quarta-feira, 15 de julho de 2009
Sentido.
Eu brincava que você era meu.
Quando eu te via, tudo mais era preto-branco, eu só enxergava seu cheiro, só sentia tuas cores, só ouvia teu calor, só me aquecia com a tua voz.
Tudo bagunçava meus sentidos, minha razão, minha lógica.
E eu, sempre tão forte, tão ao acaso, só via os outros como mera distração, diversão até. Mas com você por perto eu viro do avesso.
Você senta do meu lado, eu estremeço por dentro. Você percebe, se atreve, chega mais perto, eu quase quase posso sentir que você é meu, mas penso o quão isso é irreal.
Eu sou tão comum.
Você, tão surreal.
Mas o mundo é tão ilógico.
E então, no meio dos meus secretos devaneios o seu lábio encontra o meu.
Sonhei?
Não.
Em silencio nos damos a mão. Você me sorriu.
Eu sorri de volta: não precisava ter brincado, você já era meu.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Inverno.
A gente começa a tirar os casacos empoeirados do armário. O toddy (que é bem melhor que nescau) geladinho é trocado por um chocolate-quente.
Em casa, não estamos nem aí, o que mais nos importa é ficar aquecido. Nada de glamour: visto um casaco velho, manchado, porém muito aconchegante, meia-calça e calça do pijama que era da mamãe.
Dizem que é a estação em que a gente se veste mais chique, mas não sei onde isso se enquadra a mim: o que me deixa mais arrumada, me faz passar frio. Se quero ficar quentinha, acabo saindo de casaco, calça e tênis. As vezes bota, mas ela nem combina muito com meu melhor casaco.
Nessa estação que tenho inveja das pessoas que tem namorado, principalmente nos sábados a noite, que são frios demais pra sair, então eu acabo passando sozinha enrolada no cobertor, vendo zorra total. Da vontade de ligar pra aquele cafajeste bonitão que toda menina conhece, mas ai meu senso fala mais alto. Desligo a Zorra-Total e vou dormir (não sem antes devorar uma barra de chocolate, pois quem nem tem um, compensa com outro, se é que você me entende.)
Mas, apesar dos pesares, eu gosto muito do inverno. Mais que do verão, talvez. É bom sentir aquele ventinho gelado no rosto, é bom esquentar a alma com um bom café. É bom não ter que ficar suando, como no verão. Nem ficar ouvindo axé e funk a toa. Nem ter que agüentar pessoas dançando na rua, ou meninas magrinhas exibindo seu corpitcho. No inverno todo mundo parece gordinho mesmo.
Então, que venha o inverno!
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Cheiro.
Senti seu cheiro, e de súbito parei. Não esperava por essa.
De repente as cicatrizes arderam, talvez até sangraram um pouco por dentro, não sei. Mas era seu cheiro, e eu não pude evitar. Não pude colocar a minha armadura. Foi o destino me atacando pelas costas.
Olhei em volta de boba que sou, pois sabia que era impossível de você estar ali. Eu fui embora, lembra? Fui pra longe.
Coloquei band-aid nas feridas e fui, e achei até que já tinha tudo cicatrizado, mas percebi que eu sou tão boa mentirosa que menti pra mim mesma. Eu podia sentir a dor de novo.
Eu sentei. Agora além de seu cheiro, era como se eu te ouvisse também, sussurrando palavras doces no meu ouvido, só porque você sabia que isso me deixava arrepiada. Eu olhava pra você, e você sorria com ironia, mas uma ironia inocente. Eu achava que seria pra sempre, você me disse que seria.
Mas não foi. Não existe pra sempre, nós tínhamos inventado aquilo.
Respirei fundo, como pra captar um outro cheiro e esquecer do seu. Não funcionou. Respirei fundo novamente, mas dessa vez pra sentir melhor o seu cheiro, pra se lembrar de como fomos felizes, das tardes inteiras que passamos juntos, rindo por coisas banais, abraçados. Pra se lembrar de como me sentia segura do seu lado. Mas sem querer lembrei-me também porque agora estava sozinha. Pura e simplesmente a magia havia acabado, foi-se cada um pra um lado, eu não queria mais te ver, você me disse tchau sem nem olhar no meu olho.
Tensa, tapei a respiração. Fechei forte o olho, eu havia prometido a mim mesma guardar somente os momentos felizes, mas nem tudo era fácil.
Já quase sem fôlego, levantei, respirei bem fundo, enchi o pulmão de ar, já sem diferir cheiro nenhum. Melhor assim.
Sai correndo, sem olhar pra trás.