveis aquilo que a gente sabe que sente. Por que sentir, afinal, é tão difícil?


Não sei explicar. Do mesmo jeito que não sei ter coerência quando tento te retratar como minha literatura. Incoerentes, aliás, é tudo que somos, fazendo as coisas sem nexo, sem sentido, tão confusas, difusas, e por serem assim tão tortas, tão reais. Ainda estou na dúvida, aliás,  se queria ter te encontrado ou apenas continuar com a ideia do que teria sido. Não sei mensurar, não sei explicar, não sei escrever: você me bagunça. Bagunça todas as palavras que já deixo organizadas para escrever sobre isso, confunde os adjetivos, advérbios, verbos e tantas outras coisas que serviriam para me nortear. Meu senso de direção não funciona com você, porque não temos direção – apenas seguimos para o agora, e quem sabe, o infinito. É assim mesmo, ao som do Lenine: não me importo com a lógica, quero só o que me interessa.    

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Conto cor de Carmim, ao som de Jobim.

Leo Fressato, veranizar.

Dizem que já superaram um ao outro. Seguem suas vidas, paralelas, sem se encontrar em becos, nem ruelas. Ele, Jobim, ela rock. Ele, carmim, ela rosa-choque. Os dois, paralelos, ela com a luz do abajur acesa fuma sem parar, ele trepa (assim, vulgar) com uma Maria sem nome. Ela, independente, ele, um tanto carente,  seguem suas vidas de um jeito, distante,  ausentes. Dizem que já superaram, mas suspiram e esperam por notícias um do outro, ainda que de um jeito discreto. Secretos, se encontram em pensamentos. Ele sempre atento, ela um tanto distante, ele, um acalento, pra ela, tudo apavorante.

Ele Sampa, ela Rio. Mas ele tem um corpo quente agora, e ela um quarto vazio. Ela pensa, repensa, vira de um lado pro outro. Ele afaga, suspira, esmaga, goza, se cansa e depois se sente um cara morto. É só desejo, ele pensa, passa a mão em seus cabelos morenos.  É só insônia, ela pensa, e fuma mais um cigarro no sereno.  Porque já superaram um ao outro, e eram estranhos agora. Mas lá fora, ainda que tudo seja solidão, ela sente uma presença. Lá dentro, embora tenha companhia, ele sente-se esmagado pela ausência.

No prédio dela, luzes se apagam e se acedem sem parar, e ela pensa no que ele estaria fazendo. Em sua casinha, longe de tudo, ele vai até a janela e se trai pensando nela. Seu suor ainda está escorrendo. Ela gostaria de sair correndo, gritar, arrancar isso pra fora. Ele, lá fora, gostaria de não ter corrido, e sente que precisava dela nesse instante, tipo assim, agora.

Ela chora. Ele da uma risada nervosa. Ela apaga o cigarro,  a luz, e volta para o seu mundo. Ele acende um cigarro,  a luz, e fica mudo. De repente, ela, no Jobim. Ele coloca baixo um rock. Ela passa um pouco de batom carmim, ele observa as calcinhas jogadas em seu chão, veja só! São rosa-choque. Quase pegam o telefone. Quase ligam para não dizer nada um para o outro. Ele Sampa, ela Rio. Ele quente, ela frio. Ele volta, ela dorme. Afinal, já eles já se superaram.


(Mas, pensam os dois sem querer, será mesmo que acabaram? Se esgotaram, por fim. Nem mais rock, nem carmim.)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Gente que deixa a vida mais leve.

Tem coisa melhor?

Acontece que eu não confio em quem não come carboidratos. Nem em quem nunca passou o domingo todo de pijamas. Pessoas que dirigem sem ouvir música não podem ser confiáveis. O que falar então de quem nunca raspou a panela de brigadeiro? Vixe, complicado. Impossível acreditar em quem nunca deu risada até a barriga doer. Ou, nunca assistiu rei leão. Quem não andou descalço na grama, quem não ficou dias sem arrumar a cama, quem nunca beijou um cara sem saber o nome ou então mentiu o número de telefone. 
Como acreditar, aliás, em quem nunca mentiu? Como posso entregar meu coração pra quem nunca roubou miolo do pão? 

