Seus olhos de mar me perturbam desde que os vi pela primeira
vez. Eu, que me julgava bom marinheiro, tive medo de navegar – Talvez porque relutava em aceitar
que era hora de tirar o navio do porto, içar velas e me jogar em teus
mistérios. Não, não me julgue – é sempre difícil enveredar em águas que você
não conhece, ainda mais quando se sabe que são profundas e intensas como você.
Alma de mar e pés na terra, assim como eu. Se sou espelho, como me enxergas?
Será que vê além, será que seus olhos profundos conseguem perceber o profundo
que há através dos meus mundos? O que será que será?
Não sei, eis me aqui, navegando. Soprei a vela e na
escuridão pude enxergar com clareza – Na brisa fria da noite, da solidão, na
brisa fria que vem do mar, aceito minha condição. Vou seguindo sua imensidão
sem saber pra onde nem porque, mas vou. E agora que já tirei os pés da terra e
admiti minha condição, me deleito com o não saber o rumo das coisas, não saber
nem se há coisas entre nós. Nós de marinheiro costumam ser fortes. Você abraça
como um nó de marinheiro que não consigo desatar.
Você chega em meu pensamento como ondas em dias de ressaca –
ultrapassa os limites que criei, entrega tesouros escondidos em suas
profundezas e depois volta para sua calmaria. Eu tentava controlar as ondas, mas
como bom marinheiro deveria saber que não se controle o mar, aprende-se a
navegar com ele. Ou então, aprecia de longe, sem saber onde ele poderia levar.
Agora que me joguei, agora que aceitei, continuo não sabendo. Não sei se há
coisas entre nós, laços e abraços, sei que há mar entre nós e que talvez amar
entre nós seja juntar nossas águas sem forçar, sem falar, sem.
Apenas sentir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário