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Leo Fressato, veranizar. |
Dizem que já superaram um ao
outro. Seguem suas vidas, paralelas, sem se encontrar em becos, nem ruelas. Ele,
Jobim, ela rock. Ele, carmim, ela rosa-choque. Os dois, paralelos, ela com a
luz do abajur acesa fuma sem parar, ele trepa (assim, vulgar) com uma Maria sem
nome. Ela, independente, ele, um tanto carente,
seguem suas vidas de um jeito, distante,
ausentes. Dizem que já superaram, mas suspiram e esperam por notícias um
do outro, ainda que de um jeito discreto. Secretos, se encontram em
pensamentos. Ele sempre atento, ela um tanto distante, ele, um acalento, pra
ela, tudo apavorante.
Ele Sampa, ela Rio. Mas ele tem um
corpo quente agora, e ela um quarto vazio. Ela pensa, repensa, vira de um lado
pro outro. Ele afaga, suspira, esmaga, goza, se cansa e depois se sente um cara
morto. É só desejo, ele pensa, passa a mão em seus cabelos morenos. É só insônia, ela pensa, e fuma mais um
cigarro no sereno. Porque já superaram
um ao outro, e eram estranhos agora. Mas lá fora, ainda que tudo seja solidão,
ela sente uma presença. Lá dentro, embora tenha companhia, ele sente-se
esmagado pela ausência.
No prédio dela, luzes se apagam e
se acedem sem parar, e ela pensa no que ele estaria fazendo. Em sua casinha,
longe de tudo, ele vai até a janela e se trai pensando nela. Seu suor ainda
está escorrendo. Ela gostaria de sair correndo, gritar, arrancar isso pra fora.
Ele, lá fora, gostaria de não ter corrido, e sente que precisava dela nesse
instante, tipo assim, agora.
Ela chora. Ele da uma risada
nervosa. Ela apaga o cigarro, a luz, e
volta para o seu mundo. Ele acende um cigarro,
a luz, e fica mudo. De repente, ela, no Jobim. Ele coloca baixo um rock.
Ela passa um pouco de batom carmim, ele observa as calcinhas jogadas em seu
chão, veja só! São rosa-choque. Quase pegam o telefone. Quase ligam para não
dizer nada um para o outro. Ele Sampa, ela Rio. Ele quente, ela frio. Ele
volta, ela dorme. Afinal, já eles já se superaram.
(Mas, pensam os dois sem querer,
será mesmo que acabaram? Se esgotaram, por fim. Nem mais rock, nem carmim.)