domingo, 28 de fevereiro de 2010

Outrora.


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Se tem que durar, não sei. Que dure pra sempre por hoje, outrora quem sabe, outra hora talvez, não sei.
Já pensei demais no futuro, e deixei de aproveitar o hoje, e agora só o que lembro é de um passado desajeitado, por sentimentos tortos que não soubemos aproveitar.
Um dia você se foi, eu me fui. Hoje alguém apareceu, e não, não quero deixar ir devido ao medo do que pode acontecer.
Não precisa durar.
Mas que fique assim, só entre nós, num sussurro.
Que o eterno fique assim, no arrepio que eu sinto quando você fala suave, baixinho, no pé do ouvido.
Ou quando você sorri e me olha.
Ou quando você me abraça e o mundo para.
Amanhã? Quem sabe. Só sei que hoje estou sendo feliz.
Outra hora, talvez, não sei.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma metáfora de sapatos.




Quando viu aquele sapato, foi amor a primeira vista. Era tudo que ela queria e mais um pouco. Bonito demais, parecia inacessível.
Passava todos os dias em frente a vitrine, para admirar o sapato. Este, admirada por muitas, logo seria levado embora, pensava ela.
Mas um dia ela conseguiu o sapato.Não acreditou.
E ele se encaixou perfeitamente nela. Lindo, confortável. A fazia se sentir segura, protegia ela das pedras do caminho. Todas invejavam seu sapato, queriam um igual. Tentaram – e como – roubar seu sapato, mas este permanecia fiel ao encalço da garota.
Mas ele foi ficando velho, gasto. Foi apertando o pé da menina.
Fazendo calos.
Mas ainda assim, a menina não queria se desfazer dele, estavam juntos a tanto tempo, veja só. Não poderia simplesmente comprar um sapato novo (que ultraje! Ele era insubstituível).
E assim ela seguia, andando miudinho para o sapato não reclamar.
E ela fazia de tudo pra ele permanecer intacto.
Mas um dia, um dia de descuido talvez – ela tentava não se culpar - viu o sapato, o seu sapato! em outro pé. E ele estava radiante, parecia novo, e a nova dona mais feliz, mais bela. Então ela olhou para seus pés descalços, com bolhas, machucado. Quis chorar, mas mexeu seus dedos em liberdade, e pode sentir que andar descalça também era bom.
Mas ela não gostava, precisava de um sapato novo. Mas algum sapato aberto, que lhe desse liberdade. Algum sapato menos sofisticado, mais novo, descontraído.
Então, enquanto se decidia, resolver comprar chinelos. E seguia feliz, livre – mais nem tão livre- por aí.


Obs. Visto chinelos no momento. Mas também gosto de sentir meus pés no chão.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cozinha.


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Ela estava cortando cebolas e cantarolando algo inaudível, totalmente absorta e concentrada. Usava apenas calcinha – quase um shorts na verdade - e uma blusa velha dele, os cabelos estavam desgrenhados e presos de qualquer jeito, com uma mecha que cismava em cair no olho, e puxa, como ela ficava sexy desse jeito, pensou ele.
Na noite anterior ela estava linda, impecável. Vestida de preto, um vestido simples, mas que encaixava perfeitamente nela, como se fosse parte dela, um terceiro braço ou algo assim. Ele segurava nervosamente sua mão, enquanto ela ria e enchia o ambiente de descontração só por simplesmente ser ela. E ele só pensava ‘ seu idiota, está amando. Você ama ela. Por que não assume?’.
Mas agora nessa manhã de domingo ela estava ainda mais linda. E ele tinha ainda mais certeza.
Ela olhou pra ele por instantes, ela o amava. Sorriram um para o outro.
- O arroz está pronto, ela disse.
Ele chegou perto, tocou seu rosto. Se beijaram lentamente, com medo que tudo acabasse. Fizeram amor ali mesmo, na cozinha. Amor, não sexo dessa vez.
- Eu te amo.
Foi ela quem disse.
Ele apenas beijou sua boca.
Porque ele sabia que a amava, mas era tolo o bastante pra admitir.

