Andava na rua, no frio, alheia a tudo. A garoa teimosa caia, e o dia estava
pateticamente cinza.
Em passos apressados, ia a lugar nenhum. Viu uma doceria que parecia aconchegante, tudo que precisava era tomar um bom café pra colocar as idéias no lugar. Não hesitou em entrar. Mesmo com seu jeito enfático, ninguém pareceu notar sua presença. Ninguém se moveu. Era tudo meio cinza lá dentro também, mas era quente. O cheiro de café fresco e os doces na vitrine, convidativos. Sentou-se em uma das mesas com a toalha xadrez desbotada, e escolheu um capuccino tipo italiano com chantilly.
Enquanto esperava observava as pessoas afundadas em seus jornais lendo as rotineiras notícias de violência com um mesmo ar inexpressível de quem lê horóscopo. Era assim que acontecia, todos os dias a mesma coisa, e todos nós conformados, pensou. Mas assim que chegou seu capuccino, numa visão deslumbrante de chantilly derretendo, esqueceu de tudo.
Quando o paladar pode sentir o gosto perfeito do café com chocolate, ela sentiu como se não houvesse mais nada a se preocupar. Esqueceu dos próprios problemas que a faziam andar na rua num dia de garoa, problemas que julgava serem os maiores do mundo. Enquanto bebericava lentamente o capuccino, ia pensando que não havia graça em viver. Não tinha as roupas que desejava, brigara com os pais porque os mesmos não a deixavam voltar de madrugada as festas, e tinha um namorado por conveniência, que parecia nem ligar para sua existência. Mas algo a tirou de seu mundinho imperfeito: mãos pequenas e unhas sujas, que ofertavam jujubas.
Ao ver as mãos, observou tudo, os pés com chinelos, as roupas surradas e úmidas, os olhos. Os olhos brilhantes, mas um brilho de súplica. Encarou esses pequenos olhos, bem no fundo, e foi como se algo a tivesse despertado para o mundo. O mundo real, onde os problemas vão muito além de brigas com namorados ou preço de sapatos.
Ali na sua frente a realidade crua, nua, vendendo nada mais que jujubas, com um sentimento de culpa por estar tentando sobreviver.
Encarou o olhos.
Não comprou jujubas. Não pode.
Num ápice, abraçou o menino sujo. Assustado, hesitou por um momento, mas cedeu.
Ali, em uma cena que soava a compaixão, duas pessoas ganharam o mundo. A menina, por perceber que existe algo além de seus próprios caprichos, e o menino por saber que apesar de tudo, não se pode deixar perder o amor a vida.
Quando largou o menino, o brilho nos olhos dele já não era de súplica: mas sim de esperança.
Apressadamente, ela pagou o café, pagou um café para o menino, e foi-se.
E, apesar da garoa teimosa, nada parecia mais cinza.
(E o menino, quase sem entender, sorriu. Não vendeu Jujubas, vendeu realidade).
pateticamente cinza.
Em passos apressados, ia a lugar nenhum. Viu uma doceria que parecia aconchegante, tudo que precisava era tomar um bom café pra colocar as idéias no lugar. Não hesitou em entrar. Mesmo com seu jeito enfático, ninguém pareceu notar sua presença. Ninguém se moveu. Era tudo meio cinza lá dentro também, mas era quente. O cheiro de café fresco e os doces na vitrine, convidativos. Sentou-se em uma das mesas com a toalha xadrez desbotada, e escolheu um capuccino tipo italiano com chantilly.
Enquanto esperava observava as pessoas afundadas em seus jornais lendo as rotineiras notícias de violência com um mesmo ar inexpressível de quem lê horóscopo. Era assim que acontecia, todos os dias a mesma coisa, e todos nós conformados, pensou. Mas assim que chegou seu capuccino, numa visão deslumbrante de chantilly derretendo, esqueceu de tudo.
Quando o paladar pode sentir o gosto perfeito do café com chocolate, ela sentiu como se não houvesse mais nada a se preocupar. Esqueceu dos próprios problemas que a faziam andar na rua num dia de garoa, problemas que julgava serem os maiores do mundo. Enquanto bebericava lentamente o capuccino, ia pensando que não havia graça em viver. Não tinha as roupas que desejava, brigara com os pais porque os mesmos não a deixavam voltar de madrugada as festas, e tinha um namorado por conveniência, que parecia nem ligar para sua existência. Mas algo a tirou de seu mundinho imperfeito: mãos pequenas e unhas sujas, que ofertavam jujubas.
Ao ver as mãos, observou tudo, os pés com chinelos, as roupas surradas e úmidas, os olhos. Os olhos brilhantes, mas um brilho de súplica. Encarou esses pequenos olhos, bem no fundo, e foi como se algo a tivesse despertado para o mundo. O mundo real, onde os problemas vão muito além de brigas com namorados ou preço de sapatos.
Ali na sua frente a realidade crua, nua, vendendo nada mais que jujubas, com um sentimento de culpa por estar tentando sobreviver.
Encarou o olhos.
Não comprou jujubas. Não pode.
Num ápice, abraçou o menino sujo. Assustado, hesitou por um momento, mas cedeu.
Ali, em uma cena que soava a compaixão, duas pessoas ganharam o mundo. A menina, por perceber que existe algo além de seus próprios caprichos, e o menino por saber que apesar de tudo, não se pode deixar perder o amor a vida.
Quando largou o menino, o brilho nos olhos dele já não era de súplica: mas sim de esperança.
Apressadamente, ela pagou o café, pagou um café para o menino, e foi-se.
E, apesar da garoa teimosa, nada parecia mais cinza.
(E o menino, quase sem entender, sorriu. Não vendeu Jujubas, vendeu realidade).
13 comentários:
Olha, eu queria comentar, mas não consegui.
Muito bonito seu texto!
Sem comentários...
"...Vendeu realidade."
Obra prima!
Bejo.
Quem me dera que durante os quinze minutos do primeiro intervalo, enquanto eu tomo um café no sofá azul e gordo da biblioteca, reclamando de ter tirado sete e meio em uma prova valendo nove com medo de não entrar na usp de medicina para comprar um Manolo, um garotinho viesse me vender jujubas.
muito perfeito esse texto, realmente tem muitas pessoas que precisam comprar realidade *:
Lindo continho. E uma delícia de se ler nesse domingo frio.
Lindo blog.
pô
minha primeira vez aqui
e eu adorei demais teu blog!
o conto é lindíssimo, e meu deu uma vontade de tomar café e comer chocolate que você não imagina...haha...
voltarei mais vezes!
adorei
fica bem :*
eiii
to de volta
espero que lembre do meu blog
hihi
adorei o conto
parabens
embrve vou postar algumas cronicas minhas
hihihi
=*
Sem comentários!
Lindo texto!
Beijo*
eu nao sei,mas acho que nao quero ocmprar realidade!
ela e dura demais,feia demais,violenta demais!
tem sonho?qnto custa?
a realidade me estressa.. prefiro surfar na maionese...rs
+ parabéns pelo texto muito bom
beijokas
Criiis ! Sim, sou eu: a Biti !
AêÊ..
Fiz um blog, só não sei se vou manter por muito tempo! AHAHHA
Volte para o seu falando nisso..
Te Amo !
Muito bonito!
E é bem verdade: volta e meia um desses meninos e meninas me trazem de volta à realidade.
Sensacional....fantastico...lindo e tocante....gostei muiro do seu texto...por favor continue escrvendo "realidade"
Lindo.
Chorei aqui...
Espero que tenha acontecido mesmo... :-)
Beijo!
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