Escrito na lua cheia, ao som de Caetano.
O menino é do Rio, mas seu coração é do mar: Misterioso,
profundo, intenso. Mundano, cai no canto da sereia, mas muda quando é lua cheia
– afinal, há tantos cantos e esquinas por aí para ele se encantar. Suas águas
viram turvas se não tem espaço para se inundar. Baby, não faça planos, ledo
engano, você já viu alguém conseguir prender o oceano? Deixa ele fluir, afinal,
todo Rio desagua um dia no mar. Ah, amar é verbo que conjuga com frequência–
seu tempo é agora, embora por ser incompreendido, reúne pretéritos imperfeitos de quem não entende que
seu tempo verbal passeia no futuro do presente. Ele sente, sente muito, mas isso
não é um lamento: É uma dádiva. Se sua
boca diz pouco, seus olhos cor de noite tagarelam pelas madrugadas para aqueles
que não usam o ouvido para escutar. Se lhe falta o ar, sai por aí apenas para
absorver o barulho do mundo, os ruídos que nem todos percebem, os detalhes
esquecidos, os pormenores desdenhados, os aromas postergados. Ele é riso frouxo que ecoa na cidade maravilhosa,
é grito colocado para fora em linhas dissonantes que se transmutam em harmonia,
é um doce deletério. O menino é do Rio,
do mar, da terra, do ar. O menino nunca está: Ele é.
Da série: Encontros e devaneios.
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