 Ah, confessa vai. Eu sei que tu também já chorou assistindo um filme besta. Nunca ouviu pagode quando estava na fossa? Nunca comprou coisas no impulso – pra se arrepender logo em seguida? Ah, duvido que no seu guarda-roupa não tenha uma peça que tu não joga fora porque vai entrar nela algum dia. Tu nunca começou uma dieta na segunda-feira ou então prometeu que correria 10 km por dia na esteira? Nunca dançou na chuva, ficou sem pentear o cabelo, quis conhecer a Xuxa ou sofreu por dor de cotovelo? 

A  vida é séria demais para a gente ser certinho o tempo todo. Não consigo confiar em gente que não erra, que não leva a vida mais leve. Gente que quer o tempo todo comer 700 calorias e acaba perdendo a alegria de um bom miojo na preguiça de domingo. Gente que vive a procura da felicidade, mas que esquece o quanto é bom dar risada sem motivos. Gente que quer viver rodeada de pessoas bonitas e populares e não da valor aos verdadeiros amigos. Gente que diz eu te amo sem amar, gente que não sente paz ao olhar o mar. 

Acontece que eu não confio nessa gente. Mas elas estão a todo canto por aí, tentando se encontrar e cada vez mais perdidas. Amigo, larga um pouco a academia. Amiga, deixa a maquiagem de lado. Vamos comer muitas calorias e deixar a vida mais colorida com coisas mais leves. Vamos viver com menos status, menos likes, e mais alegrias.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Conto de uma madrugada fria.

wehaertit.com
Faz dias que não durmo antes das duas da manhã. Não é insônia- até porque sono eu tenho a todo tempo – é uma mistura de muito trabalho, pouco tempo e uma cabeça muito pensante. Uma vez li em algum lugar que madrugadas talvez tenham sido feitas para pensar e não para dormir, e concordo plenamente.  Mesmo quando deito na minha cama quentinha e me enrosco gelada nos ursinhos  (sim, ursinhos), minha cabeça ainda fica um longo e longo tempo pensando, antes de se misturar entre devaneios e sono.

Escreveria livros inteiros pela madrugada adentro. Leio alguns – levo como meus amantes de noites sem sono o tenro Caio Fernando Abreu, o desbocado Charles Bukowski ou até a açucarada e divertida Meg Cabot. Não tenho frescuras na cama. Eles dividem comigo o que deveria ser uma noite de sono tranqüila, mas se transforma em horas de pensamentos misturados. Nessa mistura, penso em você. Inevitável.  Quase consigo te sentir ali, com a sua respiração doce e quente no quarto esfumaçado.

Outrora dividíamos nossas noites sem sono em algo mais divertido. As noites frias não eram tão geladas, as poucas horas dormidas eram totalmente justificáveis. Duas, três horas de pouco sono e não me sentia nada cansada – na verdade estava cada vez mais viva. Ainda que tivesse olheiras sobressalentes, o sorriso conseguia ofuscar tudo. Ah, como eram belas essas noites mal dormidas.

Talvez madrugadas não tenham sido feitas para dormir, mas sim para amar.

Faz cinco graus nesse momento, são quase três. Não tem café. No outro canto da cidade você se espalha em corpos vazios, eu me esparramo em copos sem vida. No outro canto da cidade você é só mais um personagem de um conto qualquer sobre alguém que não dorme.

Faz frio. Já são três. Sua lembrança já está tão gelada quanto os meus pés. Visto uma meia, dispo-me de você, me aqueço- te esqueço. Durmo, finalmente.

Você some da minha mente.

l-e-n-t-a-m-e-n-t-e.

Amanhã será uma nova madrugada.  E a cada hora que não se dorme, é uma história que tenho vontade de contar, mas nunca conto. Agora é cada um no seu canto, você no meu conto. Na minha crônica, anacrônica.


domingo, 23 de junho de 2013

Um conto perdido sobre pessoas perdidas

Weheartit.com

As pessoas estão perdidas. Elas estão vazias, se preenchendo com coisas sem sentido. Amar hoje em dia é algo vago, confuso. Todos querem o amor, para cada grau que cai na temperatura dobra o número de ‘relacionamentos sérios’ nas redes sociais. Quantos desses são sérios mesmo? Querem passar os domingos a tarde de pé enroscado, ao mesmo tempo que não querem abrir mão dos sábados entre vários corpos e milhares de copos de bebida. O corpo, esse cartão postal, é mais cultuado que o coração. Alimentam as coxas, as moças usam roupas que tudo se mostra, os rapazes as puxam pelo braço, beijam-se sem saber o nome, queixam-se no outro dia da ressaca e sozinhos vão dormir pensando que queriam companhia, ou voltam para as suas casas onde a moça espera, acreditando na palavra de que nada aconteceu na noite anterior, fingindo não ver a mancha de batom ou o perfume que não é seu, só para não ficarem sozinhas, afinal. 

