terça-feira, 18 de maio de 2010

Bolinhos de Chuva.

imagem:http://gettyimages.com

É que a gente se pega em um sábado a tarde rindo sozinha quando sente aquele cheiro. E aquele determinado cheiro – bolinhos de banana da vovó, juro!- me transporta para um outro tempo, um filme vai passando pela minha cabeça – em preto e branco, com a voz de Norah Jones cantando Seven Years – e me vejo sentada, minúscula e de pantufas, em uma mesa de mármore grande, balançando os pezinhos enquanto uma avó corpulenta mexe vigorosamente a colher de pau numa panela. Tudo ali – a cozinha, a avó, as pantufas, a mesa – parece tão aconchegante e feliz, e eu continuo me balançando como se a maior preocupação fosse raspar a panela ou esperar os bolinhos esfriarem.
E assim as tardes iam, as tardes jamais vazias, preenchidas com sessão-da-tarde, sonecas, Nescau e brincadeiras, brigas com os irmãos, pés encardidos, joelhos ralados e doces da boboniere.
Os domingos, ah os domingos, pareciam ser todos ensolarados, mesmo os chuvosos. E ia aquele almoço – macarrão, carne de panela, maionese de batatas e alguma sobremesa para o café – sempre cheio de gente, tias tagarelas, primos se acotovelando sobre a mesa, a avó corpulenta e sorridente e o vô meio quieto, cara de bravo, mas que tinha o melhor abraço do mundo.
E agora nos sábados sozinha almoçando qualquer coisa com qualquer pessoa, me pego rindo ao sentir aquele cheiro, aquele cheiro que era bem mais que bolinhos de chuva com banana. Aquele cheiro era algo como família.
E deu vontade louca de chorar e rir ao mesmo tempo, pois amanhã era domingo-pé-de-cachimbo mas a gente é adulto e não pode se balançar na mesa de mármore ou ralar os joelhos e passar mercúrio, porque na minha época methiolate doía. A gente é adulto, não se lembra desde quando, mas é isso agora – sem sonecas e sessão da tarde. Só vez-em-quando, pra não ser injusta.
E tudo é um filme preto-e-branco que passa na cabeça. Ao som de Norah Jones.

9 comentários:

Gabriela P. disse...

Ai ai, a infância!
Tenho uma saudade de coisas assim, também!

Beijo

Marina disse...

eu entro no seu blog há uns 8 meses e adoro aqui...
tem selinho pra ti lá no meu... enfim

Ana Júlia disse...

às vezes também me vem tantas lembranças boas...

afinal, relembrar é viver !

Natália B. disse...

Não há nada que nos deixe mais nostálgicos do que lembranças da infância.. Ô períodozinho bom viu?1 :P

Belo texto querida! :*

Anônimo disse...

Tudo muito belo, como a infância é na realidade. também sinto tanta saudade dos cheiros, das sensações... Mas faz parte da vida. Temos que descobrir motivos todos os dias e lembrar do passado com esse gosto tão bom.

;*

Anônimo disse...

Adorei, nós somos parecida viu! Cheiros que vem do nada tenho MUITO disso.
Caio Fernando de Abreu.. ótima escolha!
bejos

Grasi disse...

Ai, ai... me vi nesse post... tb tenho essas lembranças e meus sábados agora tb são parecidos com os teus...
Bjão e um domingo super iluminado :)

Rodrigo disse...

Hummmmm bolinho de chuva!

É, a infância se vai, mas acho que ser crescidinho também não é de todo ruim! Quer dizer, eu sempre gostei de coisas novas, coisas que eu não poderia ou simplismente não faria enquanto criança!

Mas sim, eu sinto saudades da minha infância! Ah como eu sinto!

Bell Ferreira disse...

Lindo, lindo, lindo! *-* Ouso falar que esse é o meu favorito dos que li até agora, (que foram só os primeiros, mas mesmo assim). Me deu um aperto no coração e vontade de chorar, (mas não chorei :P). Mas é perfeito! Amei seu jeito de escrever! Parabéns mesmo, ganhaste uma grande fã! Te prepare para me ver sempre nos comentários de agora em diante! Beijinhos.