terça-feira, 24 de setembro de 2013

Maya

O nosso amor a gente inventa.


Os escritores, os poetas, as músicas já nos avisam: é tudo ilusão. Bukowski fala que o amor é uma espécie de preconceito, afinal a gente só ama o que precisa, o que faz sentir bem, o que é conveniente. Caio diz que não há nada a ser esperado ou desesperado, que é tudo maya, ilusão ou samsara, círculo vicioso. Cazuza segue cantando que o nosso amor a gente inventa pra se distrair, e que quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu. Poderia citar mais ilustres frases que de uma maneira sincera, suja, bonita ou simples acabam por dizer exatamente a mesma coisa: que tudo termina – e que quando acontece, fica aquele sentimento de ‘será que era mesmo’?

Quantos sentimentos a gente não inventa? Aquele beijo teria sido realmente tão bom ou era só conveniente no momento? O carinho foi mesmo de arrepiar a alma, ou só arrepiou a pele? Pele. Essa coisa que vivemos confundindo com amor – mas que não deixa de ser também, de uma maneira diferente. Afinal tudo mesmo é amor e tudo mesmo é ilusão, cabe a nós pensarmos como o velho Bukowski e ver o que era conveniente na ocasião.


Não, não pense que eu não acredito no amor, nem que nunca fui amada. Já amei por anos e por instantes, tudo com a mesma intensidade – porque amor, paixão, pele, desejo, ilusão vem tudo do mesmo lugar, e não tem que ser taxados com tempo. Parem de categorizar tudo, sintam e só. Por anos ou por minutos. Se não sabe o que fazer, seja Caio: não faça nada, fazendo tudo. E se ainda assim não der, faça como eu – e Cazuza – conte apenas uma história romântica.

domingo, 22 de setembro de 2013

Tic. Tac.

'O tempo não para' - Cazuza


A gente nunca percebe que a vida passa tão depressa. Tudo é tão efêmero, cada dia a mais é um dia a menos meu bem, e nessa de não perceber a vida voando ao nosso redor, ás vezes fazemos tudo errado sem nos dar conta. Esse momento, cada segundo, cada minuto, já passou, já não cabe mais. Presente não existe, porque em um instante ele já é passado, e o que passou não volta. Bem na verdade o passado, presente e futuro não existem – tudo se une numa coisa só. E quanta coisa a gente perde por besteiras, por se apegar ao que não devemos, por medo? Abraça sua loucura antes que seja tarde demais, disse o poeta, e quantas dessas a gente deixa de abraçar por burrices?

É Clarice, tu tens razão:  vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre. Mas a gente não percebe e vai brincando com diversas coisas – levam o sentimento, o amor, a paz, as virtudes, tudo na brincadeira. Vão levando assim, vivendo vagamente, superficialmente, sem perceber que um dia –puf- acabou. Ainda ontem eu comia bolinho de chuvas na casa da minha avó, agora, sou eu quem faço os meus próprios. Ainda ontem eu reclamava da vida dura de estudante do ensino médio, agora sei bem o que é uma vida dura.

Quantas palavras deixamos de dizer, quantas insanidades não cometemos, por medo do amanhã? Mas o amanhã, meus caros, já passou. Passa depressa. É engraçada, aliás, essa teoria do tempo: ele se arrasta tanto quando esperamos por algo – ou alguém – e passa tão depressa quando finalmente estamos realizando aquilo que queremos. Chega a ser uma ironia. Por isso, temos mesmo que viver, intensamente, sem medos, sem mágoas, sem se apegar aos rótulos dos outros. Se tu ama, ame mesmo, ame profundamente, porque logo mais o amor pode acabar, quem garante? Se tu quer, vá atrás. Se não quer, diga, não aprisione, não engane – a vida é muito curta para fazer os outros perderem o tempo precioso que não tem.

 Quero escrever tudo isso sem vírgulas, sem aspas, sem pontos, sem revisão. Queria poder falar tudo que pulsa aqui dentro, queria poder correr e te abraçar e dizer que te quero tanto e tanto. Queria poder conhecer tudo no mundo, ler todos os livros que desejo, ouvir todas as músicas que não conheço, fazer tudo aquilo que não fiz. Mas, veja só, não tenho tempo. E a cada dia tenho menos  ainda. Acho que as pessoas não percebem isso, não conseguem mensurar o quanto passa depressa. Talvez, se realmente prestassem atenção no quanto tudo voa, não ficassem estagnadas. Estamos perdendo tempo, meu bem. A cada minuto.


Tic Tac.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma história de borboletar.