Ele estava na cozinha picando cebolas. Não cantarolava. Vestia qualquer coisa. Estava sozinho.
Passou-se algum tempo desde aquela tarde de domingo.
Aquela tarde em que ela entregou seus sentimentos, ele apenas se calou.
Agora, deixara tudo escapar, não tinha como voltar atrás e berrar o quanto a amava, alguém já fazia isso em seu lugar.

O arroz queimou.

E ele resolveu deixar tudo como estava. Mais uma vez.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rain;


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Ainda de olhos fechados escutou o barulho da chuva e não acreditou. Ficou com medo de levantar e ter apenas imaginado, mas quando sentiu o cheiro –seu cheiro preferido- de terra molhada sabia que era verdade. Foi correndo então fazer um café bem forte, só pra poder beber lentamente, de olhos fechados, enquanto ouvia o barulho e sentia o cheiro. Não sabia bem ao certo quanto tempo ficava assim, no seu mundo, mas amava ter esse momento.
Isso a fazia esquecer de tanta coisa.
Ela era abstrata. Diferente. Não ouvia as músicas da moda, não gostava dos artistas do momento, não gostava do sol. Preferia o frio, as tardes em silêncio ouvindo o som da chuva junto com o som de uma boa música.
Logo correndo foi buscar seu livro de romance favorito, afinal estava chovendo lá fora. Adorava romances, já que podia viver a história dos outros como se fosse a sua.
Não, não que ela não tivesse uma história para viver. Afinal, quem não tinha? Até os mais pobres de sentimentos (e isso ela não era, com toda certeza) já amaram um dia. Ou amam e sabotam o amor com outros sentimentos duros, várias pessoas fazem isso. Ah, mas ela não, a estranha. Ela amava, amava de seu jeito livre e descontraído, leve como a chuva que caia na rua. Nem sempre tinha certeza de quem amava, do que amava. Já tinha se apaixonado por sorrisos, já tinha se apaixonado por um abraço, já tinha se apaixonado virtualmente também, se apaixonado por quem mora longe. É porque ela se permitia viver o amor sem medo de rotular isso, sem medo de perder sua liberdade.
Nunca concordou com o papo de que amor dura pra sempre, o resto é paixão. Não. Amor pode durar segundos, pode durar uma chuva, secar com o sol e dar lugar novamente a um outro tipo de amor. Ninguém conhece o amor suficiente para poder ter certeza, a gente nunca tem, e por isso ele é encantador desse jeito. E pode sim, um dia durar pra sempre, mas sem desmerecer os outros amores menos intensos, ou longos.
Deu um suspiro, comeu um doce, respirou fundo, cantarolou a música do rádio, pensou no abraço (e estremeceu), ouviu mais uma vez o barulho da chuva. Ventava também, que dia perfeito.
Então, ela sorriu, sorriu e só.
Ela era estranha afinal.
E correu para o meio do quintal, soltou os cabelos e tomou banho de chuva, sem medo.
Porque ela não tinha medo de se encharcar de sentimentos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Plebéia.


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Banhos de chuva com beijos apaixonados. Correr na areia, tropeçar e se beijar na beira do mar. Rolar na grama. Observar o por do sol com a cabeça encostada nos ombros dele. Ser acordada com ele tocando violão.
Ele aliás, tão perfeito. Corpo atlético, sorriso alinhado, cabelos enrolados e bagunçados, olhos azuis (sim, eu tenho uma certa fixação por olhos azuis e cabelos enrolados), e o melhor de tudo: só tem olhos para você . Não cansa de dizer o quanto a ama, de te encher de beijos, presentes, bilhetes.
Pena que isso tudo é sonho. Quem nunca sonhou com o cara perfeito, o relacionamento perfeito? O problema é quando deixamos o sonho ofuscar a realidade. Estamos tão preocupada com a busca implacável pelo príncipe encantado em seu porche vermelho (afinal ninguém mais anda de cavalo branco), que ás vezes deixamos passar algum plebeu de fusquinha, que nos faria igualmente felizes. Sendo mais direta e menos metafórica, deixamos o sonho ofuscar a realidade.
É bom sonhar, claro que é. Mais é muito mais legal viver o verdadeiro, saber ponderar os dois.
Não, não desista do seu príncipe sarado do porche vermelho. Mas não se esqueça que ele pode ser o plebeu de fusquinha, afinal a metáfora está nos olhos de quem vê.


Obs. Eu adoro fusquinhas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um tanto quanto clichê.

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Pode ser que seja confusão, apego. Pode ser que seja amor ou medo do futuro.
O difícil é ter certeza sem viver. É que viver ás vezes da medo, viver machuca, então ficamos vivendo uma vida limitada, incompleta, fazendo as coisas com medo de desagradar alguém, com medo de ser rotulada por alguém, com medo de não conseguir, de seguir em frente.
Chega uma hora que devemos escolher pra qual lado do caminho seguir, e da vontade de simplesmente sentar e esperar que tomem a decisão pela gente. É porque é triste pensar nas coisas e pessoas que deixamos pra trás, pensar no que teríamos feito se nossa decisão fosse outra, etc. etc. etc.

Mas vou te contar um segredo: Triste, é deixar as coisas passarem por medo. Triste é não se permitir ser feliz por temer o que os outros vão pensar. Não seja cruel com você, não se limite, apenas viva – não fazendo nada imoral, claro - e se permita ser feliz, escolha seu caminho.
Morra de amores. Se apaixone sem medo diversas vezes, não se prenda ao ciúmes, afinal ninguém é obrigado a estar com ninguém, se a pessoa está com você, é porque ela quer, pense nisso.
Faça coisas sem sentido, tome banho de chuva, cante bem alto sem saber a letra, conte piadas sem-graça e de risadas até a barriga doer. Tenha momentos de fossa, coloque aquele CD do Roberto Carlos que eu sei que você tem escondido em algum lugar e ouça comendo brigadeiro. Detalhes é a minha música favorita pra esse momento. Fique o dia inteiro de pijamas e com o cabelo bagunçado, mas se permita um dia ir no salão e ter seu dia de diva.
Reclame, reclame a beça, mas não faça disso um hábito.

Passe mais tempo com quem você gosta, viva os momentos simples e clichês. Tudo que eu disse até agora, aliás, alguém já te disse, é piegas e você pensou em desistir de ler, mas chegou até aqui e sabe que lá no fundo está morrendo de vontade de fazer tudo isso.

Eu já morri de amores hoje, senti o cheiro da chuva, e tomei meu café devagarzinho só pra poder lembrar de um certo momento com um certo alguém. Olhei pro céu e pensei: sou feliz, e vim aqui escrever isso pra poder contar pra todo mundo.
Aliás, com licença. Vou até ali ver meu filme favorito e dar umas boas risadas em uma tarde quente. Espero que você faça o mesmo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Blues.


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Imaginei que estava frio, mas o céu estava limpo, e eu estava ouvindo um blues enquanto fumava meu cigarro distraidamente sentada no chão da área. Na verdade, talvez estivesse tomando café, ou coca-cola, pois odeio cigarro, apesar de achar que ele tem seu certo glamour.
O cachorro quieto e preto, tão preto quanto a noite solitária que fazia, estava sobre meus pés, compartilhando toda a sua ausência que preenchia aquele espaço.
Seu perfume ainda estava no ar, assim como as palavras soltas que você me disse ainda estavam ao pé do ouvido. Com essa lembrança estremeci, dei mais um trago, um gole ou sei lá, fiz qualquer coisa absurda pra poder esquecer o que berrava para ser lembrando, tão vivo ainda estava.
Aumentei o volume da música, senti mais frio.
O cachorro encostou a cabeça no meu colo.
E nessa hora me lembrei de você saindo da cama, com pressa.
Te amo, você disse. Mas tenho que partir.
Beijou minha mão, e foi.
E eu me recordei que tinha que voltar para a cama vazia.

Apenas imaginei. Talvez tenha sido tudo um sonho nessa tarde quente de verão, onde estou de fato ouvindo blues.
Mas será que esse seu perfume, que senti subitamente, eu também imaginei?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Secreto.


