quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mantenha a personalidade.

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Conheço uma menina que logo vai casar. Antes de ter um relacionamento, essa menina era outra – divertida, pintava suas unhas de vermelho, era desbocada algumas vezes e não tinha pudor em usar roupas simples com chinelos e cantar reggaes para os cachorros da rua. Hoje, essa menina não faz nada disso, é quieta, não fala besteiras perto do namorado, se veste impecavelmente e deixou as cantorias para trás. Ela tem um perfil na rede social junto com o namorado, para provar que o amor dos dois é um só. Céus.

Por que será que algumas pessoas quando namoram acabam assumindo a personalidade da outra, como se não tivesse uma própria? Porque alguns casais viram um único ser – passam de fulano e ciclana e se transformam em fulano-ciclana, uma fusão do tipo Dragon Ball que não permite que eles façam coisas separados? Será que quando encontramos uma pessoa deixamos de sermos nós mesmos?

 Não. Não temos que deixar. Claro, alguma mudanças sempre acontecem, afinal quando você se une a uma pessoa tem que aceitar e respeitar muitas coisas, pois são dois mundos diferentes se encontrando. Mas aceitar e respeitar não significa tirar toda a bagagem da sua mala e colocar roupas que nem ficam bem em você. E se a viagem acaba, você lembrará em qual guichê deixou sua velha personalidade – se é que você tinha uma?

Namorar, noivar, casar, se juntar, etc etc etc é lindo. Desde que você não precise ficar se moldando para caber no espaço do outro e nem ele no seu – que se fique junto pelo que se é, não pelo que o outro quer que você seja. Ok, que atire a primeira pedra quem nunca cometeu um errinho desses, eu mesma já mudei muita coisa para tentar não afundar um relacionamento, o que só serviu para perceber que tapar os furos com band-aid falso não adianta.

Desde então, escolhi ser eu mesma, se quiser todas as minhas qualidades tem que aguentar as outras coisas também. Se quer usufruir da minha alta capacidade de cozinhar gordices, tem que aceitar que eu não dou do tipo que se monta em maquiagem e salto alto para ir em qualquer lugar. E essa sou eu.

 Que outras pessoas possam ser elas mesmas também. Fusão, só é legal em desenho animado. Na vida real, caros amigos, não é nada fofo – e sim brega. Fiquem ligados.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Metáfora de mercado

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Ouvi uma voz pedindo um café-com-leite. Mais café que leite. Não, sem açúcar  Muito interessante, pensei, enquanto tomava meu próprio café gêmeo ao desse cara na mesa do mercado. Na cestinha (opa, sinal que deve ser solteiro, casados compram em carrinhos) tinha ração de gato. Homens que tem gatos são muito interessantes. Tinha frutas, coca-cola, macarrão e o resto não consegui ver. Barba por fazer, uma tatuagem na panturrilha. Chinelos. Muito, muito interessante. Bebi meu café devagar e fiquei observando, já ele bebeu rápido, olhou seu relógio com uma cara de sério (que cara mais lindo!) e se perdeu entre as prateleiras do mercado. Lá se foi um cara muito, muito charmoso e interessante.

Pedi mais um café, porque aquilo me deixou intrigada. Onde se escondem esses caras interessantes? Perdidos entre as prateleiras do mercado e livrarias? Na esquina de cinemas cults e bares de nomes estranhos que ninguém conhece? Por que é tão difícil de localizá-los, existe algum tipo de código? Ou estaria eu apenas procurando nos lugares errados?

 Uma coisa é certa: na balada eles não estão. Veja bem, meu bem, sinto lhe informar, mas é verdade. Não estou dizendo que as pessoas das baladas não sejam interessantes, mas é que elas estão ali com outro propósito  Se fosse um mercado, os caras da balada estariam na prateleira de chocolates e gordices, são uma delícia, todo mundo quer, mas acabam rápido. Muitos até te deixam com aquele sentimento de culpa – e engordam. E, no momento, estou de dieta, prefiro algo mais light, com sabor diferente, algo orgânico  sem firulas na embalagem, mas com um conteúdo que não faça (tão) mal. Que seja mais para ‘longa-vida’ do que para ‘pronto em três minutos’. Mas essas prateleiras são tão escondidas! 

 Parece que esse tipo de produto anda em falta no mercado. Ou até, quem sabe, eles passem despercebidos pela gente, porque escolhemos demais. Eu sou assim. Vivo sabotando a dieta, depois reclamo que não tem nada que preste, mas na hora de escolher, será que eu escolho o certo? É bom pensar. Terminei meu segundo café e jurei ficar um pouco mais atenta: quem sabe seja hora de prestar atenção nas escolhas. E nas cestinhas alheias.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Aquela Sensação.


 Dia desses fui comprar uma gordice no Burguer King e por acaso o shopping tinha música ao vivo. Enquanto escolhia entre as delícias de cinco reais ao som de alguma música do J quest, que não me lembro qual (confundo todas elas), a atendente suspirou e disse: “Queria entender o que esse cara está cantando”. No primeiro momento eu pensei que ela não devia estar muito bem do ouvido, afinal o músico nem era tão ruim assim. Depois, enquanto saboreava meu delicioso bacon, eu entendi. A tal música falava sobre as sensações de estar apaixonado, e era sobre isso que ela queria entender. E eu também. 

 Veja bem: não sinto falta de uma pessoa em específico. Não sinto saudades do que passei com ela. Mal me lembro dela, pra falar a verdade. O que eu sinto falta é daquela sensação de estar apaixonada, sabe? Aquele frio na barriga que se sente quando a pessoa vem chegando perto. Ou aquela gaguejada que a gente da quando fala e não consegue tirar os olhos do sorriso mais lindo do mundo. A vontade boa de ouvir a voz, sentir o cheiro, o sorriso besta quando recebe uma sms no meio da tarde. As dúvidas – ah, as eternas dúvidas nas coisas mais bobas, a consulta as amigas para saber opiniões sobre tudo. É, amiga atendente do Burguer King, isso faz realmente falta. 

 Fazem dois anos que não me apaixono. Além de uma paixonite ou outra, mas nada a ponto de me fazer escutar músicas do Roberto Carlos, por exemplo. Mal me lembro quando senti meu coração acelerar bem forte.. Também não me lembro o ponto que ele foi desacelerando e sedendo espaço para o fim do começo do amor – como essas coisas vão sumindo e a gente nem percebe? Deveríamos cultivar isso sempre. Deveria ser proibido que só nos lembrássemos desse tipo de sensação graças ás epifanias de atendentes do Burguer King.

 Mas a gente sabe que não é tão simples. Não existe um botão que se aperta e faça que a gente se apaixone e as nossas palmas das mãos comecem a suar. Porém, pessoas, talvez a gente dificulte um pouco também, talvez nós deixamos as nossas portas fechadas para qualquer tipo de sensação. Talvez a gente tenha medo disso tudo, ou talvez seja mesmo difícil encontrar um amor para embaralhar a nossa cabeça. Talvez, talvez... Já que tudo e uma suposição, quem sabe então não tenhamos que fazer igual nosso querido Caio F. Abreu ensinou? Ele disse assim: “Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um.” Concordo Caio, mas acho que para atravessar todos os dias – não somente agosto – essa é uma ideia muito valida. Já estou inventando.

sábado, 3 de novembro de 2012

Desbotado.

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Enquanto bebo café e você fuma seu cigarro do outro lado da sala, eu me pergunto – será que você não vê, meu bem, que estamos por um triz? Você traga seu cigarro e eu fico num faz de conta que nada está acontecendo. Eu pego mais um café e você vira a página do jornal e assim a vida segue. 
Vem me dizer que eu sou tua? 
 Você comenta sobre as novas decisões políticas e eu finjo que entendo. Dessa vez quem acende um cigarro sou eu e você ri irônico, dizendo para eu largar esse vício – isso enquanto acende mais um para você. Dou risada também, e por um breve instante sinto um calor dentro do peito, culpa dos meus olhos encontrando os seus verdes e cansados enquanto sorri. Mas o sorriso logo congela e você vira mais uma página.
 Vem bagunçar o meu cabelo impecável e me dizer sorrindo que vai desarrumar minha vida? 
 Pode estar sol lá fora, talvez seja sábado ou domingo. Mas aqui dentro desse nosso apartamento é cinza e gelado. Você parece parte da decoração, tão cinza quanto. Há fumaça e cheiro de café, há você sem camisa e eu com um micro vestido. Há a gente por um triz, (você não vê?) bem no meio dessa coisa toda. Quando foi que chegamos a esse ponto mesmo? Será esse sempre o destino – tudo é colorido no começo até que vai desbotando, desbotando e termina com você virando a página do jornal e eu tentando achar cores nisso tudo? Não sei. Me aproximo de você, pego mais um cigarro e te observo. Você está acabando com meu pulmão. Você está destruindo meu coração. Você confunde a minha mente. 
 Tira o cigarro da minha boca agora e vamos nos amar loucamente nessa varanda fria? 
 Você mal me olha, mal me percebe. Sou linda, não vê? Quero explodir radiante essas cores que pulsam no meu peito. Te pergunto o que acontece e você me responde falando sobre uma manchete do jornal. Quis saber o que acontecia bem aqui, entre nós dois, mas como não me atrevo a perguntar de novo. Concordo que o furacão Sandy é um indício do fim do mundo. Te deixo aí – lindo e cinza – com suas divagações sobre o fim dos tempos e a péssima política do Brasil e saio desse apartamento que me sufoca. Está tudo tão colorido lá fora. Sorrio. O que está desbotado não merece minhas cores, então sigo. Para o dia, meu bem, nascer feliz. 

‘Todo dia a insônia me convence que o céu 
Faz tudo ficar infinito 
E que a solidão é pretensão de quem fica Escondido fazendo fita.
Todo dia tem a hora da sessão coruja 
Só entende quem namora Agora "vão bora"
 Estamos meu bem por um triz’
Cazuza.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pessoas dão preguiça.

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Preguiça das pessoas e desses joguinhos sociais, saca? Bom, deixe-me ser clara: Toda essa coisa montada, esse script que temos seguir quando conhecemos alguém. Visualize: você se arruma, chega na festa. Olha para os lados, vai até o bar, retoca o batom vermelho e dança mais um pouco. De repente ali, de camisa xadrez e barba por fazer (já que agora o lema é faça amor e não a barba), está ele. Olham-se, você desvia o olhar, dança como se não tivesse percebido a figura. Olha de novo, ele sorri, você bebe seja lá o que estiver bebendo e ele se aproxima. A abordagem vai variar de acordo com o lugar que você esteja freqüentando (espero eu que não seja uma balada sertaneja – nada de agora fiquei doce), você reza para que ele não venha com um papo muito furado. Aliás, você reza para que ele tenha papo, que não venha já te segurando, querendo te beijar, afinal as pessoas tem essa mania hoje em dia. Elas querem primeiro beijar para (talvez) depois se conhecerem. Triste. 

Trocam algumas palavras, ele falou algo engraçadinho e você sorriu. Seu sorriso foi elogiado. Vão para um outro lugar porque ali não da para ouvir direito. Aham, sei. Ele tem até uma tatuagem legal no braço e parece ser bem bonito de perto – ah não, nada tem a ver com as duas doses de tequila- então você vai. Talvez vocês conversem mais um pouco, talvez não... Mas, supomos que sim. Então, logo começa aquela auto-publicidade toda – e isso meu caros, me cansa muito, muito muito. É aquela coisa, você é acadêmica de (insira seu curso aqui), faz estágio, rala pra caramba, não liga para coisas fúteis (apesar de estar usando um sapato mega caro), assiste filmes de Tarantino e gosta de ler (mas não diz que é fã de Nicholas Sparks). Ele diz Jura?? Elogia seu curso, faz alguma piada sobre você ser muito inteligente, diz que surfa/anda de skate/toca violão e que no próximo ano vai fazer intercâmbio para a conchinchina, que por acaso é o lugar que você sonha em visitar. Você quer ir viajar o mundo para fotografar, e adivinhe só! – ele ama fotografia. Risadas juntos, pega na sua mão, beijam-se, apertam-se, sorriem, beijam-se de novo. 

 Então ele tem que ir, tudo bem. Aí ele pega seu número e diz que vai te ligar. Amanhã mesmo, pois quer falar sobre uns lugares ótimos na conchinchina que da para fotografar. Você passa seu número, faz alguma piada qualquer enquanto ele segue com os amigos. Você então vai ao banheiro com as amigas – conta tudo nos mínimos detalhes, imagina, tanta coisa em comum! E assim a noite segue, quase que com o mesmo roteiro. No outro dia ele não liga – mas você já sabia disso. De repente ele nem parecia tão interessante e sua cabeça dói. De noite você nem se lembra mais sobre a Conchinchina e suas fotografias.

 Entende o que eu quero dizer? Cadê a naturalidade das coisas? Por que temos que ficar nos inventando? Tão simples ser direto. Tão simples ser você. Mas ser você te deixa menos interessante? E se você simplesmente falasse que nunca ouviu falar de conchinchina nenhuma, mas adora viajar para o interior de São Paulo? Ou então ao invés de ser super fã da banda que ele acabou de mencionar – e você nunca tinha ouvido falar antes – dizer que gosta mesmo é de ouvir los hermanos, mas adoraria conhecer um pouco mais sobre a tal banda. Que tal rir das incompatibilidades? Que tal não dar seu número – pois você sabe que ele não vai ligar- e ao invés disso anotar o dele. E não ligar. Ou ligar, se tiver vontade, porque não? Não temos que seguir sempre o mesmo script mesmo.

 E isso que é o bom. Reinventar. Inovar. Sair do mesmo. Agora entende porque ando cansada desse joguinho social? Ah, legal mesmo é falar, fazer e sentir o que der na telha. Agir livremente, sem ficar pensando em seguir um padrão porque é assim que deve ser feito. Quero mesmo é fazer como eu bem entender, sem precisar ficar pesquisando sobre as conchinchinas da vida, se o que eu gosto é o fora do comum. Que me aceitem assim, ué! Ou se não aceitar, que apenas respeitem. Tomara que existam pessoas que estejam com o mesmo cansaço que eu.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Plante a paz, colha o amor.

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“É para todos, não importa de onde você é, o amor, ele cruza todas as linhas.Como o sentimento de todas as estações mudando, o amor é uma memória, e nestes últimos dias, quando a iniquidade arde, o amor verdadeiro fala”. 

Essa música é True Love, da banda Soldier of Jah Arms, mais conhecida como S.O.J.A. Escolhi ela para começar esse post não somente pela beleza que é sua letra, mas pelo grande sentimento que ela passa. Porque eu acho que música é isso, é sentimento, é coração, é amor... Música de verdade toca você, arrepia, emociona. Não é como aquele monte de enlatado que a gente engole todos os dias – não, música de verdade é poesia, vem da alma e você sente isso. 

E o reggae meus caros, é cheio disso. Cheio de sentimento. Suas letras falam de amor, de Deus em todas as suas formas, de paz e de coisas boas. Mas é incrível o preconceito que o reggae sofre! Já cansei de ouvir que quem curte reggae é um bando de marginal maconheiro, que não faz nada da vida. Bando de vagabundos. Quando ouço essas coisas, eu realmente tenho pena dessa gente de alma tão pequena e cabeça tão limitada. Gente preconceituosa, gente que não se dá ao trabalho de ter fundamento com o que fala. 

 Conheci por esses dias um garoto (lindo), que tinha dreads. Ele me disse que tem gente que chega a atravessar a rua para não passar perto dele, por achar que ele é assaltante ou algo do tipo. Ele é claro falou isso rindo, acha engraçado essa reação das pessoas. Ele não se importa, porque ele sabe quem ele é, sabe de seus princípios. Agora, que princípios tem esse tipo de pessoa que atravessa a rua devido a aparência da outra? Que julgamento é esse? Isso é triste, muito triste.

 Então, antes de levantar o dedo e sair julgando as pessoas ao seu redor, lembre-se que “quem planta preconceito, racismo e indiferença, não pode reclamar da violência”, afinal “quem planta a violência, colhe o ódio no final”. Boas palavras, Natiruts.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Se amem baixinho

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Quem aí não conhece um daqueles casais que fazem questão de berrar aos quatro cantos que se amam? Demonstração de amor é lindo, claro, mas como tudo que é em excesso fica chato. E soa um pouco falso também. Ah como cansei de ver casais que se amavam todo dia para sempre através das redes sociais e na outra semana já não estavam mais juntos. Quem muito faz questão de mostrar, creio eu, é porque não tem certeza que tem. 

O melhor jeito de dizer que se ama é não dizendo, é sentindo. Ali, no silêncio do quarto num domingo, de bobeira no sofá da sala: se olham, nada dizem. Um sorriso e um beijo – precisa de palavras? Ou então quando ela finalmente vai naquele jogo de futebol lotado com você, sendo que ela detesta futebol. Mas está ali do seu lado, com a camisa do seu time, veja só. E sorrindo, que sorriso lindo. Ela não precisa berrar que te ama. 

Quando ele chega com chocolates para acalmar sua TPM. Ou então faz a janta – miojo com salsichas – e lava a louça ainda por cima, daquele jeito dele, mas lava. Ele faz isso por que? Porque te ama garota. Não é só enchendo a sua página de recados românticos (leia-se bregas), sua caixa de mensagens ou seu ouvido toda hora. Isso não é amor, é chatice. Ou até insegurança, ou quem sabe medo de alguma coisa? Vai saber. Mas com certeza é mais legal ser surpreendida com uma mensagem no meio da tarde de quarta-feira do que já ter certeza que de minuto a minuto ele estará atualizando o boletim de romance de vocês. 

 Se amem, mas amem baixinho. O amor é onipresente. Não precisa querer gritar ele aos quatro cantos – é nas entrelinhas que ele se faz presente. E  bem mais gostoso.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Já foi, já foi.

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Enquanto eu estava rindo de alguma coisa de repente me lembrei de você. Quis, então me lembrar do seu sorriso – do barulho dele, da sua cara com ele, qualquer lembrança que fosse de você sorrindo - mas não consegui. Me esforcei, me esforcei um bocado mesmo e nada. Nem uma lembracinha sequer. Então tentei me lembrar da sua voz. Era rouca ou mais suave? O que me dizia sempre? Não lembrei. Quis ir mais longe ainda e ver se conseguia recordar-me do seu cheiro, aquele cheiro que tinha o seu pescoço e me fazia tão bem, aquele melhor cheiro do mundo. Que cheiro tinha o melhor cheiro do mundo? Não soube dizer. Não consegui lembrar nem um vestígio sequer do tal aroma. 

Que ironia, eu pensei. Porque um dia era a sua voz (rouca?) ao pé do ouvido que me arrepiava. Eu contava as horas para poder te abraçar e sentir o cheiro (de que mesmo?) que ficava bem entre a sua nuca e orelha. Teu beijo, que eu me lembre, encaixava com o meu, mas agora parece que as peças nunca foram do mesmo formato – nada, nadica de nada me parece que aconteceu. Pensava eu que não conseguiria viver sem voce, e veja só! Parece que nunca vivi com você. Você quem mesmo? 

 Me lembro de algumas poucas cenas ensolaradas. Coisas muito vagas sabe? Como num borrão. Será que vivemos tudo aquilo mesmo? Tenho a mesma sensação com os dias ruins. Tivemos dias ruins? Tivemos muito dias? Será que sou isso para você também, uma coisa escrita a lápis, que está se apagando? Parecia que era tatuagem, coisa de pele, permanente. Mas desbotou. Sem colorido sem nada. A página vai ficando em branco. O que tínhamos escrito nela? Não sei, não lembro da sua letra. 

 Parei de (tentar) relembrar. Voltei a rir, porque de repente nem sabia mais quem era você. Isso não é engraçado? A tristeza já foi, e aquele tempo, foi faz tempo. Agora, nessa leveza de página apagada vou-me rindo. Ria por aí também.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Se o amor é meu, amo como quiser.

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Porque eu não acredito em príncipe encantado, princesas e seus sapatinhos de cristal, etc etc etc, tem gente que acha que eu não acredito no amor. Pior, tem gente que acha que eu sou contra o amor! Logo eu, uma apaixonada por natureza. Eu amo o amor. Eu admiro o amor. Eu vivo o amor. Mas vivo do meu jeito, acredito nele de uma forma diferenciada, acredito nele livre – muito embora já o tenha aprisionado diversas vezes. Não é porque eu não o vejo mais com as lentes cor-de-rosa que eu não acredite nele, ora bolas. 

Porque cada um tem seu jeito de amar. Se o seu for o de esperar o tal príncipe encima do tal cavalo branco, tudo bem. É a sua visão de amor, se você acredita nisso e é feliz assim, que bom para você. Se você prefere os sapos (tenho uma grande inclinação por eles) e eles te fazem sentir bem, ótimo! Se o príncipe quer o príncipe, se a princesa quer a bruxa, quem tem que se meter? Mania das pessoas se preocuparem com o amor alheio e deixar o seu passar. 

Ah sim, eu já quis príncipes. Beijei sapos com a esperança de transformá-los em tal. Eu já achei que ia casar e ficar com uma única pessoa o resto da minha vida e coisas assim. Mas hoje eu penso diferente. Como já falei aqui, apenas quero um amor livre, afinal. Penso que amor muda, acaba, ressurge, renova, é efêmero. Se tudo isso acontecer com a mesma pessoa, que coisa linda. Se for para ter vários amores na sua vida, que bom também, aprenda com cada um deles, VIVA cada um. Viva também a perda, o fim deles. Viva a solidão também, porque a gente precisa dela. 

Viva o que você quiser, aliás. Porque isso é o lindo do amor. Ele não tem regras, já viu? Mas não o estrague – porque a gente tem essa mania. Parece que é complexo de entender, mas na verdade ele é simples demais, a gente que complica com nossos conceitos amarrados sobre o sentimento. Seja príncipe, sapo, princesa, plebéia ou nenhum personagem de nenhuma lenda, não importa – ame do seu jeito. E respeite quem ama de uma forma diferente. Apenas, ame, só isso. Porque é lindo esse tal de amor né!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vão viver.

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E aí tem gente que só fica assistindo a vida passar. Passa a vida toda ali, existindo, como um mero espectador. Vai viver!! Existir só não basta. Milhões, bilhões de pessoas existem, para que ser só mais um número, uma estatística? Eu conheço gente assim. Gente que parece precisar de uma sacudida para acordar e perceber que enquanto está ali, conformada com a vida que tem, com a rotina de sempre, com os mais-ou-menos-mais-para-menos-do-que-para-mais, as coisas estão acontecendo. E ela está perdendo. 

Então a pessoa reclama. Reclama porque trabalha num lugar que não gosta. Reclama porque está na casa dos pais no interior de uma cidade que nada acontece enquanto gostaria de morar sozinha na capital de outro estado. Reclama porque foi abandonada, traída, deixada para trás. Reclama pela falta de dinheiro, pela falta de amor, pela programação ruim da TV e pelas roupas que tem no armário e detesta. 

Mas ela tenta ir trabalhar com algo que gosta? Ou então se arriscar e procurar oportunidades em outro estado? Quem sabe ela procura entender o motivo de ter sido abandonada e procura a companhia de outro alguém? Por que não desliga a TV e vai fazer algo diferente então? Por que não dar uma repaginada na vida, aliás? Porque é mais cômodo ficar sentada reclamando. Por que correr atrás das coisas não é fácil, então elas apenas se conformam com o que tem e passam a vida – que é tão curta – desejando ser outra coisa.

 Não estou dizendo que não reclamo. Aliás, reclamo um bocado. Mas nunca foi conformada, sempre corri atrás do que eu acho certo pra mim. Muito embora tenha tropeços demais pelo caminho – haja curativos para tantos joelhos que já ralei – pelo menos não fiquei só acomodada. E tem muitas outras coisas que quero fazer. Esse ano coloquei na cabeça que vou aprender a tocar violão – começo as aulas semana que vem. Até o fim do ano termino um livro. De escrever o livro, no caso. E tantas outras coisas mais. 

Se vou conseguir? Não sei. Talvez até desista de algumas coisas e surjam outras. Talvez eu me canse e queria passar uma tarde reclamando e assistindo programação ruim, mas então todas as outras tardes eu vou dar um jeito de ficar mais próxima de viver e não só de ficar existindo. Talvez eu rale muito mais joelhos, cotovelos, coração e etc – mas tudo bem, porque cicatrizes também rendem boas histórias. 

 Tomara que eu tenha conseguido dar uma sacudidinha em alguém. Se precisar, tenho band-aid sempre na bolsa. Afinal das contas, nunca se sabe né.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

I’m not a relationship person.

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E então num desses bate-papos da vida o cara me perguntou, assim como não quer nada, “Tá, e aí, tu nunca mais vai querer namorar”? Não eu respondi. Por que eu nunca mais quero namorar. Porque, na verdade eu nunca quis namorar - tirando talvez quando eu tinha meus 15 anos e uma visão cor-de-rosa sobre namoros. Os namoros sempre aconteceram na minha vida, assim do nada, foram chegando devagarzinho e de repente, olha lá! Lá estava eu em um ‘relacionamento sério com fulano’. 

 Calma lá, não to dizendo que sou dessas pessoas que querer ficar sozinhas a vida toda, que não sentem falta de uma vida a dois. Claro que não, sou humana afinal, e humanos são carentes. Gosto de dormir de conchinha também. Gosto de ter um par de meia perdido na gaveta de alguém ou então a minha própria caneca de café no canto da estante que só eu sei. Mas a verdade é que nunca fui dessas meninas que precisam de um namorado a todo momento, que precisam ser de alguém. Existem pessoas que são viciadas em namoros, que engatam um relacionamento seguido do outro, tudo isso por medo de ficarem sozinhas. E quem disse que a solidão não é boa? 

É que eu acho que quando a gente acaba rotulando as coisas, elas vão se perdendo. ‘Deixa acontecer naturalmente’ diz um pagode clichê aí, e eu que não sou nem um pouco fã de pagode, tenho que concordar. Apenas é bom deixar que as coisas sigam seu curso natural, sem querer forçar nada nem ninguém, sem querer sempre ter uma aliança no dedo e alguém para chamar de seu. Até porque ninguém é de ninguém, afinal. E na minha tese – que nada tem de comprovada cientificamente – eu acho que é por isso que tantas pessoas são infelizes nos seus relacionamentos. Porque tem medo de ficar sozinhas e se prendem ao primeiro que lhe desprende um pouco de atenção. Eu conheço várias pessoas assim, presas a relacionamentos falidos, mas simplesmente não conseguem terminar, são acomodadas naquela situação. 

Então, não eu não quero namorar. Nunca quis. O que não quer dizer que semana que vem eu não possa estar namorando, bem feliz, para que daqui há algum tempo eu esteja sozinha de novo, igualmente feliz. Porque isso que é bom, saber que cada coisa tem seu momento, e deixar as coisas seguirem de forma natural. Solidão, como diz o lindo do Camelo, também é doce. Doce Solidão. 

 "Posso estar só mas sou de todo mundo 
Por eu ser só um 
A nem, a não, a nem dá solidão 
Foge que eu te encontro que eu já tenho asa"
Doce Solidão - Marcelo Camelo

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sobre pássaros e fidelidade.

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Então perguntaram-me se eu era fiel. Poderia ter dito que sim, afinal é a resposta que todos esperam. Mas minha resposta – e não vejo outra melhor para essa pergunta- foi: Depende o que você considera fidelidade. O cara, que diga-se de passagem não era “fiel”, pois com uma aliança gigantesca no dedo estava me chavecando , fez uma cara de espanto. Perguntou como assim e eu respondi a mesma coisa. Ele mudou de assunto para qualquer coisa banal e depois foi embora, com o conceito burguês de fidelidade dele, que ele nem segue, aliás. 

 Por que, afinal, o que é fidelidade? É não se permitir ter atração por outra pessoa, ou sair com outra pessoa? Ser fiel é dizer para o companheiro que ele é o único na sua vida, mas sair por aí beijando outros só para que os amigos não fiquem perturbando você com piadinhas machistas? Desculpe, mas isso me soa como falso moralismo. Gente que critica as pessoas que tem relacionamento aberto geralmente são as que mais são infiéis, já percebeu? 

 Sei que isso é um assunto muito delicado, afinal quando a gente está em um relacionamento a gente quer a pessoa só para si, não quer dividir com mais niguém. Até aí tudo bem, porém, se fosse fácil assim as traições não aconteceriam não é? Pensando nessas coisas cheguei a conclusão de que prefiro saber por mais que doa. Prefiro ouvir um bem sincero ‘gosto de você mas quero ficar com outras pessoas’ do que um ‘eu te amo, só você’ para depois descobrir que não era só eu. E podes crêr que isso dói bastante. Mentiras – nem sinceras Cazuza- não me interessam. 

 E, depois, tenho pensado que o amor tem que ser livre, afinal. Como um pássaro. Ele vai e volta, se ele quer, fica. Se não ficou, adianta aprisioná-lo numa gaiola só pelo prazer de tê-lo? Canto de pássaro preso na gaiola é triste demais. Lindo é ver ele cantar a mais bela canção ao seu lado sem ter medo de ser obrigado a ficar ali para sempre. E se o pássaro quiser ir cantar em outra estação? Deixe-o ir. Temos que saber lidar com as perdas também. Esse tipo de pássaro é efêmero, e pode ter certeza, sempre haverá uma nova canção, sempre. 

 Diga sim à lealdade. Comece a prestar bem atenção nas canções – como está a sua melodia?

'E ainda que meu amor seja raro
Ainda que meu amor seja verdadeiro
Sou como um pássaro, eu apenas voarei por aí.'

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Leve, apenas... me leve.

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Me leva pra casa hoje a noite. Para a sua casa. Apenas me leve, não vamos questionar nada, só pega na minha mão e vamos fazer o que sabemos de melhor. Não, não estou falando de brigas, embora sabemos fazer isso muito bem também. Apenas me leve para casa, vamos ouvindo pelo caminho as bandas que só nós conhecemos. Somos tão nós. Ninguém nos entende, ninguém me entendia, foi isso que me levou até você. Agora, só quero que você me leve.

 Você sabe, foi minha cura. Apagou de mim um passado tão presente, ao mesmo tempo que não queria mais nada nem ninguém, quero apenas ir para a sua casa e ficar discutindo sobre os livros estranhos que você tem na estante. Porque sabe, você é diferente, você tem uma estante que tem livros, filmes, coisas velhas e cigarros. Você não usa as roupas mais bonitas – você nem ao menos é o mais bonito – mas não me importo, quero apenas ficar estirada no seu sofá velho, ouvindo suas histórias velhas, discutindo e depois, bom depois, você sabe. Podemos ir agora?

Sou de ninguém, mas sou tão sua. Me divirto com aqueles que gosto de conquistar, você também, você adora conquistar, mas sei que é tão meu também. Como Frida Kahlo e seu Diego, não queremos fidelidade, sim lealdade. Porque é assim que tem que ser, já estraguei tantos amores por aí, você também, você me disse, então porque não deixar as coisas livres? Tudo bem, pois é na sua casa que gosto de estar, pois embora algumas outras visitem sua casa, seu corpo, seu cheiro, sou eu quem fica, sou eu que sei que aquele cartão postal desbotado em cima do criado mudo é do carnaval de 98, sou eu que faço teu café amargo na sua caneca preferida – que fica guardada no canto do armário da cozinha, sim, eu sei.

 Amar talvez seja isso, talvez seja apenas querer estar ali fazendo seu café, mas sem a necessidade de ser obrigada a fazer isso todo dia. Amor, coisa complicada, talvez seja isso, sem pudor, sem amarras, sem rótulos, apenas sendo feliz enquanto se pode ser. Apenas sabendo, tendo a certeza que eu sou tua e você é tão meu sem tem que sofrer e querer viver só por isso. 

 Não sei. Apenas me leve para a sua casa. Hoje, quem sabe depois, por um tempo, ou nunca mais? Pouco importa, quando se sabe que é, quando se sabe o que sente, que é puro, que é bonito, leal. Vamos?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Pras pessoas de alma bem pequena (...)

(Remoendo pequenos problemas 
Querendo sempre aquilo que não têm)


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 É uma revolta, nessa quarta-feira chuvosa. Revoltada, porque as pessoas me cansam. Me cansam com seus discursos falso moralistas, me cansam com sua hipocrisia, me cansam com toda essa superficialidade. Que mundo é esse em que corpo vem antes da mente? Que mundo é esse em que dinheiro é que dita as regras? Que mundo é esse, em que todos são tão montados, tão falsos? 


 Pode parecer discurso de rebelde sem causa, mas está longe disso. Apenas acordei hoje cansada das pessoas, cansada das coisas que ouço e vejo, e como não tenho dinheiro – nem vontade, diga-se de passagem – para pagar um analista, vim aqui reclamar no espaço mais democrático que conheço, o MEU espaço. 


 Já viram coisa mais superficial do que pessoas na balada? É todo mundo querendo parecer bonito, rico e feliz. Isso acontece no facebook também né? Todo mundo querendo ajudar os animais, querendo ser descolado e esfregando na cara da sociedade o quanto vai em lugares legais, come pratos caros e tem uma vida ma-ra-vi-lho-sa. Todos os relacionamentos são perfeitos, todas as amizades verdadeiras. Parece que as pessoas estão vivendo no Second Life (que coisa antiga), parece que criam avatar de algo que gostariam de ser. Mas que não são. 


Em que lugar ficam as pessoas que não ligam para isso tudo? Quem gosta de conversar, de debater assuntos que não sejam sobre o Neymar ou qualquer panicat? Aliás, onde encontramos essas pessoas, onde elas se escondem? Não sei. Sei que cada vez me decepciono mais com certas coisas. Isso me deixa com preguiça de pessoas. Preguiça de “comprar” certas brigas que não valem a pena. Cansaço de ouvir cada coisa sem fundamento, que acabo apenas deixando passar. Não deveria é claro. Mas lutar ao lado de quem e pelo que, quando a maioria das pessoas apenas aceita tudo que lhe é imposto? 


Não quero mudar o mundo. Sei que não consigo. Mas também não quero ficar sentada apenas aceitando tudo que dizem que tenho que ser. Queria apenas que mais pessoas se levantassem também. 


"Vamos pedir piedade Senhor, piedade 
Pra essa gente careta e covarde 
Vamos pedir piedade Senhor, piedade 
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem” 
Blues da Piedade. Melhor Música. 
(Cazuza, seu lindo)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Let it go.

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A pessoa que não sai do pensamento, suspiros, frio na barriga, músicas bregas: esse é o atestado de que se está apaixonado. Mas o que atesta o fim do amor? Assuntinho complicado esse. Ás vezes passamos dias, meses, anos apaixonados, até que o fim acontece. Existem aqueles que perdem o amor no meio do caminho, outros sofrem porque o fim foi decretado mas o amor continua lá. Como saber que o fim é mesmo o fim? 


A minha teoria – que não tem embasamento científico nem nada do tipo, diga-se de passagem – é que o amor acaba quando o sentimento termina. Qualquer sentimento. Quando passamos por um fim difícil, descobrimos mentiras, traições e essas coisas, mas ainda gostamos da pessoa, esse amor se transforma em mágoa. Em raiva. Em sentimentos ruins, mas que ainda são sentimentos. Sinal de que sentimos algo por aquela pessoa ainda, ou seja, não acabou. 


A gente enche a boca para falar que não ama mais, que não suporta tal pessoa, que tem raiva. Opa. Olha o amor aí gente! Disfarçadinho, para doer menos, mas ele está lá. Raiva é uma forma de amor. Muita raiva então, nem se fala, é o amor querendo dizer que não está mais lá, querendo se disfarçar, para doer menos quem sabe. Agora, quando não se sente absolutamente mais nada, e com isso eu quero dizer que não há mais raiva, mágoa, vontade de reviver as coisas boas, então diga Adieu l'amour, pois significa que ele se foi. 


Veja bem, isso não quer dizer que você não pense nas coisas boas, ou até mesmo nas ruins. Mas a diferença está entre relembrar e querer reviver tais coisas. Lembrar com carinho dos bons momentos é bom, muito bom. Mas se você consegue apenas recordar com afeição, guardar as coisas boas, mas não sente saudade ‘daquele tempo’ ou não pensa em reviver tudo de novo, parabéns, você conseguiu. Não ama mais, superou. Coração limpo, coisa boa. 


E não tem mesmo coisa melhor do que não se remoer com as mágoas ou não querer o tempo todo voltar para o passado, para aquele lugar em que as coisas davam certo e ninguém sabia que iria afundar. Deixar de amar não é esquecer, mas sim saber lembrar das coisas sem ter nenhum sentimento preso a tal memória. E como é bom poder olhar para a pessoa e não sentir nada, além de um agradecimento especial: afinal bons ou ruins, cada momento com certeza serviu para algo. E saber levar isso adiante e continuar vivendo é maravilhoso. 


Deixem o amor entrar. Mas saibam deixar ele ir também. Essa renovação revigora e nos amadurece. Pobre daqueles que mantém o ódio, não sabem o que – ou quem – estão deixando de viver e conhecer por conta disso.




Por @criispi, que aprendeu a deixar as coisas ruins irem embora.

terça-feira, 3 de julho de 2012

É passageira.


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Fazia tempo que eu não acordava tão cedo para pegar o ônibus rumo ao trabalho, mas ontem foi uma exceção. Devido ao lugar que eu me encontrava, seis e meia da manhã já estava sentada no baquinho desconfortável pensando que iria dormir até chegar no meu destino. Tive sorte de não ficar em pé, logo pensei que conseguiria mesmo ir cochilando, mas a menina que estava sentada do meu lado não deixou. Não porque ela estava ouvindo funk no celular sem fone-de-ouvido, até porque acho que ninguém em sã consciência se arriscaria a fazer isso numa segunda-feira de manhã com todos mau-humorados ao seu redor, mas porque ela estava chorando. Discretamente, quietinha, olhando para a janela, quase não dava para perceber. Mas eu percebi. 


Fiquei meio assustada no começo. Depois curiosa. Olhei discretamente (dentro do possível) para ela, em busca de vestígios sobre qual motivo ela estaria se debulhando em lágrimas numa segunda-feira, ás seis e meia da manhã. Perdeu o emprego? Perdeu a carteira? Perdeu a bolsa? Não, eu aposta que era outro tipo de perda: perdeu um amor. Ah o jeito que ela olhava para a janela, depois para o celular, depois balançava a cabeça como quem não entendia nada. Os suspiros, a respiração entrecortada, as olheiras, o cabelo preso, a vontade de não querer chorar mas mesmo assim não conseguir, as pernas inquietas. Já vi esse filme. 


Fiquei convalescida com ela. Entendia como era aquilo. Quis dizer para ela que vai passar. Que vai doer ainda inúmeras vezes, que ela vai chorar ainda algum tempo quando lembrar, que ela vai querer esquecer mas vai se trair lembrando das coisas. Mas que passa, com certeza. Quis abraçar ela, porque sabia que ela choraria ainda mais. Quis dizer que já estive desse lado, que sei o quanto é difícil, mas que agora estou do outro e toda essa lágrima retida tentando cair discretamente durante as viagens de ônibus serviram para muita coisa. 


 Mas eu não disse nada, óbvio. Afinal eu nem sabia se essa minha visão hollywoodiana era o principal motivo das lágrimas dela. De repente ela tinha perdido mesmo a bolsa, ou algo assim. De qualquer forma, me lembrei que estive ali, mas agora estava sentada no banco do lado, criando hipóteses sobre a tristeza dos outros. E ali dentro daquele ônibus, lembrei do velho clichê: a dor é mesmo passageira.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre ovos quebrados.

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Nada é mais igual do que 'dessa vez vai ser diferente’. Li isso em algum lugar, se não me engano dizia que era da Tati Bernardi. Não sei com certeza quem escreveu, mas sei com certeza que essa pessoa não poderia estar mais certa. Sempre achamos que dessa vez vai ser diferente. E que dessa outra vez também. E que da décima vez também. Essa é a última vez – juro – porque será diferente mesmo. Ele (a) mudou, prometemos que vai ser diferente. Quem não conhece essa história? 


 No começo, claro, é sempre diferente. Mas é como se você estivesse pisando em ovos, um pequeno descuido e pronto, o estrago está feito – tudo melecado outra vez. Limpamos, tiramos os vestígios e estamos pronto para recomeçar, melecando tudo outra vez. Até uma hora que um dois dois cansa desse cheiro recorrente de ovo podre e se manda. O problema é que muitas vezes volta, passa um longo tempo e volta ‘diferente’, com mil promessas. E o diferente acontece tudo igual, afinal ovo quebrado tem um cheiro ruim, não da pra disfarçar muito tempo não. 


 Acontece que com raras excessões – tem aqueles que realmente conseguem fazer diferente, não devem ter olfato penso eu – a história fica se repetindo, repetindo, repetindo e nem a gente sabe porque tenta de novo. Já deu errado, mais de uma vez, então por que insistir? Uns dizem que é porque ainda existe amor, e deve ser esgotado até a última gota. Será mesmo? Para que esgotar ao ponto de só sobrar coisa ruim? Não é mais fácil colocar esse amor em algum chão em que se possa pisar com firmeza? 


 É mais fácil, com certeza. Mas somos teimosos. Eu fui teimosa por tanto tempo, mais de uma vez, em mais de um relacionamento. Queria ter certeza –embora já tivesse quebrado tantos ovos – de que o diferente seria mesmo igual. Resultado? Fiz um grande omelete de gosto ruim. Depois de empurrar até a barriga estufar acabei chegando a essa conclusão cheia de metáforas. Acreditem, não precisa estragar uma dúvida de ovos – no primeiro quebrado vá buscar outro igrediente. Mais firme, de preferência.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Amor (não) é burrice


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Li não me lembro onde a frase “amor é falta de Q.I, tenho cada vez mais certeza”. Não sei quem é o autor da seguinte frase – afinal nesse mundo virtual ninguém tem mais certeza de quem são os verdadeiros autores do que se lê – mas eu concordo com ele. Amor emburrece mesmo. Amor não é só cego não, ás vezes parece que ele nos deixa surdo, mudo e com alguns neurônios a menos. 


 Você, que assim como eu, já se apaixonou, diz aí se não é verdade? Quantas vezes nos fazemos de desentendidos para certas coisas tão óbvias? E quando não enxergamos, ou melhor, nos fazemos de cegos, para aquela verdade que está bem a nossa frente? Ah sim, eu já fingi que acreditei em muitas coisas. Já deixei de fazer tantas outras também. Já ceguei para o que estava explícito, não ouvi o que me gritavam aos berros e calei quando deveria falar. Aceitei o que jamais achei que aceitaria, quis até mudar meu jeito, veja só. Tudo isso por amor. Mas amor, pergunto eu, a quem? 


 Aceitar algumas coisa, vá lá, é normal. Afinal, são dois seres diferente que estão em uma relação. E me fingir de burro, para você sobressair, como diria os versos de Cazuza, vez em quando tudo bem. Mas até que ponto podemos insistir nessa “burrice” que provém do amor? Amor, acredito eu , é aceitação. É amar o outro justamente por aquilo que ele tem de bom, é claro, mas aceitar também os seus defeitos. Tem que ser o pacote completo.


 Mas o que vejo cada vez mais por aí é gente se anulando. Gente deixando de ser o que é por causa do outro. Tudo bem querer se tornar uma pessoa melhor, afinal todos temos inúmeras manias e defeitos que podemos corrigir. Mas, faça isso por você. Para você ser uma pessoa melhor e não porque o fulano quer que você seja isso ou aquilo, senão ele te deixa. Deixa ir então! Não seja o que você não é, não queira mudar sua personalidade, não se torne justamente aquilo que detesta. 


 Afinal, é muito fácil que a pessoa esteja ao nosso lado somente quando as coisas boas acontecem né? Ter só os sorrisos, os dias de bom humor e saldo positivo é molezinha. Quero ver é quem aguente a gente nos outros tantos dias. Quero ver quem fica do lado do outro quando passa a fase de conquista, a fase em que é amor e beijo para todo canto. Ninguém é feito só de qualidade e calmaria meu amigo. E se você não consegue aguentar a pior fase da pessoa, tem certeza que merece ficar do lado dela na melhor? 


 Então, não sejam burros. Não deixem o amor emburrecer. Amor é lindo e coisa e tal, mas precisa ser transparente. Não tem nada a ver com um completar o outro ou deixar de ser isso ou ser aquilo por causa do outro. É andar junto, lado a lado. É compartilhar as coisas, é entender, é calar quando se tem que calar mas ouvir quando é preciso. É ser você. E uma coisa eu digo: se você quer ficar mudando toda hora com medo de perder o seu amor, sinto muito, mas o mais valioso você perdeu, que é seu amor próprio.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amor não se mede em tempo.

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Tempos modernos e ainda aquele velho papo do amor dura para sempre, paixão não. Se acabou então não era amor. Quem disse? Quem é que pode ter tanta certeza disso? Amor não tem que ser pra sempre não. Paixão não precisa acabar logo. Amor pode ser paixão ardente, fogo e durar muito. Amor pode ser calmo, sereno, lindo e durar pouco, muito pouco. Mas nem por isso ele deixou de ser amor enquanto durou. 


 Me lembro que tive um amor de duas semanas. Sim, eu amei, por duas semanas. Pouco tempo né? Há quem diga que é impossível amar em tão pouco tempo. Digo eu então que não é só muito possível, como talvez tenha sido um amor mais bonito e gostoso do que outros que duraram bem mais tempo. Tanto que lembro dele com muito carinho e um sorriso leve no rosto. Aí me perguntam: se era amor, porque não deu certo? Eu digo que deu certo, muito certo, dentro dessas duas semanas. Era o tempo que aquele amor precisava ficar na minha vida para fazer eu ter uma boa lembrança dele. Então, esse sim deu certo.


 Amor meu filho, não é pra sempre não. Ele acaba, ele surge de novo, ele se transforma, ele é loucura, é amargo, é triste e é sublime. Tem diversos sabores, rótulos, nomes e formas de se manifestar. Se ele fica ali por anos a fio ou apenas meses, não importa, não vai ser mais amor ou menos amor. Não se mede amor pela quantidade de dias, mas sim pelo que ele proporciona no muito ou pouco tempo que se manifestou. Felizes daqueles que conseguem identificar e aproveitar o amor passageiro ou o amor duradouro, tanto faz, mas que vivem cada dia que podem ao invés de ficar esperando que ele acabe. Que parem de ficar rotulando o sentimento, que apenas se sinta. Se o gosto foi bom, guarde na memória, se foi ruim, experimente outro. Deguste por quanto tempo durar o bom sabor.



quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pareço legal mas não gosto de sushi.

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Sempre que eu falo que detesto sushi chove palavras de indignação. Como assim não gosta de Sushi? É uma delícia! Coisa de outro mundo! Todo mundo ama Sushi! Você que não deve ter comido no lugar certo! Entre outros blábláblás do gênero. Confesso que os sushis que experimentei não foram em restaurantes especializados no tal, então resolvi me render e comer o sushi feito em um dos melhores restaurantes. Um amigo meu pediu, e lá fui eu, tapei o nariz, mergulhei no molho shoyo e me rendi ao tal sushi. 


 Agradeço ter experimentado esse sushi desse tal restaurante pop, afinal eu pude realmente constatar: Sushi é ruim demais!!!!!! É sério, o que acontece com esse povo? Como é que pode sushi estar tão na moda, a ponto de ter um restaurante a cada esquina? A sensação que eu fiquei é que tinha ido até o mercado público de Florianópolis e dado uma fungada na banca de peixes. Sério. 


Não devo ter nascido com um paladar muito refinado. E agradeço muito a isso. Não sei porque essa mania de gente que se acha phyna ficar comendo coisas estranhas com nomes esquisitos. É lesma, ova de sei la que peixe, cogumelos ruins e caríssimos e peixe cru. E pagam ainda um absurdo por isso! Eu não como lesma nem de graça amigo. 


 Você que gosta de ter hálito de peixe cru: gosto é gosto, eu sei. Então não me condene quando eu disser que sushi é a coisa mais horrível do mundo! Porque, meu amigo, bom mesmo é picanha com farofa. Pizza de frango ou até um salmão, desde que bem assadinho e temperadinho. E se estar fora de moda é não ir ao sushi, te digo que adoro exercer minha breguice num bom rodízio de carne. Com garfo e faca. 


ps. Tentando mastigar aquele sushi me senti numa prova do No Limite. Olho de cabra com molho shoyo será que rola? 


Ps2. Rodízio de pizza poderia voltar a estar na moda no lugar desse monte de restaurante de sushi né?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Foi uma história bonita, ponto final


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Sempre achei que não saberia colocar pontos finais. Virar a página, quase impossível. Afinal se a história que estava escrita ali atrás era linda, porque eu não podia reler, reviver, reinventar? Então, por mais que as próximas estivessem cheias de rabiscos, rasuras, algumas tivessem sido rasgadas e outras cheia de palavras duras e sem sentido, eu sabia que a página bonita ainda existia, ainda estava lá. Nesse nosso livro louco, não deveria ter ponto final, apenas reticências. 


 Depois de tentar reescrever esse nosso conto torto e com mais momentos de arrancar lágrimas do que de tirar o fôlego, decidi: não há mais espaço em branco que possa ser preenchido com letra alguma. É vício, como ler aquele livro que já lemos trocentas vezes: da saudade e a gente pega pra ler de novo, mas sabe que não vai haver novidade, que não tem como mudar, pq já foi, já vivemos, então para que? 


 Sei bem que já escrevi tantos finais, e depois comecei tudo de novo. Sempre você, ora sendo o protagonista, muitas vezes sendo o antagonista. Você que nada tem a ver comigo, mas que deixa eu me perder tanto nesses gostos opostos. Quero me encontrar agora amor. Lembra do livro que me deu? Devolvi, pois não cabe mais história alguma. Onde se passa borracha ainda ficam marcas, onde a folha é rasgada fica algo incompleto. Algumas linhas foram lindas, vou ler vez em quando. Por enquanto, me escrevo em outras páginas. 


 Um dia escrevo pra ti, e não mais por ti. Mas para contar outras tantas histórias que agora não cabem mais a nós.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Pelos dias de cão, muito obrigado.


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Pois dizem por aí que a pior coisa do mundo é descobrir uma traição, descobrir que a pessoa que era sua verdade é na verdade a maior das mentiras.  Que nada! Agradeça a descoberta da traição. Agradeça ter descoberto todas as mentiras. Agradeça essa dor – que é enorme, sabemos bem. Chore, tome muito café, vodka ou sei lá, fume muito cigarro se você fuma, xingue, esmurre o travesseiro. Fique indignado, revoltado. Mas agradeça por passar por tudo isso. Pois tudo isso fortalece.
Depois desse momento de revolta, tudo fica mais claro. Você acaba percebendo que descobrir tais mentiras, por mais dolorido e traumático que tenha sido, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Afinal, ninguém merece viver uma mentira.  Agradeça por não perder a vida inteira com a pessoa errada.
Errar, todo mundo erra. Erramos, perdoamos, voltamos a errar e perdoar. Mas merece ser perdoado aquele que reconhece seu erro. Grande ou pequeno, mas reconhece. Agora, se você perdoou, mas a pessoa continua persistindo no erro, não vale a pena. Não vale a lágrima, não vale as noites sem sono. Falta de caráter não tem perdão.
Não se culpe. Temos essa mania de colocar a culpa na gente pelos erros dos outros. Se a gente tivesse feito diferente, teria acontecido? Difícil saber. Mas aconteceu. E se você foi íntegro, sincero, se não usou máscaras ou inventou personagens, o erro não foi seu. Perdoe-se! Não se sinta idiota por ter sido enganado. Lembre-se: pior é quem fica se enganando, acreditando nas próprias verdades inventadas. Deus nos livre desse tipo de pessoas.
Então o tempo vai passando, depois essa dor nem fará cócegas. Você seguirá sua vida, entenderá que essa descoberta foi a melhor coisa que te aconteceu. Um mal para livrar de outro.
De tempo ao tempo. A vida se tornará mais leve depois, você verá. Por enquanto, apenas agradeça por ter se livrado e vá cuidar de você, a única pessoa que é responsável pela sua felicidade.


“Pelos dias de cão, muito obrigado , pela frase feita ...Por esculhambar meu coração antiquado e careta. Me trair, me dar inspiração preu ganhar dinheiro...Obrigado
por ter se mandado, ter me acordado pra realidade das pessoas que eu já nem lembrava, pareciam todas ter a tua cara”
Cazuza, Obrigado por ter se mandado.




quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rede (anti) social


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Somos todos lindos, melhores ângulos, melhores roupas. Temos  uma vida social agitada – baladinhas no final de semana, cerveja com os amigos, cinema, teatro, shopping, whaterever, está tudo ali para todo mundo ver. Somos quase sempre felizes. Quando estamos tristes somos extremamente conhecedores dos poetas, das frases, da literatura, ainda que nenhum livro de tal autor tenha sido lido. Porém  ele é o que está na moda, então vamos dar um ar intelectual para a nossa tristeza.
Odiamos BBB e todos os enlatados que a televisão brasileira nos empurra. Mas não sabemos explicar como a audiência se mantém tão alta. Detestamos abandonos de animais, apoiamos as causas do meio-ambiente, nos indignamos com os baixos salários dos professores e com os grandes salários dos senadores, protestamos contra os altos impostos que temos que pagar. Amamos Deus e ai de quem não dizer que ama também, porque se você ama, compartilha. Falamos tanto de amor, de como ele deveria ser, de como ele é lindo. Os namoros são perfeitos.
Nos alimentamos bem, muito bem. Não viu o último prato que comi, quanta coisa boa? Somos mestres-cucas também. Sabem onde vamos, que horas chegamos, quando vamos dormir e quando acordamos. Tem as indiretas, as diretas, as entrelinhas e as que são bastante explícitas. Reclamamos, agradecemos, temos 300, 400, 1000 amigos. Eles nos curtem. Compartilham também. Os papos são intermináveis. Rola até uma paquera (que palavra mais antiga) vez em quando. Somos desinibidos, não tem olho no olho, sabe como é.
Isso é o que tentamos mostrar. Descolados, lindos, preocupados com o mundo, apaixonados. Bom seria se fizéssemos metade disso na vida real. Escondidos por trás da tela do computador (tablet, celular, mp10 etc) todo mundo é corajoso, não?

“Para saber quem somos, basta que se observe o que fazemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz, com todo respeito, é apenas o que você diz.” Martha Medeiros





sexta-feira, 27 de abril de 2012

Doce solidão.


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Tinha saído apenas para tomar um café – era frio, som de violão, solidão. Naquele lugarzinho que achei por acaso porque entrei na rua errada quando fugia de você, quando fugia de alguma coisa morta que tinha me dito que matou alguma coisa viva que ainda sentia. Andando sem prestar atenção, levantei a cabeça assim que  senti o cheiro forte de café, e percebi que testava no caminho errado, que se tornara o certo por acaso. Eu gostei imediatamente daquele lugar porque tinha música, era pequeno e na frente tinha um terreno abandonado que alguém plantou flores. No meio da cidade, um café com vista para flores. Eu achei poético, você teria achado cafona. Eu me achava meio artista, você sempre falou que era muito dramática, e tinha que acordar para a vida. A vida é cruel, você dizia. Eu sei que é, mas não posso tornar essa crueldade um pouco mais doce?
Pensava ainda em você e nas suas palavras sempre duras quando entrei. Mas a  voz que ouvi logo cortou meus pensamentos. Cantava, voz rouca, Foge que eu te encontro que eu já tenho asa, Isso lá é bom, Doce solidão? Doce solidão. Você cantava como se só existisse você e seu violão, olhos fechados, sentimento, lindo. Sentei, logo pedi meu café e o bolo de sempre, mas não consegui sentir o doce do bolo, só o doce da solidão que eu vivia ali naquela mesa, embalada ao som doce do seu violão, que espantava o amargo dos pensamentos que tinham me levado até ali. Fiquei, não sei quantas músicas ou quantos cafés, mas fiquei prestando atenção em você e na sua melodia.
Sua música era linda. Você, na verdade era comum – uns bons anos a mais que eu. Trinta e alguma coisa, talvez. Algum cabelo branco, olhos verdes e cansados. Mas era lindo, tinha algo que o tornava lindo, ainda que. Quando parou de cantar e veio em minha direção quase não parecia real. Assim, sem rodeios ou conversas prontas, apenas pediu licença para sentar, pediu dois cafés e disse que percebeu o quanto eu prestava atenção. Gostou da música? Eu consenti, me sentindo meio besta por não pensar em nada inteligente para dizer. Mas não precisei, com você eu falaria sem me esforçar, sem querer parecer menos dramática ou mais pé no chão. Com você falaria das coisas da alma,  das partidas e chegadas, falaríamos de sentimentos mesmo quando a gente não falasse nada. Você teria ouvidos e o ombro para eu encostar. Eu escutaria você lendo baixo suas letras, te daria minha opinião que seria atentamente considerada. Falaríamos dos livros, artistas, filmes. Você, do nada, deixaria em cima da minha cama aquele livro que eu disse que queria. Eu ficaria na sua cama, esperando você voltar, sem nenhum medo, sem querer parecer que precisava de você, ainda que eu precisasse. E você, sem medo algum, precisaria de mim também, sorrindo leve, abraçando apertado, tudo tão blues.
Naquele momento, eu soube que.
Enquanto a gente se olhava nos olhos, seus cansados, não de meninos querendo conquistar cada vez mais garotas para depois abandoná-las sem motivo algum, mas de homem, querendo dividir sua doce solidão.
Depois daquele dia e de tantos outros que nos encontramos, continuava doce. Só que já não era solidão, éramos nós.

Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar.
Condicional -  Los Hermanos


Obs. Titulo e trecho presente no texto é da música Doce Solidão, de Marcelo Camelo.




quarta-feira, 25 de abril de 2012

Borboleta e o jardim


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E falam os poemas, as músicas e as pessoas: cuide do seu jardim, que a borboleta volta. Se cuida, todos diziam – até ele – que volta. Então fui levantar e cuidar do jardim, mas que tarefa mais difícil! Tem que ter paciência para cuidar do tal jardim. Tem hora que da vontade de arrancar tudo, matar tudo, deixar o jardim só cheio de barro e falar que se ferre o jardim. Mas de uma maneira bem menos educada, se é que me entende. Mas então vamos lá, aos poucos, cuidando do jardim... tirando as folhas secas, algumas tendo que ser arrancadas bem pela raiz. Algumas raízes já tão fundas, fincadas, por mais que a planta esteja morta e sem vida, doem para sair. Vontade de deixar elas ali, mas não, temos que arrancar, recomeçar, replantar, blábláblá.
Escolher as sementes certas... flores menos bonitas, porém mais saudáveis. Algumas sementes não vingam, a gente sabe. Algumas morrem no começo, outras secam no caminho. Aos poucos, algumas flores vão surgindo, resistindo aos temporais, aos dias de sol muito forte, aos ventos que parecem querer levar tudo para longe. Passa o tempo, a gente mal vai percebendo, mas de repente temos um jardim, e olha só, ele está bonito, tem flores, plantas, cheiro bom e frescor. O jardim que a gente nem queria está ali, deu um trabalhão danado, mas agora é seu, parabéns, você conseguiu.
Logo, quem aparece? A tal borboleta. Borboletas sempre voltam e o seu jardim sou eu? Ah faça-me o favor borboleta. No meio do processo estava visitando outros jardins não? Agora que descobriu que o meu novamente é o mais cheiroso, mais bonito, sem mato e ervas daninhas, quer voltar?
Não obrigada.
O que aprendi sendo jardineira é cuidar do jardim. Para atrair novas borboletas, não pragas.