terça-feira, 17 de maio de 2011

É tempo.

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E eu não podia acreditar. Vinte anos depois, vinte anos apenas com notícias vagas- algum comentário de alguém, Casamento? Outro país? Puxa parecia que você nunca tinha existido – estamos aqui, de frente um para o outro, por acaso. O acaso, que coisa mais estranha não? Olho para você mas não sei quem vejo. Algumas rugas, bem menos cabelos, um olhar cansado. Você deve estar me estudando também.
Não falamos nada, não sei por quanto tempo. Vinte anos! É tempo demais. Onde foi que nos perdemos desse jeito?

- Éramos jovens demais. Quantos anos você tinha? 16? Eu tinha 20. Jovens demais. 

Sua voz me lembra um pouco a que eu gostava tanto ouvir. Aquela voz que me dizia coisas com a palavra amor e para sempre. Mas éramos jovens demais, dizia você neste momento.
Quem é você? 

- O que estamos fazendo aqui? É engraçado. Não acho que éramos jovens demais. Apenas nos perdermos. Eu amava você. Amor não tem idade, nem fronteiras.

Você engoliu a seco. O que passava na sua cabeça? Na minha passava um filme de nós dois, algo distante, algo que guardava no fundo da minha gaveta mais empoeirada. Depois eu sentia algo como amargura. Porque você foi embora? Porque seguiu seus pais? Não poderia ficar? Eu não era o suficiente para arriscar.
Éramos jovens demais, foi o que você disse. E se foi. Tanto tempo depois, era o que você continuava dizendo.

- Eu... Não sei o que dizer. É que

- Não diga então – falei. – Deixa assim. Vinte anos, é tempo.

- Não quero que fique nenhuma amargura. Pensei em você, acredite. Me arrependi. Quis voltar.
 
- Mas não voltou. 

- Estou aqui.

- Uma coincidência.

O ar estava tão denso, pesado. Eram tantas coisas a serem ditas. O quanto chorei, o quanto quis te ter, não entendi, me revoltei, aceitei, senti sua falta novamente. Você estava sempre em mim de alguma forma, adormecido. E agora nesse café brega, você está aqui, na minha frente, e eu não sei o que dizer.

- Não fala assim – sua voz era lenta, quase letárgica.

Apenas olhei, bem no fundo daqueles olhos azuis-quase-verdes que tanto me atormentaram durante anos. Olhei, levantei e saí. Você apenas me acompanhou olhando em silêncio.
Não valia a pena. Deixei com você ali o passado, as frustrações, um pingo de amor que ainda me restava e um café pela metade. Não paguei o café. Você que pagasse afinal. Você que pagasse tudo.