segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um conto. (IV)

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Foi pouco tempo, mas parece que eterno. Ainda hoje, passado tantos anos – eu não mais menina e você bem mais homem, quem sabe – ainda lembro como se tivesse acontecido dias atrás. Lembranças boas  não se perdem, ainda que.
Eu tinha apenas vinte anos. Digo apenas, porque não era madura o suficiente – o mundo para mim era uma grande aventura, eu vivia sempre alegre e não enxergava as possibilidades. Você era tão pé no chão, com seus trinta e tantos anos – quantos mesmo? Não me importava na época. Eu não queria saber, eu era encantada por você, e mais encantada ainda pelo fato de você me escolher, eu tão infantil, com rosto de menina, com uma vida quase de adolescente ainda que com idade de mulher – você podia ter tantas mulheres, tão estudadas e inteligentes como você era, tão pertencentes ao seu mundo de blues, Nietzsche, Hendrix, Godard e tantos outros nomes que na época não me faziam sentido, mas não, você escolheu a mim.
Eu adorava a sua voz rouca, que me dizia tantas coisas sobre o mundo. O mundo, menina, vai muito além do que você tem aqui. Você vai querer conhecer o mundo. As ruas sujas de NY, os metros escuros de Londres, os pubs escondidos de Dublin. Você vai querer pertencer a tudo isso, sair daqui, ir muito além.
Mas eu tenho você, pra me contar essas coisas, dizia eu. E você então sorria, dava mais uma tragada no cigarro e beijava a minha testa.
Quanta paciência teve você e minhas crises de ciúmes – ciúmes daquelas mulheres lindas e bem resolvidas que ficavam ao seu redor, enquanto eu era apenas uma estudante da cidade grande – cidade que eu nem sequer explorava. Quantas vezes você me agüentou chorando por minha insegurança ou foi me buscar bêbada em algum bar. Tão inconseqüente! Mas para ti eu era interessante. Misteriosa, com uma mente que não descobriu ainda seu poder, e com uma sedução tão inocente que não imagina o poder que tem, dizia você. Eu apenas ria, boba, encantada.
Inúmeras vezes falei que te amava, que não iria suportar a dor de viver sem você. Tão dramática, sempre fui. Achava que a vida era um palco. Mas você me dizia que era do mundo, que tinha muita coisa para conhecer. Eu ficava perturbada com a hipótese de não ter mais você, te achava tão meu, ainda que soubesse que mais cedo ou mais tarde você partiria.
E você partiu.
Em um domingo, fazia frio e a cidade estava quieta, vazia. Você saiu da minha casa sem me dizer nada, apenas me deixou um bilhete: tive que partir menina. O mundo é grande. Sua dor vai passar, mas você aprenderá com ela. Aprendi muito mais com você do que você comigo, e mesmo que você não entenda tudo isso agora, mais tarde verá que foi necessário.
Assim, sem uma palavra de carinho, sem um numero de telefone. Sofri por dias, bebi muito, fumei muito, chorei muito. Não conseguia entender essa partida.
Mas o tempo foi passando, amadureci finalmente, e depois de tanto sofrimento, dor, saudades e incompreensão, consegui ficar apenas com tudo aquilo que foi bom.
Agora, mulher, resolvida, com o tempo já fazendo marcas em mim, compreendo tudo. Partiu quando tinha que partir, foi embora para me deixar livre, para me deixar crescer. Conheci o mundo, conheci a mim mesma. Sinto saudades de você, claro, daquela época e tudo mais. Mas sei que teria sido muito diferente, que eu não teria chegado onde estou se você não tivesse partido.
Ah, mas lembranças boas não se perdem, ainda que.


Ps. Fragmentos reunidos na página do blog. Curte?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Selvagem e livre.

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Sonhava com você todas as noites. Ora eram sonhos bons, onde eu amava você, você me amava, e não existiam mentiras nem dor. Ficavamos horas abraçados, rindo o tempo todo. Era tão bom. Mas, na maioria dos sonhos, você repetia sem parar coisas duras, coisas que machucavam, horríveis. Vinham como uma sensação de perda, com a falta de amor, com cenas ruins. Acordava num susto, alivada por não ser real, mas sabendo que de alguma forma, não deixava de ser verdade.  Foi preciso coragem para atravessar esses dias. Dias longos, onde raiva e amor se misturavam, onde reinava a tristeza da perda com a dúvida de por que não deu certo. Até respirar parecia uma coisa pesada, um mártir. Parecia que esses dias longos nunca passariam, a sua ausência se fazia pesada, presente em tudo e em todos que cruzavam meu caminho. Achava que precisava de você, que não conseguiria, que nunca iria passar. Dias cinzas, muito cigarro, cazuza e solidão.


Mas, eles foram passando. De repente, já não sonhava tanto com você. Sentia sua falta, mas foi ficando claro que não era falta de você, era falta daquilo que eu achava que tinha sido verdadeiro. Chorei muito por essa perda, lógico, mas ela já doia com bem menos frequencia. Fui aceitando, vendo que o fim de tudo isso seria mesmo melhor. O que a gente tinha já tinha se perdido a muito tempo, e na tentativa de tentar recuperar algo disso, quem estava se perdendo era eu. Eu estava deixando de ser eu mesma, para ser alguém que você pudesse aceitar.


Depois que passaram-se alguns dias, pude perceber que não já não te amava. Amei o que você representou pra mim um dia - mas aquela pessoa que estava ali já não era mais você. Ou talvez fosse um você que eu nunca quis enxergar, quem pode saber? O que era claro é que não servia mais. Então, aos poucos fui conseguindo respirar novamente, aceitar tudo isso, e o mais importante: me encontrar. Me perdi no meio desse caminho entre amor e desamor, mas era muito bom voltar a ser quem eu era. Selvagem e livre. Livre para ser sem medo, para sentir sem culpa, para viver sem aquela sensação de peso. Selvagem, indomada, pés descalços na terra. Sempre fui assim, e porque deixei de ser? Para tentar me enquadrar ao que você achava bom.


Tive por muito tempo pena de mim por ter te perdido. Ficava martelando na minha cabeça quais teriam sido o motivo, por que não dera certo, ficava imaginando se tivesse tomado outras atitudes, se teria sido diferente. Mas na verdade percebi que não deveria ter pena de mim, talvez de você, que não soube enxergar aquilo que eu era, que queria me aprisionar em conceitos, me apagar, me fazer aceitar coisas que não me deixavam feliz apenas para te fazer feliz.  Mas e com a minha felicidade, quem se preocupava?


Então, voltei para mim. Selvagem e livre. Bom poder sentir o ar leve novamente. Bom poder ir, sem medo de voltar, sem medo de machucar ninguém nem de me machucar. Com isso tudo aprendi que não posso perder minha essência. E que a minha felicidade é a felicidade daquele que me ama. Me ama assim, selvagem e livre.

“Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então”

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mais gentileza, por favor.

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O tempo na cidade em que moro (Palhoça city, oi) anda meio bipolar. Temos todas as estações do ano em uma única tarde, por exemplo, e isso é um tanto quanto perturbador. Ontem, saí de casa a caminho do estágio e estava sol, mas quando parei para comprar um café (lógico) no caminho, começou a chover como se o mundo fosse acabar. Faltavam 15 minutos para começar meu estágio e eu estava ali presa no posto, na metade do caminho, com uma chuva digna de filmes de Hollywood. Não tinha o que fazer então, a não ser esperar, coisa que eu detesto.


Eu poderia ficar ali no posto reclamando, morrendo de tédio e de raiva, mas graças aos funcionários que estavam lá isso não aconteceu. Fiz amizade com todos os frentistas (que me deram até um guarda-chuva muito estiloso de presente), sem falar que a moça do caixa, que também se chama Cris, era muito engraçada. Que coisa, eu passo naquele posto todo dia, ás vezes mais de uma vez por dia, mas nunca reparado nessas pessoas tão legais. Por que será que temos essa mania de muitas vezes fazer as coisas no piloto automático? 


Falta gentileza para todo mundo. Não, dizer um obrigado mecânico quando recebe o troco não é ser gentil. É ser educado, que ótimo, mas gentileza vai além disso. É sorrir, de verdade, dizer um bom dia autentico, puxar um papo na fila. Se estamos todos esperando a chuvar passar, por que não tornar esse acontecimento chato em algo mais agradável não? Aliás, por que não tornar a maioria dos acontecimentos chatos e cotidianos mais agradáveis? Depende só da gente deixar o ar mais leve, os dias mais suaves e o tédio menos tedioso. Incrível como pequenas atitudes mudam muitas coisas. 


Fiquei quarenta minutos no posto. Teria ficado muito mais, se não fosse a gentileza de uma moça de me dar carona para o trabalho. Ela perguntou se eu estava indo para lá, e ela também estava, e me deixou na porta do meu estágio. Obrigada moça, por ser tão gentil e me mostrar que o mundo não está tão perdido não, e que ainda existem pessoas que são gentis umas com as outras sem esperar nada em troca. 


Gentileza. Muitas vezes não custa nada, mas vale muito. Seria muito bom se mais gente praticasse. Fica a dica ;)




ps. Seja gentil, curta a página do blog hehe

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Simples assim.

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Sua voz rouca me dizendo besteiras no meu ouvido durante uma tarde de domingo: simples assim. Com você, tudo é tão simples, eu posso ser eu mesma que você não tem máscaras, me aceita com todos os defeitos, e eu aceito assim quem você é, mesmo não sendo tudo que idealizei, tudo que sonhei - não você é melhor, porque você é real.

Você me deixa livre, livre para ser quem eu sou, sem medo. Medo, tanto medo de machucar de novo, de ferir de novo esse coração que mal cicatrizou ainda, mas você diz que tudo bem, tudo bem, então me abraça e tudo fica mesmo bem. Porque com você, é simples assim. Sem história, sem passado – sem futuro também? Quem se importa. Afinal, o aqui e agora é o que vale, com você.

Assim, consigo atravessar meus dias, tudo fica mais leve de repente. Não é amor, não é paixão, é apenas uma coisa leve, simples e gostosa, como minha cabeça encostada no seu peito em um dia qualquer da semana. Como nossas conversas ao telefone. Leve e essencial. Não amo você, você não me ama: por isso tudo fica tão bom.

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Obrigado.


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Então tem aquelas pessoas que nem desconfiam do bem tão grande que nos fazem. Que com gestos simples ou poucas palavras, nos ajudam a se manter em pé, a passar pelos nossos dias mais difíceis. Também tem aquelas que se fazem presente mesmo na ausência, mas que nunca deixam de estar do nosso lado, afinal estar junto não significa (mesmo) só estar perto. Há também aquelas que realmente estão do nosso lado, oferecendo seu ombro quando precisamos chorar ou o abraço mais sincero, que acalma e diz tud.. Para pessoas, com gestos simples ou grandiosos,  que de alguma maneira nos empurram pra frente sem nem mesmo se dar conta- afinal fazem sem esperar nada de volta, a não ser nosso sorriso – um muito obrigado. Obrigado por fazerem parte da minha história. Obrigado por serem minhas molas de dentro do buraco ou a luz a iluminar os momentos de escuridão. Obrigado por me ouvirem, mesmo quando tudo que eu falo é o silêncio. Por compreenderem a dor, mas não deixar insistir nela. Por mostrar que o tempo não cura, mas que aos poucos vai amenizando tudo. Obrigado por deixarem meus dias mais leves.
Que eu possa ser a leveza, o ombro e a palavra de vocês também.

"Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica." 


Obs.  Fragmentos dos textos, na página do blog. Curte?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Crying.


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Não vou dizer que não chorei. Você sabe, eu sempre choro. Mas tenho certeza que tu chorou também. Alguma lágrima escorreu nesse rosto impassível. Dói não dói? Quando estamos de bobeira nesse dia frio e de repente elas vem, as lembranças. Então a lágrima escorre quieta, teimosa. Somos teimosos, teimamos até chegar a esse ponto. Como chegamos até aqui? Você me disse que nunca iria doer, eu te disse que nunca iria embora. Você pegava na minha mão, eu te abraçava e em silêncio diziamos tudo. Agora em silêncio, calamos tudo, tudo o que fomos.
Por isso, sim eu chorei. Pelo Adeus. Minha despedida secreta. Mas agora coloco tudo numa caixa – as lágrimas, sorrisos, lembranças, dores, frustrações junto com aquelas fotos, bilhetes, papéis e tudo mais – coloco tudo numa caixa. Jogo a chave em algum lugar, em um lugar qualquer, em lugar nenhum – não quero mais saber.
Eu chorei, mas não vou mais chorar. Seco as lágrimas, dou um suspiro longo: um ciclo que se fecha, uma cicatriz ainda recente, ainda queimando, porém, uma cricatriz.

As nuvens tinham escurecido completamente. Agora, pensou apertando a mão, agora vem uma ventania, um trovão, um raio,depois começa a chover.
(Caio F. Abreu)

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Você, minha literatura.

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(fragmento de muitas páginas sobre você)



Eu te dei tanto amor um dia. Você teve o melhor de mim, o mais puro de mim, por isso queria que entendesse essa revolta, essa loucura, essa dor que parece sem fim. É difícil seguir em frente quando temos algo dentro do peito que grita, grita, grita e ao mesmo tempo dói tanto. 
Ruim é quando vem os momentos de lucidez, aqueles momentos que parece que tudo pode ser como era antes. Da vontade de voltar a ser aconchego na madrugada,  carinhos durante a tarde, paixão, desejo, teu olhar sobre o meu sem dizer nada dizendo tudo, sua mão encontrando a minha no escuro do cinema, seu beijo calando todos meus medos, seu abraço sendo meu porto mais seguro de todos. Da vontade de esquecer tudo que foi ruim, da vontade de fingir que nada aconteceu e voltar a dar risada das coisas tolas, como se deve ser. Porque será que deixamos chegar a esse ponto? Esse ponto que é o ponto final, que não pode voltar, que não pode ir, apenas deixar tudo como está. Tentamos, tentamos, mas será que tentamos o suficiente? Você foi o primeiro a desistir. Creio que depois irá sentir muito mais que eu sinto agora, quando perceber, quando a poeira baixar  e então não existir mais orgulho e feridas nisso tudo. Se ama volta, você me disse. 
Não. Se ama, não se deixa partir.






ps. Se você é legal, curte a página do blog? :)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Receita.

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Então, é o amor  que nos leva a repetir, suportar, engolir, agüentar? É por causa do amor que ainda fica que muitas vezes fechamos os olhos, fingimos que não vemos, calamos, choramos escondida para fingir depois que ta tudo bem? É por culpa do amor que pensamos o tempo todo em ir embora, bem longe, recomeçar, conhecer outras pessoas, esquecer, mas permanecemos no mesmo lugar?

Difícil dizer. Há que diga que amor é suficiente. Mas eu preferido dizer que amor é o ingrediente principal: sem ele a coisa desanda, fica sem gosto, sem graça, fica pequena, acaba. Mas amor sozinho não segura a onda não, é preciso que venha acompanhado de cumplicidade, carinho, confiança – muita confiança, e respeito. Duro é quando cada coisinha dessas vai acabando, sumindo, ficando pelo caminho e quando vemos sobrou apenas amor. E não sabemos o que fazer com ele.

Só amor não rende. Só amor não agüenta. Parece inacreditável não é? Eu também não acreditava. Filmes da sessão da tarde me faziam acreditar que amor resiste a tudo, que se você tem amor você pode tudo, tudo da certo. Mas não é assim. É triste dizer, mas ás vezes temos  muito amor, muito mesmo, mas as outras coisas estão tão machucadas que amor – que serve para dar todo o suporte e gosto doce para essa receita – deixa tudo mais difícil, amargo até.

Então, vem a parte difícil. Ou ficamos ali, tentando fragmentar o amor em mil pedaços e fazer tudo para que a receita se faça somente dele ( o que geralmente da errado), ou buscamos resgatar aos pouquinhos os elementos. Ou ainda, colocamos esse amor num vidrinho, fechamos e deixamos ele ali, a espera de ingredientes novos, para quem sabe assim começar uma nova receita.




ps. se você é lindo, curta a página do coffeeismyboyfriend  :)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um conto. (III)



Quando você disse “se cuida morena” senti um frio na barriga. Devo ter dado um sorriso bobo ao responder  “cuide-se você também, moreno”. Na verdade, nunca gostei que me chamassem de morena (preferia que me chamasse de minha pequena na verdade), mas saindo da sua boca soou muito diferente. Você, na verdade, era muito diferente. Diferente daquilo que eu gostava., se é que você me entende. Sim, pegaram muito no meu pé quando falei que você me chamou a atenção, sabia?  Porque você era ogro, meio grosso. Tinha traços fortes, diferentes. Mas, não sei como explicar, não via isso em você, eu enxergava alguém doce por trás dessa aparência toda brusca. Tati Bernardi me ajudou a definir você com a palavra que ela inventou em um conto, Ogrodoce.

Você disse para eu me cuidar, e foi embora, voltou para a sua cidade. Disse: a gente se encontra, morena. Eu quero, quero me encontrar com você. Quero ser a sua morena, quero enxergar de novo esse seu sorriso tão delicado que contrasta com esses seus braços fortes e aparência dura. Você, ogrodoce, ficou no meu pensamento. E eu sei lá porque você me chamou a atenção, deve ser porque cansei de ficar procurando a perfeição que todos exigem. Você estava ali, sendo você, rude, forte, diferente. Por que não, não é? Porque a gente não tenta aceitar bem o que está do nosso lado, ao invés de ficar procurando algo que não nos pertence?

Ogrodoce, eu quero você. E não, não quero te mudar, não quero que você deixe de ser ogro apenas para ser doce. Sei que você é muito, muito doce, amável, e que essa sua aparência, seu jeito faz parte da sua personalidade. Moreno, cuide-se você também, e quando for a hora, quero me perder novamente nessa tua doçura um tanto amarga, totalmente inesquecível. Doce demais enjoa, você tem na medida certa, que bom sentir outros gostos, que bom provar você, ogrodoce.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Loucura!

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Sempre desconfiei que não era muito sã, mas até que veio o amor e me comprovou isso. Amor e loucura caminham um ao lado do outro, você não acha? Afinal, tem coisa mais louca do que ficar horas ao telefone com uma pessoa e depois de desligar, sentir imediatamente uma saudade enorme dela? Ou então sentir um frio na barriga só de pensar naquela pessoa sorrindo? Que coisa mais louca essa de precisar de tal pessoa para existir – a gente sabe que não precisa, mas em certos momentos aquela frase “sem você não vivo” parece tão real. Quanta loucura!

Amor me deixa insana ás vezes. Me da vontade de gritar, me faz chorar feito uma criança, aliás, me faz agir como uma criança. Me faz  ter medo, me faz brigar por coisas tão absurdas, mas faz sentir ciúmes de coisas tão triviais. Meu Deus, como sou maluca! Somos loucos porque amamos ou amamos porque somos loucos?

Amor, esse sentimento bipolar. Um dia é só felicidade, sorrisos e abraços, no outro, choro, ciúmes e nunca-mais-quero-te-ver. Sofremos por amor, somos felizes por amor, vivemos procurando um amor, e ás vezes quando encontramos, deixamos ele ir sem mais nem menos, para depois continuar nessa insana busca.

Insana? Muito. Sou louca mesmo, louca de amor. Mas, como li um dia em algum lugar, “que minha loucura seja perdoada, pois metade de mim é amor, e a outra metade também”.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Joga fora no lixo!

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Aquilo tudo que não presta. Que prestou um dia só que daí já não serve mais, joga fora no lixo. Não guarde, não acumule, não repasse, não recicle: joga fora. Não da pra se aproveitar tudo, e até aposto que você já tentou faz mil reciclagens que não deram certo. Então: joga fora no lixo.


Chega de ocupar a mente e o coração com o que já passou. Varre tudo aí (mas não para debaixo do tapete, espertinha), varre tudo, pega a pá, coloca num saco, amarra bem e joga fora no lixo. Sem dó, já não teve dó demais? Já não tentou limpar, consertar, aceitar essa coisarada toda? Pois bem, uma hora não tem mais como, então, joga fora no lixo tudo que te faz mal, abre espaço para aquilo que quer te fazer bem. Melhor um coração limpo, saudável e espaçoso do que um ocupado com tranqueiras que não servem mais pra nada.


“A paz que eu quero ter
Tão longe de você
Eu sei que vai ser duro
Mas tenho que esquecer...
Vou jogar fora no lixo”
(Sandra de Sá)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

É preciso amar.

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Adoro falar de amor. Falar sobre amor, desamor, sobre suas feridas incuráveis e felicidades eternas enquanto duram. Mas falar de amor tem se tornado algo tão antigo. Parece que as pessoas tem vergonha de falar de amor. Mais que isso até – parece que tem vergonha de sentir amor, de cuidar do amor, de deixar o amor fazer seu papel. Amor tem se tornado algo clichê, brega, ultrapassado. Eu te amo é dito como bom dia, apego tem feito o papel do amor, as pessoas usam uma as outras, machucam, pisam. A troco de que tudo isso? Para dizer que são modernos, que podem ser felizes sozinhos, que não precisam amar?

Eu preciso de amor. Você também, e sabe disso. Qual a vergonha de admitir isso? Veja bem: não estou dizendo que sem amor eu não vivo. Que preciso estar em um relacionamento para me sentir feliz – longe de mim! Apenas preciso de amor, seja ele em qual forma vier. Amor pelos meus amigos, pelos meus familiares, amor por mim (esse deve ser um dos maiores amores, aliás). E não tenho vergonha de admitir que sou feliz porque amo. E que amo de verdade.

Respiro amor, mas não jogo ele no vento. Amo o amor livre, e não o apego. Amo sentir o amor, sem precisa dizer. Amor incondicional, aquele que a gente não espera nada em troca. Aliás, não se deve exigir amor de ninguém, amor acontece. Sou brega por falar de amor em pleno século XXI? Tudo bem, não me importo. Prefiro ser brega e falar o que eu sinto. Bom seria se as pessoas resolvessem ser mais bregas também, e não querer provar algo a si mesma o tempo todo. Apenas deixem as coisas acontecer um pouco, tirem essas máscaras e vivam de vez em quando. Vamos sentir, não há coisa melhor.



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mulheres de plástico.

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Botox congelando os rostos. Meninas - sim, eu disse meninas, de 16, 17 anos - colocando silicone. Cada vez mais e mais mulheres começando dietas malucas na segunda-feira e se frustrando por não conseguirem chegar até o final. Vaidade, o grande mal do século. Por que tanto medo de envelhecer? Por que a vontade de ficar gostosa - pois veja bem, saudável a grande maioria já é - cada vez mais cedo? O que é esse culto ao corpo tão grande, essa compulsão por cada vez mais querer se parecer com mulheres de plástico?


Sou vaidosa, claro que sim. Não vejo nenhum mal em me cuidar, ué. Tenho meus pneus que me encomodam, uma celulite aqui e ali, e muitos complexos também. Ora, sou mulher afinal, gosto de me sentir bonita, de me arrumar, ás vezes deixo um bom dinheiro no salão e tenho mais sapatos do que preciso (mentira, tenho nada). Porém, sou verdadeira. Claro que com certa idade me preocuparei com as rugas que vão aparecer, faço dietas, quero estar magra no verão e um dia quem sabe, colocarei silicone. Mas não, não morrerei se não fizer isso, e muito menos farei para agradar os outros, tampouco para me enquadrar nos padrões tão alucinantes de beleza hoje. Ás vezes fico olhando o comportamento de muitas mulheres e adolescentes, e percebo cada vez mais que elas parecem fabricadas em série. As mesmas roupas, atitudes, maquiagens, corpos. A mesma luta para se manter assim.


Bonecas de plástico não vivem, gente! São perfeitas, mas desculpe, eu prefiro ser real. Prefiro ter uma celulite aqui e acolá, e comer (sem tanta culpa) uma boa pizza no fim de semana. Prefiro devorar um chocolate e uma boa coca-cola sem pensar em quantas horas vou ter que passar na esteira, jump, ou seja lá qual exercício, para perder essas calorias.
Veja bem, sou vaidosa. Mas sou por mim, pelo meu bem-estar. Não me encomodarei se um dia eu sorrir e algumas ruguinhas aparecerem ao redor da minha boca - bem melhor que ter aquela expressão congelada de quem não sente nada. Frigidez comprada em laboratório? Obrigada, dispenso. E sei que tem muitas que dispensam também, que bom.


Viva a beleza! Mas não a de plástico. Viva o corpo perfeito de panicat que todas desejamos ter, mas um Viva ainda maior para o corpo que nós temos, cuidamos, aceitamos sem fazer (quase) nenhuma loucura por aí. Um beijo para a vaidade do jeito certo, porque ficar bonita é muito bom, mas o melhor ainda é ficarmos felizes pelo que a gente é.

"Sorrisos plásticos cumprindo seu papel
Enfeitando um rosto de pedra!
Se a regra é ser tão simpático
Mesmo que seja só pra convencer toda platéia"
(Pitty - I wanna be)


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obs. estou off até segunda. Quem quiser ajudar e curtir a página do blog no face, eu agradeço!
Quando voltar, respondo todos. Obrigada!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Contramão

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Sempre acreditei, sempre fiquei. Sofri, um tanto. Sofrimento é mais que necessário, quando se deseja forças para seguir em frente. Mas não pede pra voltar, não quando for tarde demais. Não volto. Não para passar por tudo de novo depois. É preferível não ter. Não tenho, nunca tive talvez, melhor apagar, tchau, vou, fui. Não pega na minha mão, não, não agora. Confunde, tortura, dói. Não pega na minha mão, não diz pra eu ficar, não me faz andar na contra-mão, é perigoso demais. É triste demais, eu sei, sabemos, mas foi assim, não deu pra ser, você não sabia, não foi o que disse? Como agora sabe, sabe o que? Sabe nada. Eu tinha ficado, eu agüentaria tudo, eu tinha coragem, eu tinha amor. Ah, você também? Eu tinha mais. Não, você não tinha, eu tinha mais. Eu tive. Não me diz que ainda tem, se tivesse não estaria aqui agora, me falando. Teria mostrado. Eu sei, eu sei que você tinha medo, quem não tem? Ainda tenho, mas não posso fazer mais nada, fiz tudo que estava ao meu alcance, uma hora não consigo alcançar mais. Você não acreditou, poisé.

(mas eu não estou mais aqui, nem aí,embora a vontade seja grande)

Tentou frear
Faltou coragem
Agora é tarde pra voltar
Tentou mentir
É bobagem
É só uma fase vai passar
(moptop - contramão)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ironias do amor.

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Tudo vai acontecendo aos poucos, como deve ser. Do mesmo jeito que fui aprendendo a te amar aos poucos, aprender a não te amar acontece lentamente também. A gente sempre acha que pode arrancar o amor assim, de uma vez só, quanta tolice. Afinal, ele foi plantado ali aos poucos, não foi? Ninguém acorda um dia sem nenhum amor e de repente liga um botão e diz: estou amando. Da mesma forma, não tem como apertar o botão e ‘desligar’ o amor, como se ele nunca tivesse existido. Ah, a gente pode até disfarçar, dizer que não ama, colocar o sorriso no rosto e para os outros fingir que não temos mais amor, ta tudo bem. Mas sabemos, e como sabemos, que é difícil, que é lento, que demora essa coisa toda de desamor.

Chega até ser engraçada, essas ironias do amor. Quem disse que eu queria me apaixonar? Mas amor é assim, quando a gente menos espera, ele acontece. E de repente ele não serve mais, não como deveria, mas insiste em ficar ali atormentando. Resiste em ir embora, mesmo quando tentamos expulsar – Amor, por que você dói tanto? Se quer ficar aí, que fique então, mas faça as coisas do jeito certo. Se não da mais, então porque não vai? Amor, você só pode estar de brincadeira. Não é mais o mesmo, mas custa ir embora, não deixa um novo entrar, mas também não quer sair. Que coisa, heim, amor?

Mas a gente vai aprendendo. Leva tempo (tempo, outra coisa irônica né?), mas aos poucos a gente vai conseguindo. ‘Desamar’ é bem difícil, dói e tudo mais. Mas depois, a gente agradece, a gente aprende. Ou não, ou a gente comete os mesmos erros, a gente ama demais, depois quer desamar e depois ama de novo. Porque o amor adora se fazer presente mesmo na ausência, adora bagunçar a nossa vida. E quer saber? Eu adoro mesmo uma bagunça. Coração organizado demais, é mesmo um tédio.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Polaroid.

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Lembro-me  de alguns dias acordar com você silenciosamente registrando aquele momento. Achava estranho, no começo, algo como uma invasão, não sei. Mas com os anos passei a perceber que fazia parte de você, da sua arte, de dentro de ti. Eram várias, nossas, minhas, tuas, de lugares, objetos aparentemente sem graça, mas que para nós contavam uma história. Você colocava a maioria delas na parede da sua sala – sua sala decorada de um jeito tão seu, acho que era meu lugar preferido de toda sua casa. E ali tinham algumas de lugares do mundo, de pessoas estranhas, de coisas que nunca vi. Eu passava horas e horas olhando. Você sabia me contar o momento de todas elas, com um brilho nos olhos. Sempre guardarei isso.

Mas você gostava de tirá-las de mim. Enquanto eu despertava. No nosso café da manhã. Durante a praia. Sorrindo, chorando. Momentos que só você sabia captar. Elas pareciam pintura – não sei dizer, mas não pareciam apenas fotos. Era amor, você dizia. Era a forma como você me via. Eu te via de muitas formas também, mas não precisava registrá-las, pois algo que é bom, fica na memória. Mas você rebatia que a memória confunde, apaga, mistura. E as fotos não. Que meu sorriso seria sempre claro e sereno, não importa  quando você olhasse. Que não queria perder a sensação de me ver despertando. Que precisava registrar.

Claro que um dia você foi embora. Me deixou uma foto, com algumas palavras escritas. Sou do mundo baby. Existem coisas que preciso conhecer. Eu te amo, mas não posso ficar. A gente se encontra.
Quase rasguei as fotos, todas elas. Mas depois apenas aceitei o que não poderia ser modificado. Você era um pássaro, precisava voar. Eu, sua gaiola, não poderia te aprisionar por muito tempo. Olhei as fotos, uma por uma. Sei que voltaria, no tempo certo.

“Fiz aquele anúncio e ninguém viu
Pus em quase todo lugar
a foto mais bonita que eu fiz,
você olhando pra mim

Alto aqui do sétimo andar
longe, eu via você
e a luz desperdiçada de manhã
num copo de café”

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Entre tantos, tão poucos.

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Não sei quantos bilhões de pessoas existem no mundo agora – mais que 7 bilhões a essa altura com certeza, mas acho engraçada a idéia de passar por várias todos os dias sem nem prestar atenção, sem nem desconfiar dos problemas, dores-de-cotovelo e angústias que elas carregam por debaixo da cara de pressa. Mais engraçado ainda é que no meio de tantas pessoas estranhas e que cruzam nossa vida, uma hora ou outra alguma nos desperta. Pode ser aquela pessoa que sempre esteve ao seu lado, mas de um dia para o outro, como mágica: Puf! Ela já não é mais uma do mundo. Ela faz parte do seu, agora. Ela divide histórias com você. Ela te conta como gostava de caçar tatu-bola e comer jabuticabas do sítio do avô, no interior. Você sorri por estar sendo espectador de uma coisa íntima, e conta também de como  morria de medo quando chovia com raios e relâmpagos.Entre risadas compartilhadas, confessa que ainda tem medo. Então seguram nas mãos, um dos outros, se olham por instantes, momentos mágicos que ficam na memória anos depois.

Curioso isso, um monte de gente esbarra em você, te conta alguma coisa. Mas nenhuma provoca aquele arrepio como o toque daquela em especial. Nada parece mais interessante que ouvir sobre tatus-bolas em cima da cama desarrumada no domingo. Um monte de pessoas lindas, saradas, diferentes por aí. Mas você prefere aquele, que não é um padrão de beleza, mas que de algum jeito, conseguiu te prender. Logo você amigo, que se dizia livre pelo mundo, misturado as outras tantas pessoas com cara de pressa. Agora, sorri a toa antes de dormir. Tem vontade de ligar na madrugada só pra ouvir a voz de sono do outro lado da linha falando alô. Ou então, só para ouvir o silencio, a respiração. Quanta loucura nessas coisas.

Como é boa a sensação de saber que no meio de bilhões de pessoas no planeta,  há alguém sentado em alguma mesa de escritório que está pensando em você. Não passar despercebido. Contar e ouvir as pequenas coisas. Fazer as coisas clichês, que todo mundo gosta  e ninguém admite. Pensar com carinho no tempo bom, naquela viagem ou na música cantada de maneira tão desafinada. Não sentir vergonha de ser o que é: tentamos ser tantas coisas todos os dias, que esquecemos como é bom ser livre, verdadeiro e amado exatamente por isso. Por todos os defeitos, histerias e medos, não só pelas coisas boas. Bilhões de pessoas no planeta, e é em você que penso com tanto carinho. Que bom que tenho você, perto ou longe, tanto faz, mas que bom que você é aquela pessoa que no meio de tantas, me faz sentir única.




(texto escrito faz um tempinho, não sei se me cabe mais.)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Você foi a melhor coisa que não me aconteceu.

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 Agora estou aqui, conhecendo um novo mundo. No começo, senti por demais a sua falta, e não tinha para onde correr. Mal e mal entendiam o que eu falava, e eu não sabia ainda expressar sentimentos tão fortes em outro idioma. Pensava em você toda hora, via você em todas as pessoas que eu encontrava, algumas nem sequer pareciam contigo fisicamente, mas algo sempre me fazia lembrar – fosse a camisa amassada, o cabelo liso e displicente, a maneira brusca de caminhar, o sorriso torto. Ou era só coisa da minha cabeça, talvez.

Mas as primeiras semanas foram passando, e a cada coisa nova que eu descobria, ia aprendendo mais e mais que fiz a melhor escolha. Escolhi ir embora para ser livre, para te deixar livre também. Você disse que não, que era para eu ficar, que a escolha foi minha, mas agora te digo: ir para longe fisicamente foi escolha minha, mas estávamos longe, muito longe há muito tempo, por escolhas nossas.

Já te culpei muito, por tudo. Hoje não te culpo mais. Aliás, estou te escrevendo, depois de um longo ano, para dizer para você que você foi a melhor coisa que não me aconteceu. É isso mesmo. Não ter tido você, seguido os planos me abriu novos caminhos. Me levou para o mundo, o que me fez encontrar o meu mundo também. Tinha muito de mim que eu não conhecia. Se tivéssemos continuado, só nos machucaríamos mais e mais. Na época, não entendia, não aceitava, mas agora que tudo passou, guardo com carinho o que foi bom. Ter você na minha vida foi essencial, mas foi preciso não ter para poder entender tudo isso, viver tudo isso.

Você foi a melhor coisa que não me aconteceu. Espero ter sido a melhor coisa que não te aconteceu também, e que com isso você igualmente tenha se libertado, descoberto, vivido – esteja vivendo. Penso em ti, com muito carinho.




"E, antes de aprender a ser livre, tudo eu aguentava, só para não ser livre" - C. Lispector




Obs. li uma crônica da linda da Martha Medeiros e esse conto se criou haha



sábado, 29 de outubro de 2011

Palco.

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O que posso dizer é que tudo que fiz, disse e senti foi verdadeiro. Não foi o suficiente? Talvez não. Mas nunca precisei vestir máscaras ou encarar personagens: no meu palco pude ter sido dramática demais, desordeira demais, me entregado demais, falado demais, mas sempre fui eu. Não representei papéis, muito embora tenha vivido algumas cenas, improvisado muito. Foi preciso, não foi? Mas, como toda boa paixão, há de ter um final trágico. Algo como ir embora e nunca mais, nunca mais. Mas, já não importa, porque se não é pra ser verdadeiro, é melhor não ser. Viver com alguém que se limita apenas a representar o melhor papel não é viver, é morrer um pouquinho por dia. Logo, então, melhor descer do palco: aplausos e aplausos para isso que foi. Não quero reprise, não mais. Vou ali encontrar a vida real, e continuar assistindo a suas ilusões. Fechem as cortinas!


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Luto

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Finais felizes não existem. Até porque se acabou, é porque já não havia mais felicidade ali no meio. Ou até havia, mas a raiva, mágoa, as brigas eram coisas bem maiores. Então não tem como um final ter sido feliz – finais são doloridos, machucam, corroem. Acabar uma história é como lidar com um luto: ali morre o amor e todas as outras coisas que vieram com ele. E dói, dói bastante, uma das maiores dores do mundo. Quem já enterrou um sentimento sabe bem como é.
E vivemos com o luto, sabendo que a outra pessoa está viva. Se ela enfrenta isso também? Não queremos saber. Mas queremos que seja dolorido pra ela assim como dói pra gente, é bem verdade. Esse papinho de quero que você seja feliz? Coisa mais irônica do mundo.
Mas passa, passa. Assim como ele morre, assim como enterramos o sentimento lá no fundo e vamos vivendo cheio de sorrisos no rosto para disfarçar, ele volta. Ah o amor é uma Fênix, renasce das cinzas. Com força, belo, fugaz. Nem sempre para os mesmos espectadores – afinal a vida segue. E o que nos empurra pra frente em meio a esses finais todos, é a certeza que mais além, quando estivemos prontos, vai haver um recomeço – independente da onde, com quem  e quando ele aconteça.


"Tudo isso dói. Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois." Caio F. Abreu

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Kiss.

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Eu queria te dar um beijo. Você falava e falava e falava sem parar sobre as injustiças do mundo, o capitalismo, a novela das nove que era sempre a mesma coisa e a chatice do Faustão. Eu queria te dar um beijo. Você contava uma piada que só você achava engraçada – e era mesmo, na verdade – e sorria um sorriso bem aberto e desajeitado, como eu queria te dar um beijo. Eu fingia que prestava atenção e concordava em quase tudo, você é meio chatinho sabe? E essa camisa nem combina com o sapato. Poderia ter um humor melhor. Nem ao menos bonito você era! Magrelo demais. Normal demais. Mas encostava em mim e eu só pensava em te dar um beijo, ali na frente de tudo mundo. Ah, se você soubesse o quanto e quanto mexia dentro de mim. Uma coisa é certa, amor não era. Nem paixão, nem nada disso. Desejo,pele, não sei, mas eu te olhava e queria te dar um beijo. Com gosto do café que a gente tomava a tarde. Detesto beijo com gosto de halls, de tridente, de colgate. Beijo tem que ter gosto de beijo. O gosto da pessoa, o gosto bom. Aposto que você é daqueles que pega na nuca enquanto beija. Que olha nos olhos depois. Você sempre olha nos olhos enquanto fala, sempre eu que desvio, você me deixa sem graça. Você me irrita, na maioria das vezes, não parando de falar, e isso aumenta minha vontade de te dar um beijo. Você beija minha bochecha bem devagar e sorri, quando vai embora, e me deixa com mais vontade ainda. Um beijo proibido. Você também quer me dar um beijo, logo sei, você sente também, já percebi. Perigoso, perigoso. Melhor ficar na imaginação. E se não for tudo aquilo? E se for? Melhor não. Já estou bagunçada demais.
(Mas eu ainda quero)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um conto. (II)

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Lembro quando te encontrei pela primeira vez. Você estava lá, sentado do outro lado da mesa do bar. Quase não falava comigo, quanta arrogância, pensei. Mas talvez fosse apenas porque eu estava acompanhada, acompanhada por um amor que já não era mais o mesmo há tempos, só que era difícil de abandonar. Então, como num golpe engraçado do destino, ele me levou no bar, no bar que estava você, você e suas tatuagens, sua cara de desleixado que contrastava com minha aparencia de menininha fágil - ali estava você, o que faltava para me libertar.


Vi que no meio da noite você tinha me notado. Nossos olhares se cruzaram e eu senti um frio na barriga, que só não era maior que meu peso na consciência - Porque, Deus, porque outra pessoa segurava a minha mão em um gesto tão frio, enquanto você me emprestava um olhar tão quente, ainda que não percebesse?


Quis ir embora, mas ao mesmo tempo queria ficar, só pra fingir mais um pouquinho que você era meu. Fingir que a gente tinha uma história, sabe? Coitado de você, tão inocente ali do outro lado da mesa do bar, mal sabia o efeito que surtia em mim. Ou talvez soubesse, quem sabe, e me olhava como provocação. Sorria entre uma cerveja e outra, me espiando entre minhas caipirinhas sem-graça, não, eu não era pra ti. Eu nem se quer tinha coragem de me desfazer de um amor, quem dera me aprofundar em um outro tão, mas tão diferente? Você era aquilo que eu sempre quis, sabia eu, mas com a mesma força que desejavam eu repelia. Não, não era um padrão de beleza aceitável. Mas “amor” o que eu tinha era, eu mesma era desse padrão, mania de ser aceita pela sociedade, ser destacada, passar a imagem de casal feliz - tudo vazio, fingimento, frígido.


Não tirei aquela noite da cabeça, e posso dizer que muita coisa mudou desde então. Me libertei. Pintei os cabelos, sou morena agora. Tomo cerveja, não vivo mais de saltos, muito menos de esteriótipos. Fui naquele bar outras vezes, mas nunca mais te vi. Queria te dar um beijo, um beijo profundo e profano, sei que iria entender. Sei que um dia te encontro por aí nos bares e esquinas da vida. Quem sabe eu não tenha te libertado de algo também?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

(des)encontro

500 days of summer




- Nossa, oi.
- (...) O-oi.
(silêncio constrangedor)
- Faz tempo, né?
- Dois anos.
- É... é tempo. Você não mudou quase nada.
- Mudei, mudei muito.
- É, está mais magra, o cabelo um pouco mais curto.
-Não é desse tipo de mudança que eu falo. Você sempre foi ruim nisso.
-(...). Não sabia que estava pela cidade.
- Só de passagem. Não esperava te encontrar tomando café, você nunca gostou de café.
- Foi uma forma de matar a saudades que tinha de você, quando partiu.
- Ainda sente saudades?
- Estou tomando café, não estou? E você, sente minha falta?
- Sinto. Já senti mais. Fico feliz em sentir menos a cada dia.
- Dois anos. Nunca acreditei que você iria embora.
- Você não falou para eu sumir da sua vida, desaparecer, não deixar vestígios? Eu fui.
- Foi da boca pra fora, você sabe. Eu só precisava de um tempo, colocar as coisas no lugar.
- Tempo não existe. E você não me impediu.
- Você sabe que sempre fui orgulhoso. Mas eu te procurei, e como, você nem imagina.
- Me procurar em outros corpos, em outras bocas, em um copo de café, não conta.
- Não seja cruel, amarga.
- Me desculpa. Não tem como não ser, quando a gente tem que ir embora com um amor dentro de si.
- Ainda tem amor?
- Tenho.
- Me ama?
- Não a você, mas alguém que você foi, mas que só existe na lembrança.
- Eu posso voltar a ser.
- Não pode. Não voltou, deixou eu ir. Melhor não se iludir.
(Levantou para sair)
- Espera! Se eu te der um beijo, algo muda?
- Eu estava aí do seu lado, até agora. Beijo não se pede não, acontece. Não aconteceu, você sempre fica na espera, vejo que você não mudou nada.
(Saiu, sem olhar para trás. Ele ficou paralisado. De novo, deixou-a ir.)




“Se ao menos - você me amasse um pouco, não estaria aqui e agora, neste bar, sozinho, longe de você e de mim” Caio Fernando Abreu.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Livros, livros.

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Já fui uma princesa atrapalhada nas mãos de Meg Cabot. Conheci um universo mágico, participei de muitas aventuras, e esperei minha carta para Hogwarts graças a J.K. Rowlling. Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector acompanham os mais íntimos dos meus sentimentos: descrevem aquilo que sinto na alma, me inspiram, me acompanham – ou será que eu acompanho eles?


Tive amores de tirar o folego, descritos por Nicholas Sparks. Falei verdades, fui até um pouco profana, porém muito verdadeira, com as palaras de Tati Bernardi. Martha Medeiros me mostrou como é gostoso nosso cotidiano, e que surtar de vez em quando é bom, muito bom. Agatha Christie me fez desvendar crimes espetaculares. Drummond, Meireles, Shakespeare, Hilst, Jabor e tantos outros me emocionam, me fazem viajar, reletir, ter raiva, sonhar. Através deles pude ter muitas vidas, me aventurar em várias histórias, morrer e reviver tantas vezes.


Pobre daquele que acha que ler é chato. Tenho pena daqueles que ainda não mergulharam na leitura, que não sabe prazer de ter em mãos aquele livro tão esperado, de sentir o cheiro - sim, eu adoro os cheiros do meus livros, de devorar as páginas. Não sabem o que estão perdendo.




Obs. Hoje começa a semana nacional da leitura, dia 29 é o dia nacional do livro. Espero que as pessoas se despertem mais para o prazer de uma boa leitura.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Caixa.

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Mania de guardar coisas numa caixa. Se é que pode chamar de ‘coisas’ as mais profundas lembranças que ficam ali. Aquela caixa de papelão, já meio desbotada e amassada – também faz tanto tempo não é mesmo? É como se pelas paredes de papelão não pudessem vazar nenhuma das lembranças aprisionadas.. Como se elas não existissem, enquanto adormeciam ali dentro. Aqui dentro também.


Volta e meia abria a caixa. Certa vez foi no meio da noite, quando um sonho terrível veio e fez pensar: esqueceu, esqueceu de tudo, tem outra vida já. Então a caixa teve que ser aberta, para ver você ali parado, com seu sorriso congelado, olhando para a câmera. Por que será que você sorria? Talvez fosse o momento. Mas já estava desbotado.


Outra vez a vontade de abrir a caixa veio junto com uma vontade imensa de chorar. Dessa vez não foi a foto que teve que ser livre, mas as palavras que você colocou no papel. Não foram lidas, e sim devoradas de uma vez. Acalmou, acalmou. Novamente foram para o fundo da caixa, guardada no fundo do armário.


Ali dentro também tinha bilhetes de cinema, uma folha seca, um guardanapo de um bar, sabonete de um hotel nos Alpes (mentira, um hotel de logo ali, mas a imaginação que você tinha ia longe). Coisas e mais coisas, simples, feias, bonitas, mas todas com algum significado, uma história.


Todas na caixa. Tinha mania de guardar essas coisas. Se é que se pode chamar de coisas. Foi um tempo bom, nada precisava ficar guardado por paredes de papelão barato. Suspirou, tapou a caixa. Guardou você.


(até que a caixa necessitasse ser aberta de novo. Cada vez com menos freqüência, observava).