Escrito ao som de Cícero. |
Se pudesse descrever, seria azul. Me senti azul, tinha uma
trilha sonora também, apenas um violão tocando ao fundo, com os acordes
combinando com seu toque na minha pele, tão familiar. Queria poder descrever os
olhos teus nos olhos meus, o silêncio da sua respiração arrepiando minha pele,
o calor da rua misturado com meu próprio
calor. Nessa rua que, veja só, era a minha mas também não era mais, assim como
você foi meu e também não é mais. Mais ainda assim a cor era azul – já
desbotamos, você se lembra?
Não tenho como te explicar como senti, mas digo mesmo assim.
Pense que você passou a infância toda numa casa e depois de anos volta para lá.
Cada cômodo guarda uma lembrança boa, você deita no chão com os braços abertos
e olha para o teto, os anos passam em segundos na sua mente. Você não quer sair
dali, tudo é dolorosamente familiar e
tem um gosto bom, pouco importa se naquele mesmo cômodo você já tenha chorado,
caído, sangrado – o que ficou impregnado naquele carpete velho foi só a mancha
do sorvete preferido e as risadas perdidas de outrora. Mas ali não é mais seu
lar. Isso de certa forma dói, mas veja só, sua casa é outra agora. Você é
grande demais para aquilo tudo, não cabe mais ali.
É isso, me entende? É isso. Somos os mesmos, mas não somos
iguais. Minha casa já não é mais a sua, já não é mais você, já não cabe mais.
Isso que eu queria te dizer naquele pequeno espaço de tempo que dividíamos,
sugando cada segundo como se fossem os últimos, e eram, e sabíamos que não
seriam mais, foi como se houvesse uma brecha no tempo em que tudo pudesse ser
permitido e não parecesse errado, como se a gente nunca tivesse errado ou que
nosso erro fosse não tivéssemos tentado mais e mais.
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