segunda-feira, 2 de abril de 2012

(des) espero.

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Eu tinha ido até lá para me distrair. Um bom livro na bolsa, uma boa música nos ouvidos, e todo aquele mar na minha frente. Poderia ficar horas assim, só olhando o mar, deitada lendo meu livro, ouvindo as tantas músicas que me transportavam para outros lugares, para outras saudades. Adorava ter esses momentos de pura distração, de levar o pensamento para longe – para o passado e para o futuro, sentir o cheiro salgado e friozinho do começo de outono.

Distraída, eu copiava alguns trechos do meu livro, cantarolava alguma coisa sem nexo. Distraído, você sentou ao meu lado, bem pertinho – e me perturbou. Primeiro, porque estava invadindo meu espaço, um espaço que deveria ser só meu, afinal eu detestava ter que dividir esses momentos de solidão com alguém. Depois, fiquei perturbada por você, pela sua figura. Você não era o mais lindo, mas com certeza era bonito. Escutava música, também distraído, olhando o mar. Tinha um cheiro incrível – um cheiro que me lembrava algo do passado, que era igualmente bom.
Era cheiro de sentimento, descobri depois.

Você não disse nada, eu não disse nada, mas nós dois compartilhávamos algo além de nossa solidão. Então, já não viajava no meu passado-presente-futuro, mas tentava adivinhar o que tinha te trazido ali. Teria perdido um amor? Seus olhos estavam tristes. Ou eram só olhares cansados.  Mas o que te cansava tanto? De repente, eu quis encostar tua cabeça no meu ombro e murmurar descansa... quis passar as mãos nos seus cabelos e desgrenhá-los ainda mais. Queria ouvir seu sorriso, te beijar quem sabe?

Confusa, levei um susto.  Sua mão tinha encostado na minha. Será que ainda era minha imaginação?
Não, não era – seu sorriso débil e lindo me mostrou que era real. É cansaço, e amor perdido também. Você também?
Linda voz. Eu também, eu disse, eu também. Um beijo doce, sua cabeça no meu ombro, meu livro no meu colo e seu cheiro se misturando com o meu. Não sei dizer quanto tempo durou, hoje talvez nem saiba dizer se tinha sido tudo desse jeito.
Parecia cena de filme,
Mas era só daquelas coisas que acontecem quando a gente só vai a um lugar para se distrair.

‘É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.’ -  Caio F. Abreu

3 comentários:

Jefferson Reis disse...

Que lindo! Estou com tanta vontade de me apaixonar.

Danni Coutinho disse...

É concordo com o Ryoko nada como um texto lindo,cheio de sentimento,emoção e paixão.Também preciso de um lugar assim calmo tranquilo vazio para mim perder em pesamentos,pensamentos bons e esquecer a confusão do dia-a-dia.Beijos
Otimo começo de semana.

mfc disse...

As coisas que nos acontecem, quando não contamos com nada!!

Beijos,