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Lembro-me de alguns dias acordar com você silenciosamente registrando aquele momento. Achava estranho, no começo, algo como uma invasão, não sei. Mas com os anos passei a perceber que fazia parte de você, da sua arte, de dentro de ti. Eram várias, nossas, minhas, tuas, de lugares, objetos aparentemente sem graça, mas que para nós contavam uma história. Você colocava a maioria delas na parede da sua sala – sua sala decorada de um jeito tão seu, acho que era meu lugar preferido de toda sua casa. E ali tinham algumas de lugares do mundo, de pessoas estranhas, de coisas que nunca vi. Eu passava horas e horas olhando. Você sabia me contar o momento de todas elas, com um brilho nos olhos. Sempre guardarei isso.
Mas você gostava de tirá-las de mim. Enquanto eu despertava. No nosso café da manhã. Durante a praia. Sorrindo, chorando. Momentos que só você sabia captar. Elas pareciam pintura – não sei dizer, mas não pareciam apenas fotos. Era amor, você dizia. Era a forma como você me via. Eu te via de muitas formas também, mas não precisava registrá-las, pois algo que é bom, fica na memória. Mas você rebatia que a memória confunde, apaga, mistura. E as fotos não. Que meu sorriso seria sempre claro e sereno, não importa quando você olhasse. Que não queria perder a sensação de me ver despertando. Que precisava registrar.
Claro que um dia você foi embora. Me deixou uma foto, com algumas palavras escritas. Sou do mundo baby. Existem coisas que preciso conhecer. Eu te amo, mas não posso ficar. A gente se encontra.
Quase rasguei as fotos, todas elas. Mas depois apenas aceitei o que não poderia ser modificado. Você era um pássaro, precisava voar. Eu, sua gaiola, não poderia te aprisionar por muito tempo. Olhei as fotos, uma por uma. Sei que voltaria, no tempo certo.
“Fiz aquele anúncio e ninguém viu
Pus em quase todo lugar
a foto mais bonita que eu fiz,
você olhando pra mim
Pus em quase todo lugar
a foto mais bonita que eu fiz,
você olhando pra mim
Alto aqui do sétimo andar
longe, eu via você
longe, eu via você
e a luz desperdiçada de manhã
num copo de café”
9 comentários:
Lindo o sentimento de vocês. Lindo o respeito quando ele precisou ir - todo mundo, em algum momento da vida, precisa ir.
Se for pra voltar, que volte inteiro.
Fabuloso! Você arrebenta, Cris.
Ótima 5ª feira para você!
Tão bonito e tão bem escrito!
Que lindo!
Adoro fotografias, esses desenhos com luz e cor.
Beijocas, flor.
Lindo o amor de quem respeita a nessecidade do outro de ter que ir, de precisar parti mesmo que isso doa. É sempre bom registrar os melhores momentos da vida em fotografias, apesar de que eles ficam na memória de quem viveu!
Como sempre seus textos são ótimos!
Beijos
Gostei tanto, tanto... e mais ainda por conter a letra do Los Hermanos, sou apaixonada!
Beijos!
Concordo que os bons momentos são registrados na memória, mas as fotografias ajuda a lembrar com mais detalhe, quando a memória já começa a falhar.
Liindo texto e lindo também esse amor.
http://oamorhadevencer.blogspot.com/
Que liiiiiiiiindo, amei demais *_*
lembranças são tão ricas, é bom de se recordar de algo bom que viveu. Amei demais, como sempre arrasando. BEIJOS
Seus textos são lindos demais! Inclusive resgatou uma memória minha, perdida há muito tempo e já compactada em fotografia. Belas palavras. (:
Beijos!
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