quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Dê lírios.


Ela disse que não gostava de rosas. Como iria gostar de algo que todo mundo gosta? Ela não era igual a todo mundo. Lírios, esses eram seu preferidos. Coloridos no meio de um jardim qualquer, enfeitando a via de algum bairro movimentado da cidade, espalhando o perfume para aqueles que possuem o olfato mais sensível. Ela ouvia bandas de que eu nunca tinha ouvido falar e se virava de cabeça para baixo para ter outra visão do mundo. Baby, quero te dizer que não precisa colocar suas pernas para o ar, você já tem uma visão diferente do mundo. 


Uma visão única, porque é sua, carregada das coisas bonitas e leves que você ama e que talvez quase ninguém conheça. Que bom poder conhecer um pouco do seu mundo. Pensei que não gostasse das rosas por causas do espinhos. Sabe, é algo bonito, mas as pessoas podem se machucar. Isso não parece um pouco com o amor? Será que é por isso que as pessoas dão rosas, como se fosse uma metáfora de aviso? Entrego-te toda essa beleza, mas segure com cautela, porque se o espinho entra, e pior, se ele permanece no dedo (ou no coração), dói muito. Deixa cicatrizes até. 


 Uau. Talvez se as pessoas soubessem disso quem sabe se machucassem menos. Por isso você gosta de Lírios? Mas quero te contar um segredo: existe neles um pó amarelo que pode fazer mal para a vista. Tipo o amor também quem sabe? Ah, mas você me disse que precisamos ser cega ás vezes. E encostar nos espinhos. Sem dor, como saber o sabor das alegrias? 


 Estava sentada esses dias em algum lugar e vi um lírio. Ele estava sozinho, numa imensidão de verde, e é como se emprestasse a vida para aquele espaço. Pouca gente reparou, talvez porque naquele mesmo jardim tivesse rosas e amor-perfeito, emoldurando amores imperfeitos que se silenciavam sob o sol ameno do fim de tarde. Mas eu vi o lírio, e entendi: ela não é igual a todo mundo. Nem todo mundo a vê. Talvez seja preciso virar de ponta-cabeça para tentar entender, ou talvez não, porque certas coisas não são feitas para ter sentido, mas para serem sentidas.

Nenhum comentário: