terça-feira, 23 de agosto de 2016

Deep Blue Sea



Seus olhos de mar me perturbam desde que os vi pela primeira vez. Eu, que me julgava bom marinheiro, tive medo de  navegar – Talvez porque relutava em aceitar que era hora de tirar o navio do porto, içar velas e me jogar em teus mistérios. Não, não me julgue – é sempre difícil enveredar em águas que você não conhece, ainda mais quando se sabe que são profundas e intensas como você. Alma de mar e pés na terra, assim como eu. Se sou espelho, como me enxergas? Será que vê além, será que seus olhos profundos conseguem perceber o profundo que há através dos meus mundos? O que será que será?

Não sei, eis me aqui, navegando. Soprei a vela e na escuridão pude enxergar com clareza – Na brisa fria da noite, da solidão, na brisa fria que vem do mar, aceito minha condição. Vou seguindo sua imensidão sem saber pra onde nem porque, mas vou. E agora que já tirei os pés da terra e admiti minha condição, me deleito com o não saber o rumo das coisas, não saber nem se há coisas entre nós. Nós de marinheiro costumam ser fortes. Você abraça como um nó de marinheiro que não consigo desatar.

Você chega em meu pensamento como ondas em dias de ressaca – ultrapassa os limites que criei, entrega tesouros escondidos em suas profundezas e depois volta para sua calmaria. Eu tentava controlar as ondas, mas como bom marinheiro deveria saber que não se controle o mar, aprende-se a navegar com ele. Ou então, aprecia de longe, sem saber onde ele poderia levar. Agora que me joguei, agora que aceitei, continuo não sabendo. Não sei se há coisas entre nós, laços e abraços, sei que há mar entre nós e que talvez amar entre nós seja juntar nossas águas sem forçar, sem falar, sem.
Apenas sentir.


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