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Linda, bem sucedida, um bom carro, sempre na moda. Confiante, falando no celular, palavras difíceis, alguma expressão e, inglês, anyway.
Algum namorado, nada de filhos – por ora. Sapatos e bolsas intermináveis no armário, cremes e mais cremes no banheiro.
Era moderna, sabia. Poderia ilustrar um outdoor com seu sorriso mais brilhante servindo de exemplo de mulher de sucesso.
Tinha 30. Ok, 32. Já tinha que usar ‘renew’, mas quem se importava? Ela passava por 27, fácil fácil com um pouco de pó-blush-base-batom.
Quando passava na rua, arrancava alguns olhares, dos homens de admiração, das mulheres de um pouco de inveja – como ela era magra, e aquele sapato!
Mas chegava em casa e descia do salto.
Ninguém sabia, mas ela tinha um pote de sorvete, e ás vezes - com mais freqüência que gostaria, na verdade- usava ele. Usava também chocolate, via filmes românticos-bregas e chorava, seu pijama preferido não era a camisola sexy que usava em ocasiões especiais, mas sim uma camiseta velha. E uma calcinha grande.
Ela cantava Tetê Espíndola bem alto e desafinado, e depois caia na risada. Abraçava o cachorro – o de quatro patas nessa hora – se imaginava no altar de véu e grinalda, se imaginava menos casual, se imaginava mais de mãos dadas – com suspiros e passeios no shopping – queria dormir de conchinha, tão logo abraçava seu ursinho de pelúcia que ganhara daquele cafejeste que mais amou quando tinha 16 anos. Porque quando temos 16 anos é tudo tão mais intenso e pra sempre e dolorido. Quando foi que deixou de ter 16 anos mesmo?
Ah em casa ela podia ter os cabelos bagunçados, não se preocupar com maquiagem, chorar, rir, chorar de novo, admitir que erra e errar novamente, pois isso nos torna mais humanos. Ah, em casa.
Depois na segunda-feira-de-todo-dia colocava a máscara inteira novamente. Mas ria-se toda por debaixo dela, e iria um dia conseguir alguém para rir-se todo com ela- ela real – também.