segunda-feira, 20 de março de 2017

m a r ç o

As águas do novo mês caem pela minha janela. Elas lavam, elas levam – foi-se o confete, a purpurina, não há mais batuque nem corpos quentes tentando disfarçar o frio da alma rasa. Já não é mais carnaval. Já não é. Passa rápido.

Estamos em outra estação. Tempo em que coisas secam para que outras floresçam. Mas como ser flor no meio de tanto coração de pedra? Não sei. Não sei ter coração de pedra – como disse algum poeta, o meu sangra todo dia. E pulsa. E sente. E não disfarça – sendo carnaval ou não, eis aqui um coração gritante, que ecoa nas paredes tal qual aquele beijo,  mas que não aguentou a quarta-feira de cinzas: desbotou.

Já é março. Fevereiro foi um poema torto falado com voz mansa. 
Mas eu não sei rimar.
Já é março e eu que não tenho coração de aço, deixo


ele sangrar. 

sexta-feira, 3 de março de 2017

devaneios repentinos de uma madruga que nem sei

teu beijo ainda ecoa na parede do meu pensamento. boca. ainda sinto as rachaduras ásperas e macias da tua boca grande ressecada pelos insuportáveis quarenta graus que faz na rua. você é verão baby, e eu; o que virá? não sei, mas me vi através da sua retina negra junto com as paredes desse quarto desse pensamento dessa boca áspera que a minha anseia tanto no meu seio ombro pele mãos e


e tanto faz se vira, se verão, se virá – veremos ou não; sentiremos mais de uma estação ou apenas mais algumas tardes quentes, afinal, no final, era carnaval.