sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Corpo aberto no espaço.

Escrito na lua cheia, ao som de Caetano.

O menino é do Rio, mas seu coração é do mar: Misterioso, profundo, intenso. Mundano, cai no canto da sereia, mas muda quando é lua cheia – afinal, há tantos cantos e esquinas por aí para ele se encantar. Suas águas viram turvas se não tem espaço para se inundar. Baby, não faça planos, ledo engano, você já viu alguém conseguir prender o oceano? Deixa ele fluir, afinal, todo Rio desagua um dia no mar. Ah, amar é verbo que conjuga com frequência– seu tempo é agora, embora por ser incompreendido, reúne  pretéritos imperfeitos de quem não entende que seu tempo verbal passeia no futuro do presente. Ele sente, sente muito, mas isso não é um lamento: É uma dádiva.  Se sua boca diz pouco, seus olhos cor de noite tagarelam pelas madrugadas para aqueles que não usam o ouvido para escutar. Se lhe falta o ar, sai por aí apenas para absorver o barulho do mundo, os ruídos que nem todos percebem, os detalhes esquecidos, os pormenores desdenhados, os aromas postergados.  Ele é riso frouxo que ecoa na cidade maravilhosa, é grito colocado para fora em linhas dissonantes que se transmutam em harmonia,  é um doce deletério. O menino é do Rio, do mar, da terra, do ar. O menino nunca está: Ele é.

Da série: Encontros e devaneios.