sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Literários.

No nosso livro, a nossa história, é faz de conta ou é faz acontecer?

Queria escrever mas já não sei quanto tempo faz. Tanto faz, tanto fez, fizemos disso uma história, que tem um final que parece triste, mas não é. Embora seja um ponto final e esteja mais para crônica do que para história, você escreveu umas linhas bonitas no meio de uma frase rabiscada. Eu quase não entendi o que significava, o motivo dessa sua pressa, mas tinha que ser assim. De que adianta páginas e páginas e páginas se no final fosse uma história vazia? Mais vale meia página de uns versos tortos que me faça lembrar de cada vírgula.

Só que o que acontece é que toda literatura é uma mentira. Escrevo porque é um jeito lindo de mentir, e de te ter aqui comigo. Digo que foi uma história linda porque assim fica mais gostoso de ler, conto para todos que cada palavra que me escreveu em uma página rasgada é de um sentimento surreal, mas é ficção. De todas as formas de mentira, literatura é a minha preferida, alguém disse. Tenho duas: literatura e você.

Te invento, a cada vez que quero lembrar-me de você. Te invento, por vezes como alguém especial que fez parte do meu mundo, por vezes como uma brisa leve que passou. A única verdade disso é que você veio e passou, e a vida sempre continua, e eu continuo te inventando de mil formas para disfarçar aquilo que você é, uma ilusão. Ah, como sei te escrever muito bem, como te encontro em certas músicas que você me apresentou, como te busco em certos corpos que surgem tão rapidamente como se vão. São eles uma espécie de literatura também, alguns tão suaves como poesia, outros tão pesados como um conto do Bukowski (de quando ele estava bêbado e desacreditado na vida), alguns ainda cheio de entrelinhas, como uma crônica perdida no meio de um livro da Clarice.

Minto, porque escrevo. Não sei em quantas linhas até agora falei a verdade. Mas tudo bem, todos mentem o tempo todo, todos estão sempre felizes, exibindo as pernas no domingo de sol ou tomando uma cerveja na sexta-feira fim de tarde, todos escrevem de um jeito – meio esquisito – a própria ficção. Que eu possa ao menos falar de um jeito bonito a mentira que você foi.


É tudo verdade. Fui lá ler o bilhete e você existiu mesmo. Quanto tempo já faz? Tanto faz, tanto fez, fizemos desse o nosso caminho, o que você faz eu não sei, eu escrevo para tentar traduzir em adjetivos bonitos a falta que você faz. Sobra linhas, sobra falta, inspiração é uma fartura para escrever a minha ficção sobre a mentira que é você.  Você acharia bonito, sempre achou lindo tudo que eu escrevia, vinha da alma, você disse. Não vinha não. Se você é o conto que escrevo agora, acho que sou sua literatura. Traduzida em música, que é tudo que me aproxima de ti. Só o que acontece é que literatura é tudo uma mentira. Linda e suave, mas ainda assim uma mentira. E eu sou a tua tanto quanto você é a minha. E ponto final.

2 comentários:

Bell Ferreira disse...

Maravilhoso, triste e doce!

Camila disse...

Pode roubar esse trecho para mim?
'Só o que acontece é que literatura é tudo uma mentira. Linda e suave, mas ainda assim uma mentira. E eu sou a tua tanto quanto você é a minha. E ponto final.' *-*
muito bonito...