Todos querem sexo. Eu quero sexo, você quer sexo. Mas e o sono do outro dia, quem quer? As pessoas estão perdidas. O Joãozinho ali do outro lado da pista tem uma namorada linda, querida, inteligente e simpática, mas insiste em tentar beijar a Maria que dança de forma insinuante, sem largar a sua bebida cara e sem gosto. Por que essa atitude, Joãozinho? O que te falta? Falta confiar nas pessoas, me responde ele. Balança seus braços fortes e tatuados, me contando uma história triste sobre seu último relacionamento. Diz Joãozinho que amou demais, que queria casar, mas que levou um chifre. Desde então, o pobre Joãozinho não consegue mais confiar nas pessoas, por isso trai. Joãozinho, bonito, porque tu faz com a sua menina justamente o que te fez sofrer tanto? Ele não tem resposta, apenas da um gole na bebida e vai atrás daquela Mariazinha. Você também está perdido, João, não use seu coração partido como desculpas para partir mais corações. Você também está perdido. 

Aquela outra menina, é bonita. Além de bonita, é inteligente. Lê bons livros, conversa sobre qualquer coisa, é independente, livre, gosta de futebol, sexo, é divertida. Mas está sozinha. Por que, questiono eu, e ela me responde justamente o que eu já sabia: as pessoas estão perdidas, vazias. Numa noite, se entregam, mas ao invés de procurar se conhecer um pouco mais, procuram novos corpos nas outras noites. Se preenchendo de corpo em corpo enquanto de copo em copo se esvaziam, transformam pessoas em estatísticas, mas continuam reclamando da falta de amor no mundo. Criticam a traição que já sofreram, mas continuam traindo como uma desculpa de auto proteção. Você que me desculpe, mas eu não engulo sua história triste não! 

 Ah, o amor, pobre coitado dele. Tão perdido quanto essas pessoas. Mas ele está ali, no meio, só esperando o dia que ele valha mais do que os gomos no tanquinho da barriga. Esperando que pese mais do que a quantidade de peso para se manter uma bunda dura. Ah, o amor, fica só esperando para parar de ser usado de desculpa das burrices das pessoas para ser virar o motivo para não se fazer mais burrices. Ei, amor, desiste não! As pessoas estão perdidas, mas perder-se também é caminho. Um dia elas despertam e percebem que quem está em todos os lugares não está na verdade em lugar nenhum. Quem tem muitas pessoas não consegue ter ninguém de verdade. Que os relacionamentos sérios de inverno se aqueçam no verão, que as desculpas não sirvam mais para ter atitudes hipócritas, e que o sentimento e o conteúdo valham mais do que um amontoado de corpos bonitos. Que a liberdade não seja confundida com libertinagem, e que ainda existam pessoas, que assim como eu, já estiveram perdidas mas que acreditam nessa palavra forte, que acreditam que ainda há uma solução para essa confusão de sentimentos no mundo. Que a música ainda fale sobre isso, que escritores ainda persistam, que ainda existam domingos de tédios compartilhados que se transformem em segundas, terças e sábados. Que assim seja.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Coisas que não fiz.

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Comecei um texto pelo título, coisa que jamais faço. Acordei e não te quis por perto, porque você já estava ali. Estava ali, do meu lado, porque deixei de ir pra casa. Deixei de entregar o texto que tinha pra fazer, deixei de levantar mais cedo como devia. Deixei de ficar séria e ri, ri sem parar, falei coisas sem lógica. Por que será?

 Não parei de pensar em você enquanto corria para entregar as coisas que deixei pra trás. Não entreguei nada, além de mim. Não, não deixei minha insegurança no passado: essa eu levo sempre comigo, embora tenha deixado minha cabeça alcançar as nuvens mesmo que eu não deixe meus pés saírem do chão. Não muito, ao menos.

 Não fiz café hoje, já estava pronto. Pronto exatamente igual ao seu sorriso que espelha o meu, que deixei guardadinho aí no canto da sua gaveta, junto com as coisas que sempre esqueço. Esqueço-me de ser organizada ás vezes de propósito, pra você não esquecer que estive aí, quando eu sair às pressas correndo atrás de todas as coisas que deixei de fazer para ficar só mais um instante fazendo nada com você.

 Eu tinha esquecido o que era lembrar sempre de alguém. Esqueci dos prazos, esqueci minhas meias, comecei apenas a fazer as coisas que jurei que não faria por um bom tempo. Não há regras, diz você, além de ser feliz. Seremos, então. Serenos, deixando para trás coisas que nos prendem, esquecendo de fazer aquilo que juramos. Vamos apenas sendo, não fazendo as coisas, não dizendo: porque justamente naquilo que não se diz ou não se faz que se escondem as melhores coisas do mundo. Quero continuar fazendo as coisas que não fiz, se for pra continuar sendo o que já é.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Observações de uma night.

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Vez em quando eu trabalho tirando fotos de festa. Sabe como é né, a vida é feita de freelas, afinal se até o tomate tá caro, imagina o miojo. Mas o que eu mais gosto nesses freelas é que observo muito e muito as pessoas durante a noite. E isso me faz entender o quanto estou ficando velha. É engraçado ver que já passei por algumas fases - e que pode não parecer, mas entre os 18 e os 23 anos muuuuuuita coisa muda.

 Primeiro que eu já não tenho mais saco para os velhos papinhos. Molecada sempre chega da mesma forma, é até engraçado. E alguns são muito insistentes! E eles pedem seu telefone, sei lá pra que. Se você não da bola pra eles, eles não ligam. Mas se você der bola, adivinha? Aí é que eles não ligam mesmo. Afinal, o outro dia já pede uma nova balada, novos números descartados, novos beijos vazios... As meninas parecem feitas em série. Mesma roupa, mesmo cabelo, mesmas atitudes. Algumas exceções me surpreendem: existem aquelas que se destacam das demais, são estilosas e cheias de si (no bom sentido). Não caem no papo dos malandrinhos, chegam nos guris se quiserem ou apenas ficam ali curtindo a música. Não são maria pick-ups, maria cerveja, ou maria-seja-la-o-que. Pena que essas são a minoria. O

utra coisa que me impressiona muito é a quantidade “rabo-preso” que existe dentro da balada. Gente que ao ver a câmera em sua direção some magicamente. Cansei de ouvir “não bate foto de mim não moça, minha namorada não sabe que eu estou aqui”. Não foi uma ou outra vez, isso sempre acontece. Mais de uma vez na noite, inclusive. E na maioria das vezes (maioria, não todas), com os homens. Isso me faz questionar ainda mais o motivo das pessoas se relacionarem uma com as outras – seria o medo de ficar sozinho? Por medo da solidão as pessoas namoram com o primeiro que aceitar? Só pode ser isso, uma insegurança generalizada, ou uma vontade de ter alguém por status, para justificar tanta babaquice.

 Que eu saiba – e posso estar sendo tão medieval quanto o Cazuza – namorar é aquela coisa que rola confiança, verdade, parceria, não é? Então qual o sentido de fazer tudo escondido? Ah sim, a vontade de sair sozinho, com os amigos pra curtir. Mas não se pode fazer isso quando está namorando? Ah claro que não. Tem todo aquele lance do ciúmes e tals. Então, bem mais fácil dizer que estava dormindo e sair escondido, não tem problema. É Nando Reis, o mundo está mesmo ao contrário e ninguém reparou. Todos os valores estão invertidos. As pessoas trocam alianças, alteram status nas redes sociais, mas não são capazes de manter a coisa mais importante de todas: o caráter. Querem ter a vida e a liberdade de solteiro, mas sem deixar de ter a soneca de conchinha nas tardes tediosas de domingo. A verdade é que ninguém sabe mais o que quer da vida, e por isso escolhem fazer tudo por debaixo dos panos. Querem ter sua liberdade, mas não são capazes de deixar o outro livre também. Seria tão mais fácil!

 Depois ainda me perguntam por que eu gosto de ser sozinha. A questão não é gostar – assim como qualquer ser humano normal, eu também sinto falta das sonecas de conchinha aos domingos. Mas prefiro ter a certeza de que estou fazendo o que bem entender sem precisar enganar ninguém. E, enquanto não encontro alguém que queria ser simplesmente livre como eu, vou seguindo só observando a babilônia que se encontra isso que chamamos carinhosamente de amor.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ele e a felicidade



Em uma das nossas (cada vez mais frequentes) conversas, ele me disse que não sabia ao certo o que era felicidade. ‘Pode parecer loucura, mas não sei se sou feliz’, disse-me ele. Logo mudamos de assunto, falamos sobre coisas banais, mas isso ficou na minha cabeça. Afinal, por que queremos sempre comprovar a nossa felicidade? 

