quarta-feira, 19 de abril de 2017

Figura de linguagem.


Eu ia deixar pra lá. De novo. Ia falar que amanhã eu escrevo, mas amanhã iria passar um café, fumar um cigarro, lembrar das fotos, alimentar os animais, viajar na janela, mais fotos, trabalhos, contas, janelas, iria escrever de noite, juro dessa vez, mas acabaria como em todas as outras noites de todas as outras vezes: deixando para lá.

Há dias que adio soltar o verbo entalado na minha garganta. Esse verbo indicativo de um pretérito (im)perfeito cortante. Ou seria um verbo significativo do futuro do presente? Eu não sei. E é por isso que deixo sempre pra lá: Porque eu não sei.

Menos hoje. Solto-o, de um jeito meio torto, esse verbo que não sei. Talvez nem seja verbo seja apenas um substantivo sem importância ou uma locução que não me conduz; mas me paralisa. É um adjetivo.

É amor ao invés de verbo? Amor não é verbo?

Não, não é nada. Ou é tudo, por isso deixo para lá.

Mas fica entalado na garganta. Talvez não seja verbo, nem substantivo, adjetivo nem porra nenhuma. Talvez seja só você.

Mas quem é você? Você é tantos. E ninguém ao mesmo tempo.

Eu tento ser plural. Juro. Mas antes do ponto final eu já me torno singular – não por não querer ou não sentir. Eu sinto, muito, no presente. Mas depois que o agora torna-se o já foi, eu deixo para lá. Você e isso tudo.

Eu te amo. Naquela hora. Depois até amo, mas tudo bem.  Depois é depois. Eu sou agora, esse é meu verbo. Mas e agora? Estou aqui, tendo devaneios sobre nada, sobre tudo que está na garganta mas que eu não falo, porque no fundo não me importa se haverá um nós.

Só não quero ter nó na garganta.
Nem verbo.
Nem você.


Vou deixar pra lá.