'Mas se você brisa... venha me brisar'

Ainda éramos tímidos um com o outro no primeiro dia que você fez uma das coisas que sabe fazer tão bem: me arrumou, deixando-me irreconhecível. Mas aquele dia não foi o milagre que você fez em mim que me deixou deslumbrada, mas a música que você colocou pra tocar e cantarolava baixinho. Primeiro, Tulipa. Depois, Tiê. Sambinha bom entrou em meus ouvidos também, tão bom quanto silenciosamente o prazer de se identificar com alguém, mesmo sabendo tão pouco. Aliás, esse tão pouco é que nos deixou próximos, pouco a pouco, de letra em letra de cantores que quase ninguém conhecia, de risadas sem nexo, de lembranças prolixas e madrugadas de insônia compartilhando meros devaneios tolos a nos torturar – como canta Zé em uma das músicas que temos que ouvir sempre que nos vemos.

Em uma dessas madrugadas, enquanto lamentávamos nossas dores através das canções – que são também poesia – eu te perguntei por que éramos tão sentimentais, afinal. Você me disse que queria ser mais durão e ser igual aquelas pessoas que a gente vê por aí. Bem da verdade, nós somos privilegiados. Tudo bem que sentimos mais, sofremos mais, fazemos tudo muito mais intensamente, e que parece que as pessoas não ligam muito pra isso – e algumas realmente não ligam mesmo – mas, em contrapartida, vemos beleza onde ninguém vê. Sentimos as coisas de um jeito único.

Borboletamos.

Isso foi o que eu mais aprendi contigo. Em tão pouco tempo, fez com que eu borboletasse por aí. Borboletar, sair do casulo, bater asas de um jeito leve e livre. Livre para ser, pensar e sentir exatamente como fazemos, levando a vida sempre como se a cada canto existisse uma poesia escondida. E sabemos que existe. A gente se diverte cantando na cozinha. A gente nunca tem grana – mas somos ricos, muito ricos. Temos sofá velho e música boa. Temos insônia e lembranças que nos afligem, que dói lá no fundo da alma. Temos nosso drama particular, temos a dor da saudade e a incerteza do caminho que seguimos na vida. Mas seguimos, e lutamos  - sempre com a leveza de borboletar. Alguns pensam que não sabemos nada, outros nos olham como se fossemos loucos, porque falamos de misticismo, Deuses, planetas, fumamos cigarros, não queremos fazer parte daquela mesma panela. Eles estão certos, somos mesmo loucos. Porque é preciso ser louco para sair do casulo e ter coragem de ser quem se é. É preciso uma mente insana para sentir. É preciso coragem para amar,qualquer tipo de amor.


Somos vendaval.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sem adjetivos, nem verbos.

Weheartit.com


Queria escrever sobre você. O cursor pisca insistindo por alguma palavra, mas a página segue em branco. Não que eu não tenha o que dizer – pelo contrário, você é uma fonte inesgotável de inspiração. Poderia dizer mil coisas, usar mil floreios ou palavras difíceis para enfeitar isso tão simples que sinto. Mas não consigo. Não consigo te transformar em ficção, literatura, porque você foi a coisa mais real que me aconteceu. Tão longe, tão aqui. Só sei escrever lindamente sobre mentiras, sobre coisas que observo. Coloco nas palavras sentimentos e anseios que são mentiras sinceras – obrigada Cazuza – ou realidades inventadas, mas se quero dizer exatamente o que pulsa aqui dentro, não consigo.

Você me cala. Você me faz querer justamente as coisas que mais fujo desse mundo. Você faz eu me sentir piegas, brega, me faz  escrever coisas clichês. O amor – posso chamar disso? – é clichê. É o ridículo da vida, diria Cazuza em sua voz rouca novamente. Ninguém quer ser ridículo, tolo que somos. Na tentativa de não ser piegas, disfarçamos das maneiras mais óbvias possíveis aquilo que a gente sabe que sente. Por que sentir, afinal, é tão difícil?


Não sei explicar. Do mesmo jeito que não sei ter coerência quando tento te retratar como minha literatura. Incoerentes, aliás, é tudo que somos, fazendo as coisas sem nexo, sem sentido, tão confusas, difusas, e por serem assim tão tortas, tão reais. Ainda estou na dúvida, aliás,  se queria ter te encontrado ou apenas continuar com a ideia do que teria sido. Não sei mensurar, não sei explicar, não sei escrever: você me bagunça. Bagunça todas as palavras que já deixo organizadas para escrever sobre isso, confunde os adjetivos, advérbios, verbos e tantas outras coisas que serviriam para me nortear. Meu senso de direção não funciona com você, porque não temos direção – apenas seguimos para o agora, e quem sabe, o infinito. É assim mesmo, ao som do Lenine: não me importo com a lógica, quero só o que me interessa.