quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um conto. (II)

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Lembro quando te encontrei pela primeira vez. Você estava lá, sentado do outro lado da mesa do bar. Quase não falava comigo, quanta arrogância, pensei. Mas talvez fosse apenas porque eu estava acompanhada, acompanhada por um amor que já não era mais o mesmo há tempos, só que era difícil de abandonar. Então, como num golpe engraçado do destino, ele me levou no bar, no bar que estava você, você e suas tatuagens, sua cara de desleixado que contrastava com minha aparencia de menininha fágil - ali estava você, o que faltava para me libertar.


Vi que no meio da noite você tinha me notado. Nossos olhares se cruzaram e eu senti um frio na barriga, que só não era maior que meu peso na consciência - Porque, Deus, porque outra pessoa segurava a minha mão em um gesto tão frio, enquanto você me emprestava um olhar tão quente, ainda que não percebesse?


Quis ir embora, mas ao mesmo tempo queria ficar, só pra fingir mais um pouquinho que você era meu. Fingir que a gente tinha uma história, sabe? Coitado de você, tão inocente ali do outro lado da mesa do bar, mal sabia o efeito que surtia em mim. Ou talvez soubesse, quem sabe, e me olhava como provocação. Sorria entre uma cerveja e outra, me espiando entre minhas caipirinhas sem-graça, não, eu não era pra ti. Eu nem se quer tinha coragem de me desfazer de um amor, quem dera me aprofundar em um outro tão, mas tão diferente? Você era aquilo que eu sempre quis, sabia eu, mas com a mesma força que desejavam eu repelia. Não, não era um padrão de beleza aceitável. Mas “amor” o que eu tinha era, eu mesma era desse padrão, mania de ser aceita pela sociedade, ser destacada, passar a imagem de casal feliz - tudo vazio, fingimento, frígido.


Não tirei aquela noite da cabeça, e posso dizer que muita coisa mudou desde então. Me libertei. Pintei os cabelos, sou morena agora. Tomo cerveja, não vivo mais de saltos, muito menos de esteriótipos. Fui naquele bar outras vezes, mas nunca mais te vi. Queria te dar um beijo, um beijo profundo e profano, sei que iria entender. Sei que um dia te encontro por aí nos bares e esquinas da vida. Quem sabe eu não tenha te libertado de algo também?

3 comentários:

Amanda Sanches disse...

enquanto eu lia o texto, eu lembrei de momentos recentes da minha vida, aconteçeu quase a mesma coisa comigo, o fato de ir em algum lugar acompanhada, encontrar outra pessoa, a troca de olhares, e não encontrar mais essa pessoa agora que estou livre!

http://oamorhadevencer.blogspot.com/

Anônimo disse...

Algumas pessoas nos aparecem na vida pra nos libertar de amores mal reslvido, fingidos, que não fazem mais sentido de estarem ali, que já não causam mais frio na barriga e nem suspiros!

Beijos!

Luna Sanchez disse...

Eu gostei do texto todo mas a frase final foi a cereja do bolo, dando a ideia de reciprocidade.

Perfeito, parabéns!

=*