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Estava quieta em meu canto, fazendo coisas normais. Por vez ou outra ouvia uma música linda ou lia algum romance, e desejava que fossem meus, meus sentimentos, mas logo meu coração se aquietava e tudo voltava a ser comum. E não era como se eu não gostasse, porque naquele momento eu sabia que tinha que ser assim. Naquele momento eu tinha que estar em paz comigo mesma (e fora por isso que escolhi usar calcinha branca no ano-novo, apesar de não acreditar muito nessas coisas). Precisava me organizar primeiro, para depois ter tempo para aqueles sentimentos que servem exatamente para nos desorganizar.

Não, eu não queria me apaixonar, mas não pude fazer nada, já que você simplesmente existe.

E essa sua existência – ainda que distante da minha- torna tudo mais difícil.
Torna mais difícil eu fingir que não estou apaixonada por você, torna mais difícil fingir que todas as musicas e todos os filmes e livros e momentos foram feitos para mim, para nós.
Torna quase impossível essa agonia de te esperar. O mês não passa, se arrasta, e eu vou fingindo que está tudo certo, que eu estou normal, e que somos apenas amigos – quando sei que como, e como e como eu gostaria de berrar que somos mais que isso- e vou seguindo rindo das suas piadas, olhando as suas fotos e lembrando com você no telefone do curto momento que nos vimos.

E assim vou seguindo contando secretamente os dias pra te ver de novo. Vou sentindo frio na barriga cada vez que vejo um recado seu, por mais bobo que seja, e fico secretamente magoada quando vou correndo ver se recebi algum recado, e não encontro nada lá.

Nessa hora, quando penso que você me esqueceu, que você está contando as nossas piadas para outra pessoa, e que eu sou somente mais uma lembrança apagada ou um contato qualquer, você me surpreende. Me manda uma mensagem fofa ou e-mail contando as coisas banais do seu dia-a-dia, me fazendo sentir de alguma forma parte dele. Me lembrando que nossa amizade (e no meu desejo mais louco, nosso amor) é mais forte do que qualquer distância, ausência, omissão.

E então você torna a desaparecer por dias.

E no fundo eu não me importo, se for pra você voltar e dizer que pensou em mim quando viu tal coisa, ouviu tal musica, ou que simplesmente sentiu minha falta.
Agora eu estou aqui, longe, vivendo com meus desejos secretos (que quem sabe um dia eu te contarei? Mas prefiro preservar esse mistério, e essa agonia. Ok, na verdade tenho medo de ter perder de vez), e não sei o que você está vivendo.

Mas não faz mal, ainda que você não saiba, estou aqui contando os dias, em uma esperança secreta de um dia não precisar contar mais nada.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Wait For

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E esperei, esperei por tanto tempo. Vi que minha vida era te esperar, esperava e você nunca vinha. Deixei tanta coisa passar, tentei juntar tanta coisa, mas havia – e sempre houve, me dei conta depois- um abismo enorme entre nós.
Mas, o que mais me incomoda, tirando é claro os fins de tardes vazios e as minhas risadas soando como um eco triste na sala vaga, é que você parece não se dar conta. Some por vidas inteiras e depois me olha como se nada tivesse acontecido, ou no caso, deixado de acontecer. Você volta como se minha vida fosse feita de te esperar, como se eu tivesse grudada ao telefone esperando agoniada um telefonema teu.
Mas só que eu aprendi a lição quando ele nunca tocou.
Sim eu amei, amei mesmo. Chorei, sofri, ri, brinquei, e todos os sentimentos mais que vem agregados a esse tal de amor. Deu certo por algum tempo, fomos felizes por algum tempo. Mas agora eu percebo que não dá mais. Chega de ficar inventados sentimentos para substituir os verdadeiros.
Esperei, esperei por tanto tempo. Mas é só que não posso mais. Não me procure então, por favor. Espere até que a espera não seja mais necessária. Quero (re)aprender a lidar com essa tamanha liberdade.