Olhe as prateleiras das livrarias. Milhares de livros nos ensinando a fórmula da felicidade. Compre isso, vista tamanho 38, vá caçar seu par e case-se, tenha dois filhos e uma casa com um jardim gigante, um bom emprego, dois carros na garagem. Sem isso tudo não podemos ser feliz. Todo o tempo ficam nos ensinando a como ser feliz, o que fazer e como conseguir, mas sem saber que felicidade, meu caro, é muito pessoal. Ainda bem que eu não acredito em livros de auto-ajuda. 

No dia seguinte a nossa conversa, fiquei pensando se eu sabia mesmo se era feliz. Sempre achei que fosse. Nesse dia, cheguei no meu estágio e tinha bolo de chocolate. Pensa na minha felicidade! Comi dois pedaços gigantes, acompanhado de gargalhadas sem glamour nenhum. Na hora de ir embora, parei pra sentir um pouco do cheiro do mar. Isso me deixava mais feliz, percebi. No caminho para casa, em meio a toda a fila de trânsito, um lindo pôr-do-sol. Sorri secretamente por estar presenciando aquilo. Ah, que felicidade. 

Então eu percebi: felicidade não é apalpável, não é certa. Pode parecer como bolo de chocolate, mar e pôr-do-sol, pode aparecer como uma promoção no emprego ou dinheiro sobrando no fim do mês. Pode estar presente em coisas grandes, gigantes, pequenas, minúsculas, simples, complexas. Mas está sempre ali, essa tal de felicidade. O problema, é que nessa ânsia de querer ter certeza de tudo, às vezes apenas a deixamos passar, não a percebemos. Ocupamos seu lugar com as dúvidas, as incertezas.

 Quero te dizer, meu caro, que não sei se você é mesmo feliz. Mas não saber também é legal. Pra que ter certeza de tudo? Nessa procura louca por respostas, ás vezes você deixa de perceber aquela pontinha de felicidade. Ser feliz é não saber, é viver. Viva mais, se arrisque mais, ria mais. Jogue fora os livros de auto-ajuda: já basta as milhares de regras que temos que seguir na nossa vida, que ao menos a felicidade possa ser livre, possa ser só nossa. Sem receios.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vazio.

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Acordei com um vazio hoje. Sentindo falta de algo, agoniada com alguma coisa que não sabia o que. Logo percebi: sentia falta de amor. De amor simples e puro. Sentia falta de acordar de madrugada com um pé enroscando no meu, ou de mandar um torpedo só pra dizer que vi aquele filme e lembrei de ti, muito embora eu nem saiba quem é você ainda. Sentia falta de abraços, de poder compartilhar algo que eu fiz e ouvir sobre o seu dia. Sentia falta de você, uma pessoa que eu sei que existe por aí, sentindo minha falta também.  

Sei que você está aí em algum lugar, com esse mesmo sentimento de vazio no peito. Talvez você disfarce ele saindo dia após dia com garotas diferentes, talvez você trate o amor como algo descartável, talvez você esteja saindo de segunda a segunda e postando frases de como sua vida é feliz e você é despreocupado com tudo isso, mas alguma hora você também sente esse vazio. Igualzinho a mim.

 Por falar em vazio, onde as pessoas têm colocado os sentimentos? Por que temos mesmo que viver com medo de falar o que a gente sente, de ser a gente de verdade? Passamos os dias passando “filtros” em nossos sentimentos para que eles sejam aceitáveis. Não, nada de dizer que se sente sozinho ou que sentiu saudades, isso é brega, mainstream. Seja feliz sempre, mostre que não sente nada, que sua vida é bela e que você não depende de ninguém. Isso é mais aceitável né? Isso vai te fazer mais popular, não vai?

 Triste realidade. Não sei em que parte as pessoas deixaram as coisas chegarem a esse ponto. Tá tudo mesmo ao contrário, superficial, falso. Vivemos no mundo das embalagens bonitas – atire a primeira pedra quem nunca – mas esquecemos mesmo muitas vezes de dar valor ao conteúdo. E, depois de toda a farra, o prazer sem compromisso, os beijos nas pessoas sem nome, a quantidade de pulseiras vips na balada, o número cada vez maior de amigos (que você nem conhece) nas redes sociais, o que fica? O vazio meu caro, é isso que fica. Um mundo cheio de pessoas vazias. 

 (que tal a gente se preencher?)